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Sociedade

O lado obscuro dos fansites: Sasaengs

Assim como existem fansites bem intencionados dentro do k-pop, infelizmente também existem fãs que invadem a vida pessoal dos idols.

O termo “sasaeng” vem do vocabulário coreano “sa” (사), que significa “privado(a)”, e “ѕаеng” (생), forma reduzida “saenghwal” (생활), que significa “vida”.

Um sasaeng, como é conhecida o tipo de pessoa que persegue e invade a vida pessoal dos artistas, investe tanto na atividade de seguir seu astro favorito, que acaba sendo reconhecido pelos idols e até pelas agências que cuidam deles.

A aparição desse tipo de fã começou a borbulhar durante a 2º geração dos idols de k-pop. Os membros do TVXQ são famosos pelas histórias com sasaengs. Entre a numerosa lista de invasões à privacidade dos integrantes do grupo, podem ser listadas: implantação de câmeras na garagem do prédio onde os membro residiam; entrega de suco de laranja com cola super potente e perseguição em uma sauna tradicional coreana, com direito a fotos de um dos idols dormindo.

É importante entender que, por se tratar de uma cultura diferente da ocidental, atividades como ir à aeroportos tirar fotos dos artistas desembarcando e acompanhar a agenda oficial, divulgada publicamente, faz parte da rotina considerada normal pelos sul-coreanos. Mas, o limite é ultrapassado quando sasaengs começam a adquirir informações da vida pessoal dos idols, além de invadir suas casas, persegui-los após apresentações e até agredi-los.

Muitos artistas não moram em mansões super-protegidas e com seguranças a cada perímetro da residência, diferente do que ocorre por aqui no ocidente. Devido a essa “brecha” no sistema, as perseguições e invasões acontecem com mais frequência.

Fãs sasaengs atuam dentro de uma rede, bem estruturada, que consegue se manter ativa e lucrativa. Para adquirir informações e conseguir ficar a par da rotina dos artistas, eles entram em empresas de cartões de crédito, de telefonia e até em empresas de aviação. Os dados adquiridos são enviados para outros fãs, em troca de outras informações ou mesmo dinheiro.

Em um depoimento à um redator do portal Soompi, uma sasaeng lamentou para o repórter que apenas queria que seu idol preferido soubesse quem ela era.

“Eu honestamente não quero me casar ou namorar com ele, eu não sou estúpida o suficiente para pensar que isso pode acontecer. Tudo o que eu quero é que ele saiba quem eu sou, saiba meu nome e me reconheça. É tudo o que eu quero, e é por isso que eu faço o que faço”

Declaração da jovem que era dona de um fansite e se esforçava para mantê-lo no ar.


Rede de vendas 

Quem tem interesse em adquirir informações privilegiadas da vida pessoal dos artistas encontra um prato cheio em determinadas redes sociais. A KoreaIN encontrou diversas contas que fazem essa ponte entre os hackers que adquirem dados como de passagens aéreas, telefones celulares e informações sobre relacionamentos pessoais dos astros. A regra é clara: não existe amparo na lei que proíba a barganha dessas informações, mesmo que isso prejudique a vida dos idols.

Os valores, normalmente colocados em dólares, variam de USD10 até USD100, a tabela depende muito do quanto a informação vendida é considerada importante.


O que a lei diz

Desde o ano de 1999, quem cometia algum crime considerado como stalking, perseguir alguém, era punido com uma multa de 72 dólares. Desde então, se passaram aproximadamente 20 anos até que houvesse um desenvolvimento de ações legais que coibissem os autores desses crimes.

Em 2018, foi apresentada pelas autoridades uma mudança na lei que garante uma pena de até três anos e uma multa de 25 mil dólares para os sentenciados. De 2014 para 2017, o número de presos por esse crime cresceu cerca de 46%, segundo o 28º relatório Examination of Government Administration Conference. Em 2017  foram 436 pessoas sentenciadas por essa infração.



Causa e consequência

Para fazer os grupos de k-pop durarem e gerarem lucro, é preciso de fãs, e, pensando nisso, foi construída toda uma imagem onde os idols são vistos como exemplos a serem seguidos e almejados. Pessoas perfeitas que não fazem nada de errado e nunca, em hipótese alguma, seriam capazes de magoar ou mentir para seus fãs.

A verdade, é que essa é uma construção exagerada e irreal que as empresas de entretenimento sul-coreanas construíram ao longo do tempo. A proibição de namoros que as empresas impõem aos artistas, em contrato, e a grande quantidade de fan service, fazem parte do pacote idol que é vendido para o mercado.

Muitas fãs entendem que por investirem tanto de suas vidas ao grupo preferido, eles devem retribuir todo o carinho e amor dado. Ainda é muito comum que quando namoros são expostos, fansites fechem e comentários de ódio são deixados nas redes sociais dos idols. E, além disso é normal que muitas fãs, que fazem parte de fansites, saibam de informações de namoro e afins e mantenham esses segredos para não gerar maior estresse entre as relações que os idols tem com os outros admiradores

Todas essas ações ajudam na perpetuação desse ciclo que é tão comum dentro da hallyu. É válido salientar que a raiz do problema, também pode estar em como a indústria do k-pop se desenvolveu ao longos dos anos. É necessário refletir e problematizar atitudes tóxicas e invasivas para que parem de acontecer.

A ação de sasaengs é prejudicial tanto a vida dos artistas, quanto à suas próprias vidas, não é segredo idols que chegaram a se envolverem em acidentes por estarem sendo perseguidos por sasaengs. Essa relação fã x idol, que era para ser respeitosa e inspiradora, acaba por ser prejudicial para todos que fazem parte dela.

Fontes: (1), (2), (3)
Imagem: reprodução
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  • Yasmin Marcondes

    22 anos, designer e estudante de jornalismo, é apaixonada pela cultura coreana e adora uma boa e clássica farofa do k-pop. faz parte da equipe desde 2015 e ama compartilhar e colaborar na expansão da hallyu wave no Brasil.

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