No dia 16 de abril, a polícia sul-coreana prendeu duas pessoas sob acusação de terem matado um homem para receber o seguro de vida estimado em 800 milhões de wones (mais de R$ 3 milhões) no nome dele. Os suspeitos eram Lee Eun Hae, esposa da vítima, e seu amigo Cho Hyun Soo.
Porém, o caso ainda está repleto de perguntas não respondidas porque as autoridades legais encontraram uma grande dificuldade para encontrar evidências do crime. O portal The Korea Herald reuniu as informações sobre a complexa trama de acontecimentos.
O início
A vítima do caso chama-se Yoon Sang Yeop. No verão de 2019, durante uma viagem com sua então esposa Lee Eun Hae e amigos, Yoon se afogou e faleceu. Dois detalhes chamaram a atenção das autoridades aqui: o primeiro é que ele não sabia nadar e mesmo assim teria aceitado ir até a parte mais funda do vale. O segundo é que o seguro de vida no nome dele venceria apenas 4 horas depois de seu falecimento.
Meses após a morte do marido, Lee entrou em contato com a produção do programa Unanswered Questions, da SBS, pedindo que fizessem uma matéria sobre seu caso. Segundo ela, a empresa responsável pelo seguro de vida de Yoon se recusava a lhe pagar o valor alegando suspeita de fraude. Isso aconteceu apesar da polícia haver considerado o caso como um acidente.
A equipe da SBS começou uma investigação e encontrou diversas perguntas sem resposta relacionadas ao caso. A emissora dedicou três episódios do Unanswered Questions ao caso de Yoon e esmiuçou os detalhes da sua morte.
O que diz a família
A SBS procurou a família de Yoon para saber mais sobre o relacionamento dele com a então esposa. Os parentes revelaram que, mesmo tendo um emprego de engenheiro biomolecular em uma grande empresa, a vítima passou por dificuldades financeiras após se casar com Lee.
Yoon havia contado para os familiares que conhecera Lee no trabalho, mas seus colegas afirmaram que ela nunca trabalhou na empresa e nenhum deles sabia como os dois se conheceram. Estas revelações foram feitas durante o funeral de Yoon.
Na mesma ocasião, os familiares também descobriram que Lee já havia sido casada e que tinha uma filha de 10 anos. Yoon adotou a garota sem contar para ninguém da sua família. A menina e nenhum outro parente de Lee compareceu ao funeral.
O relacionamento
Lee e Yoon começaram a namorar em 2013 e se casaram em março de 2017. Apesar da união ter sido registrada legalmente, os dois não fizeram uma cerimônia e sequer chegaram a morar juntos, mesmo Yoon tendo alugado uma casa com esse propósito.
Conforme mencionado anteriormente, Lee já havia sido casada anteriormente. Não uma, mas sim duas vezes. Ela, inclusive, concordou em se casar com outro homem em 2015 – quando, vale lembrar, já estava em um relacionamento com Yoon – e teve a união cancelada logo após a cerimônia porque a família do noivo a acusou de fraude.
Mesmo com o casamento registrado legalmente, os dois nunca fizeram uma cerimônia formal e sequer chegaram a morar juntos, apesar de Yoon ter alugado uma casa avaliada em 140 milhões de wones (mais de R$ 550 mil) para isso. Segundo informações, quem estava morando na casa eram amigos de Lee.
As dívidas
Mesmo recebendo um salário anual de 64 milhões de wones (mais de R$ 250 mil), investigadores descobriram que Yoon estava afundado em dívidas. Em 2018, um ano após se casar com Lee, ele entrou com um processo para se recuperar de dívidas que somavam 135 milhões de wones (mais de R$ 530 mil).
Não é possível afirmar com exatidão o quanto Lee está envolvida com tais dívidas, mas ela afirmou à equipe do Unanswered Questions que sua família recebeu ajuda financeira do então marido e que os dois frequentemente viajavam porque “não pensavam muito em economizar“.
Os registros bancários de Yoon mostram que 36 milhões de wones (mais de R$ 140 mil) foram transferidos da conta dele para a de um amigo de Lee em um intervalo de dois anos. A situação chegou a um ponto em que Yoon chegou a tentar vender seus órgãos no mercado ilícito.
Manipulações e abusos
A investigação conduzida pela polícia sul-coreana levantou suspeitas de que Lee fazia com Yoon uma forma de manipulação conhecida como “gaslighting”, no qual o abusador usa argumentos para sair sem culpa de situações ou confunde a memória da vítima com fatos distorcidos.
Um dos indícios disso pode ser o fato de Lee ter feito diversos seguros de vida colocando Yoon como beneficiário e pediu para ele fazer o mesmo. Especialistas em seguros de vida chamaram este ato de nomeação, ou seja, quando se escolhe um beneficiário especifico para algo no qual a quantia iria para herdeiros legais, é incomum na Coreia do Sul.
A polícia também recuperou registros de mensagens de Yoon. Em uma carta escrita por Lee obtida pelos investigadores, ela escreveu: “Olá, aqui é sua mestra“.
Outro registro foi de uma mensagem enviada por Yoon para Cho Hyun Soo, que mantinha um caso extraconjugal com Lee e foi preso junto com ela por suspeitas de participação no crime, em 2019. Ele escreveu: “Só quero ser respeitado por Eun-hae. É muito difícil ser trancado e abusado verbalmente por ela“. Ainda é incerto afirmar se ele sabia do caso dos dois.
Em uma gravação de uma ligação entre Yoon e Lee obtida pela mídia sul-coreana, ele reclama que ela puxou seu cabelo enquanto os dois bebiam com conhecidos. Lee responde: “Quando fico bêbada, tenho tendência a maltratar pessoas de quem me sinto próxima. Não é que eu não respeite você, é só que as coisas são assim“.
O dia da morte
No verão de 2019, Yoon e Lee viajaram com mais quatro amigos, que incluia o amante Cho Hyun Soo. O grupo resolveu nadar em um vale e gravou diversos vídeos do passeio. Yoon não sabia nadar e é visto apenas em cima de uma boia na parte rasa do corpo de água. Porém, ele é constantemente provocado por alguns dos amigos que tentam convencê-lo a pular.
Lee entregou uma versão do vídeo gravada do próprio celular, mas o registro acaba cerca de 21 segundos antes do afogamento. Investigadores apontaram que o material parece ter sido editado.
No grupo, também estava uma mulher que se identificou como Choi. Em entrevista à SBS, ela contou que Lee se referia a Yoon como um amigo próximo e que sequer suspeitou que os dois eram casados. Além disso, Lee demonstrava afeto pelo amante Cho abertamente.
Choi também narrou os momentos antes do afogamento. Lee teria dito a Yoon que todos os outros homens do grupo estavam mergulhando e que ela entraria na água se ele não fosse.
Lee contou que não percebeu que Yoon estava se afogando porque não o viu se debatendo ou pedindo por ajuda. Choi contestou dizendo que ouviu um barulho parecendo como se Yoon estivesse em risco. Ela também contou que viu Cho nadando até onde Yoon estava e foi junto de Lee pegar a boia.
Na movimentação que durou cerca de dois ou três minutos, Choi disse que um colete salva-vidas que estava com o grupo sumiu de vista e que Cho parece ter se afastado de onde Yoon estava ao invés de se aproximar.
O que a investigação aponta até agora
No relatório policial enviado à Promotoria consta a informação de que a decisão tomada por Yoon de mergulhar mesmo sabendo que poderia morrer parece ter sido influenciada por Lee.
Evidências mostram que ele poderia suspeitar de que sua esposa queria matá-lo. Depoimentos e registros antigos mostram que, já em 2019 e apenas um mês antes da morte de Yoon, Lee teria empurrado o marido na água durante uma pescaria. Ele foi resgatado por um desconhecido.
Segundo o relatório: “Aparentemente, (Lee) usou a vítima até que a situação financeira dele estivesse ruim. Quando ele não era mais útil, ela seguiu com o plano de conseguir o seguro“.
Além do empurrão durante a pescaria, Lee também teria tentado matar Yoon colocando veneno de baiacu em sua comida. Todas estas tentativas foram em 2019 e datam de meses antes da morte.
Apesar disso, Lee e Cho negam tudo e afirmam que tentaram salvar Yoon do afogamento.
Os rumores sobre o passado de Lee
A história ganha toques ainda mais chocantes quando uma série de rumores sobre o passado de Lee começaram a circular. Entre eles existem dois que dizem respeito à morte de dois homens com quem ela se relacionou no passado.
Um deles morreu em um acidente de carro. Já o outro foi por afogamento, assim como Yoon. A polícia considerou o fato suspeito, mas não conseguiu estabelecer um caso criminal contra Lee.
Um ex-namorado de Lee, de fato, se afogou em 2014 durante uma viagem dos dois à cidade tailandesa de Pattaya. Porém, nenhuma evidência de crime foi encontrada desde então. Além disso, o dinheiro do seguro de vida da vítima foi para a sua família, não para Lee.
Até o momento, não foi definida uma data para o julgamento de Lee Eun Hae e Cho Hyun Soo.
Fonte: (1)
Imagens: Yonhap
Não retirar sem os devidos créditos.