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MIKY LEE: A magnata do entretenimento sul-coreano

Uma das investidoras por trás do sucesso de Parasita, escrito e dirigido pelo diretor Bong Joon-ho, conheça Miky Lee, a vice-diretora da gigante CJ.



No último domingo (9), o longa metragem de suspense e comédia PARASITA, do diretor Bong Joon-ho, faturou quatro das seis categorias em que concorria no Oscar (Academy Awards), entre elas três das principais, incluindo: Melhor Filme Internacional, Melhor Diretor e, o grande prêmio da noite, Melhor Filme. O feito inédito quebrou os 92 anos de história, onde só foram premiados filmes de língua inglesa, sendo o primeiro completamente estrangeiro a levar sua estatueta dourada.


Crédito: Oscar/Divulgação

Durante o discurso pela principal estatueta, discursaram Kwak Sin-ae e Miky Lee, produtoras cinematográficas, esta última não aparece oficialmente entre os créditos de PARASITE, mas desempenhou um papel magistral não somente na carreira de Bong Joon-ho, mas de outros diretores, roteiristas, atores, músicos e profissionais do entretenimento sul-coreano. Ela foi uma das mentes visionárias por trás do Grupo CJ, um conglomerado que atua no ramo midiático, farmacêutico, finanças, logística e serviços alimentícios.



Miky Lee é a herdeira e magnata, vice-presidente do Grupo CJ ao lado do irmão, Lee Jay-hun. Seu império midiático avaliado em US$4.1 bilhões de dólares serviu de fundação para a atual potência da cultura nacional, desde os k-dramas, até as milhões de visualizações mundiais do k-pop, com artistas que enchem arenas ao redor do globo, até filmes que dominam as bilheterias asiáticas e, se tudo continuar indo de vento em popa, por todo o ocidente também.


“A vice presidente Lee é uma grande fã de filmes, TV e música,” diz Bong Joon-ho, diretor que teve quatro filmes financiados e distribuídos pelo CJ Group (Mother, Memórias de um Assassino, Expresso do Amanhã e Parasita). “Ela é uma verdadeira cinéfila, que já assistiu a muitos filmes e conseguiu levar essa paixão para o mundo dos negócios.”


Crédito: Oscar/Reprodução

O Grupo CJ foi fundado em 1953 por Lee Byung-chul, avô de Miky. Na época, a empresa manufaturava açúcar e farinha, como uma das divisões da companhia de exportação, Samsung. Nos 40 anos seguintes, foram expandindo e passaram a trabalhar com bebidas, biotecnologia, farmácia e tecnologia. O patriarca da família faleceu em 1987 e deixou o chaebol – ou um conglomerado que é administrado e passado de geração em geração – para ser dividido entre seus herdeiros.



O conglomerado teve sua primeira oportunidade de ingressar no mercado do entretenimento em 1994, quando chegou aos ouvidos e mãos de Miky uma proposta ousada, visionária e inédita. “Steven Spielberg, David Geffen e Jeffrey Katzenberg estão construindo um estúdio. A Samsung tem interesse?”, Miky ouviu da advogada responsável por muitos dos processos da gigante da tecnologia. A proposta foi recusada pelo presidente do Grupo Samsung – e tio da produtora – , Lee Kun-hee. O responsável pelas decisões tomadas em nome da companhia estava de olho na movimentação do mercado, que assistia a Sony – outro nome asiático de peso – comprando a Columbia Picutres, mas preferiu continuar produzindo somente aparatos eletrônicos.


Um ano mais tarde, o Grupo CJ estava no meio do processo de separação com a Samsung, quando a mesma proposta chegou novamente, mas dessa vez Miky Lee organizou o acordo e levou ao seu irmão, que aceitou. A empresa investiu US$300 milhões de dólares para ajudar a lançar a DreamWorks, ficando com 10,8% dos direitos autorais dos filmes na Ásia (exceto no Japão).


“Existem duas pessoas que se sem elas não existiria DreamWorks,” diz Katzenberg. “Paul Allen [o primeiro investidor, com US$500 milhões de dólares] e Miky Lee.”


Miky Lee tem uma formação acadêmica extensa e altamente humana: a produtora e vice-diretora estudou Idiomas e Linguística nas melhores universidades da Coreia, Taiwan e Japão, além de ter feito o mestrado em Estudos Asiáticos em Harvard. A magnata é fluente em coreano, inglês, mandarim e japonês.


Lee cresceu na Coreia do Sul da década de 1960, ainda prejudicada pelo pós-guerra e a separação das Coreias. Logo, tudo era importado e escasso. Os coreanos da época viviam consumindo produtos e conteúdo cultural norte-americano, o que levou a produtora a enxergar com brilho nos olhos a indústria cinematográfica hollywoodiana.



“Nossa geração, até mesmo antes da geração de Bong Joon-ho, nos chamamos de Crianças de Hollywood, porque sempre nos alimentavam com esse conteúdo,” ela diz. “Eu sentia como se a América tivesse a liberdade e uma vasta criatividade.”


A influência e visão que teve da indústria do entretenimento ao longo de sua formação fez crescer ainda mais a ambição de Miky Lee, mas também o entendimento do cenário disponível na época e a necessidade de transformar toda a forma como a cultura sul-coreana era distribuída. “Nós somos uma companhia alimentícia desde sempre, e mesmo após expandir para bioquímica e farmacêutica, nós ainda éramos muito B2C [business-to-consumer, ou traduzido livremente para empresa-para-consumidor],” diz Lee. Para transicionar para mídia, o CJ Group primeiro precisou construir a indústria de entretenimento basicamente do início.


Em relato ao The Hollywood Reporter, a magnata diz que a Coreia na metade dos anos de 1990 tinha pequenas videolocadoras, mas não grandes empresas especializadas na exibição e distribuição cinematográfica. Lee e seu irmão estavam determinados em investir na construção de cinemas, não só para impressionar seu parceiros de negócio hollywoodianos, mas primeiramente para fazer crescer o mercado local de filmes. “Lá atrás, o conteúdo de Hollywood era super poderoso. Então quando passamos a distribuir os filmes de Steven Spielberg, isso significava muitos expositores na Coreia, e que isso te empodera,” ela diz. “Nosso plano era empacotar o já bem conhecido produto da DreamWorks com conteúdo coreano local.


Em 1998, CJ abriu a primeira rede de cinema da Coreia, e hoje a afiliada CJ CGV é a maior cadeia do país, obtentor de 50% do mercado. Outras companhias também seguiram o movimento, mais do que quadruplicando a audiência dos cinemas coreanos (0.8% per capita das admissões anuais no fim de 1990, mais do 4% nos dia de hoje, com os maiores números) e catapultando a Coreia para a quinta maior bilheteria do mundo.


A estratégia do CJ Group de aumentar o conteúdo local construindo estabelecimentos funcionou. Com a elaboração de seus primeiros cinemas, a companhia criou um financiamento que apoiava diretores amadores. A ascensão da CGV coincidiu com o surgimento de uma geração de roteiristas como Bong, Park e Kim Jee-woon (Medo e A Tale of Two Sisters) que atraiu a audiência local.


Crédito: Oscar/Reprodução

Lee tinha ambições similares para o k-pop, tornando-o um gênero globalmente popular.

Apesar de artistas de k-pop realizarem turnês internacionais regularmente, muitos fãs estrangeiros tiveram sua primeira experiência ao vivo com eles através da KCON. Mais de um milhão de pessoas foram aos festivais de música e cultural em seis países, incluindo México, França e Abu Dhabi.


Ainda focados na música e divulgação do conteúdo cultural do país, o Grupo CJ criou o canal televisivo musical MNET, uma das maiores plataformas midiáticas e de entretenimento da Coreia. Semanalmente mostra os números de streaming e repercurssão, popularidade e influência dos artistas do momento com o programa M Countdown, e anualmente os premia durante o MNET Asian Music Awards (MAMA).


Tendo alimentado a indústria do entretenimento coreana, e tornando-a uma força cultural que flexionou seu poder na Ásia e adiante, Lee diz que sua meta agora é expandir a influência do CJ Group mundialmente.


Por Bárbara Contiero
Fonte: Hollywood Reporter, Naver, Group CJ, CJ Entertainment, MNET
Não retirar sem os devidos créditos.

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  • Bárbara Contiero

    Maria-cafeína. Tenho mais livros do que amigos. Minhas roupas são 70% de brechós. Epik High me mantém acordada de manhã.

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