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Coreia do Sul condena Japão a indenizar mulheres de conforto

[AVISO DE GATILHO] O texto a seguir contem temas sensíveis que podem causar gatilhos. Recomendamos cautela ao prosseguir a leitura.

Em uma decisão histórica, o Tribunal de Justiça de Seul ordenou que o Japão compense 12 mulheres vítimas da escravidão sexual provocadas por soldados japoneses antes e durante a 2ª guerra mundial. A condenação foi anunciada na última sexta-feira (8).



As vítimas entraram com o processo contra o Japão em 2016, por sequestro, violência sexual e tortura durante a Segunda Guerra Mundial; que ocorreu enquanto eram adolescentes e/ou jovens de 20 e poucos anos. O triste ato ocorreu durante a ocupação da península coreana pelo Japão, e “as vítimas foram submetidas a dezenas de atos sexuais forçados por soldados japoneses todos os dias”, contou o juiz que revelou ao revelar a sentença.

A ocupação japonesa terminou em 1945, mas as vítimas sofreram um grande trauma psicológico nos anos após a guerra, bem como um estigma social generalizado, disse o juiz. O juiz concedeu a quantia total de $91.000 (100 milhões de won) solicitada pelos demandantes, acrescentando que “os danos sofridos pelas vítimas são irreparáveis e ‘ultrapassam’ o valor”.


Estátua de menina simbolizando as “mulheres de conforto” em frente à embaixada japonesa em Seul em 28 de dezembro de 2015.
Crédito: Chung Sung-Jun— Getty Images

Para os primeiros-ministros japoneses, a desculpa já havia sido feita em 1965, como parte de um acordo para normalizar a relação entre os dois países, porém essa desculpa é considerada “injusta” pela Coreia do Sul, que vivia um período de ditadura militar.

Em 2015 outro acordo também foi feito, onde o Japão pediu desculpa e prometeu ajudar com US$ 8 milhões para uma fundação de apoio às “mulheres de conforto” sobreviventes. Mas em 2018, o presidente da Coreia do Sul, Moon Jae-in, efetivamente anulou o acordo – que havia sido acordado por seu antecessor – dizendo que não refletia os desejos das mulheres sobreviventes.

O Governo Sul coreano respeita a decisão do tribunal e fará todos os esforços possíveis para restaurar a honra e dignidade das vítimas das ‘mulheres de conforto.

Disse o Ministério de Relações Exteriores da Coreia do Sul.

O Ministério de Relações Exteriores afirmou reconhecer o acordo de 2015 entre os países e disse que o governo também “revisará o impacto da decisão nas relações diplomáticas e fará todos os esforços para continuar a cooperação construtiva e orientada para o futuro entre a Coreia e o Japão”.

Entretanto, as autoridades japonesas criticaram o veredito do tribunal. O secretário-chefe de gabinete, Katsunobu Kato, disse em coletiva de imprensa que a decisão é “extremamente lamentável” e “absolutamente inaceitável”.

Kato acrescentou que o governo japonês não está sujeito à jurisdição sul-coreana e que o país pediu repetidamente que o caso fosse arquivado. “Exigimos veementemente que a Coreia do Sul, como país, dê uma resposta apropriada para corrigir esta violação do direito internacional”, disse ele.

O novo secretário-chefe de gabinete do Japão, Katsunobu Kato, anuncia os novos membros do gabinete em uma entrevista coletiva em Tóquio, Japão, em 16 de setembro de 2020.
Crédito: Kim Kyung-Hoon (REUTERS)


As mulheres de conforto

Os especialistas estimam que até 200.000 mulheres da Coreia do Sul e de outros países asiáticos foram forçadas à escravidão sexual japonesa. Segundo o relatório das Nações Unidas, o exército japonês recrutou mulheres, por engano, coerção e força, para seus bordéis.


Um grande número de mulheres vítimas fala da violência praticada contra familiares que tentaram impedir o rapto de suas filhas e, em alguns casos, de serem estupradas por soldados na frente de seus pais antes de serem retiradas à força.

Afirma o relatório das Nações Unidas.

Apesar do pedido de desculpas e compensação do Japão, ativistas sul-coreanos dizem que o: “pedido de desculpas não foi longe o suficiente e muitos exigem mais reparações”. O tópico continua sendo um ponto amargo nas relações tensas dos dois países. Em 2017, uma estátua memorial se tornou o centro de uma briga diplomática, com o Japão interrompendo negociações sobre uma troca de moeda planejada, atrasando o diálogo econômico e chamando de volta dois diplomatas da Coreia do Sul.

O tempo está se esgotando para o Japão e a Coreia do Sul entrarem em acordo para ajudarem e compensarem essas vítimas, pois desde que os sobreviventes se tornaram públicos, há mais de 30 anos, apenas 16 sobreviventes coreanas (que se tem registro) ainda estão vivas, e sete das 12 vítimas morreram desde que o processo foi aberto em 2013. Elas agora estão sendo representadas por parentes.


Kim Bok-dong, ativista de longa data das “mulheres de conforto” foi homenageada em uma passeata em 2019 após sua morte. O pôster diz “minha esperança é que meus descendentes vivam livremente“.

Apesar de todos acordos existentes entre os países, o tribunal coreano garante o direito das vítimas de processarem o país, e ainda afirmou que analisa mais 20 casos de outras mulheres.

Fontes: (1), (2), (3) e (4).
Imagens: Capa – Associated Press, Chung Sung-Jun, Reuters e Sophie Jeong (CNN).
Não retirar sem os créditos.

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  • Isabela Marques

    Jornalista do interior de SP. Tenho 27 anos e quase metade deles foram dedicados ao mundo geek asiático. Quando não estou sendo uma boa fangirl, aproveito para ler bons livros e webtoons de mistério.

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