Assim como outros países, a Coreia do Sul também tem diversos símbolos nacionais. Um deles é o tigre, considerado o animal nacional do país.
Para entender a importância do tigre como símbolo representante da nação coreana é preciso olhar para a história do país, da formação inicial de uma ideia de Coreia até os dias atuais.
Descubra conosco a origem deste símbolo e como ele se faz presente em diversos segmentos até mesmo na cultura pop e nos esportes.
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O tigre é o símbolo nacional das Coreias, se tornando, por exemplo, o mascote oficial de Olimpíadas. É o caso das Olimpíadas de Verão que ocorreram em Seul em 1988 e das Olimpíadas de Inverno que aconteceram em Pyongyang (Coreia do Norte) em 2018. Tanto o tigre da cor amarela quanto o tigre da cor branca são importantes e trazem simbologias intrínsecas à história de formação e crescimento da nação coreana. Há quem diga que até o formato da península seja parecido com um tigre.
Não há uma data exata que marca a extinção dos tigres coreanos, mas acredita-se que eles tenham sido extintos durante a colonização japonesa, já que os colonizadores acreditavam que caçar os tigres era uma outra maneira de mostrar seu domínio sobre a população sul-coreana. Documentos antigos na biblioteca da Universidade Nacional de Seul e de outras bibliotecas contêm fotos e relatos que comprovam a captura de tigres durante o período colonial japonês entre 1910 e 1945. Mesmo extintos, os tigres simbolizam superioridade e também são vistos como criaturas auspiciosas, que expulsam os maus espíritos (액막이: um encanto contra más influências).
Uma de suas primeiras aparições na literatura coreana é no conto da criação do país, o mito de Dangun, o rei urso (단군 왕검). Na lenda, um urso e um tigre rezam para o deus Hwanung pedindo para se tornarem humanos. O deus, então, ordena que os animais fiquem em uma caverna por 100 dias e que comam apenas artemisia e alho e evitem a luz do sol. Devido à fome, o tigre desiste, mas o urso persevera e se torna a mulher-urso Ungnyeo. Dangun é o filho do deus Hwanung com essa recém transformada em humana, Ungnyeo. Dangun é considerado o fundador de Gojoseon, o primeiro estado da Coreia e é, portanto, visto como aquele que fundou a nação coreana. Apesar de não ser um elemento-chave da história, o tigre já marcava presença no imaginário da população.
Outra forma comum de representação dos tigres foi através de Minhwas (민화), pinturas feitas por artistas desconhecidos para a população comum. As pinturas continham imagens de diversos elementos, como flores, montanhas, pedras e o sol. Elas tinham um teor mágico e eram uma forma de transmitir mensagens, afastar os maus espíritos e desejar que coisas boas acontecessem. O tigre era um dos elementos mais comuns nessas pinturas. Há muitas obras em que o tigre divide palco com o pássaro “pega” e a árvore de pinheiro. Na antiguidade, acreditava-se que se esse pássaro chorasse pela manhã, isso significaria que boas notícias estavam para chegar. Já a árvore estava sempre verde nas pinturas, mesmo quando era inverno, simbolizando o primeiro mês do novo ano (janeiro). Juntando o tigre a esses elementos da natureza, o tigre afugentaria os espíritos do mal enquanto o “pega” traria boas notícias para um bom Ano Novo.
Diferente das pinturas de Ano Novo, o tigre também aparecia como sátira de classe. Contos do dia a dia representavam nobres como tigres, pássaros “pega” como o povo e o coelho como mercante. Nesses contos, os nobres geralmente eram corruptos e faziam algo contra o povo.
Já na doutrina budista, o tigre é o mensageiro do deus da montanha ou até mesmo consagrado como o próprio deus da montanha. Sua aparição governa as fortunas dos seres humanos. Não apenas no Budismo o tigre representa a montanha. Em práticas xamânicas coreanas, ele é visto como a adoração do deus da montanha ou dos quatro deuses. Outra crença que levou consigo a imagem do tigre é o Confucionismo. Na religião/filosofia confucionista o tigre era descrito como um animal movido pela piedade filial humana, que ajudou os seres humanos ou retribuiu a bondade humana. Ele, portanto, carregava consigo os valores confucionistas de “piedade filial” e “reciprocidade”.
O tigre foi tão comumente usado pela doutrina confucionista que seus efeitos podem ser vistos ainda hoje. A Professora Amy Chua, formada pela Universidade de Harvard e atual acadêmica de Direito na Universidade de Yale, lançou em 2011 um livro chamado “Grito de Guerra da Mãe Tigre”. Nesse livro, ela discorre sobre o termo “mãe tigre”, que foi originado para simbolizar as mães que seguiam os princípios confucionistas. Essas mães, segundo ela, existem até hoje e não apenas incentivam as crianças a se destacarem academicamente, mas também controlam rigidamente as suas atividades diárias, escolhendo até mesmo atividades extracurriculares, que devem ser atividades nas quais os filhos “possam eventualmente ganhar uma medalha de ouro”. Esse tipo de mãe acredita ter o direito de exigir dos filhos notas perfeitas e pensa saber o que é melhor para eles, mantendo um estilo estrito e disciplinador de criação dos filhos.
O tigre na cultura pop
No K-drama Hotel de Luna, o espírito do último tigre de Baekdu encontrava-se aprisionado entre a vida e a morte, não encontrando o caminho para a eternidade. Luna diz a ele: “O lugar que você quer ir não existe mais no mundo real. A pessoa que o trouxe aqui preparou um lugar para você ficar. Vá e descanse”. Uma pintura da região em que morava se tornou seu lar e ele pode descansar em paz. Em cenas posteriores, Luna conta que, por ser uma criatura mística, a alma do tigre reencarnará bem.
Outro exemplo bastante famoso é o escudo da Seleção Coreana de Futebol. Não por acaso, o time também tem o apelido de “Tigres da Ásia” além do “Guerreiros de Taegeuk”.
Créditos: Nike
Em 2020, o grupo SuperM lançou a faixa “Tiger Inside”, incluída posteriormente no álbum Super One. Apesar do tigre aqui ser mencionado apenas como uma alegoria para o verdadeiro eu que muitos escondem dentro de si mesmos, a SM Entertainment incluiu elementos culturais ao convidar o artista Kim Jung Gi para protagonizar um vídeo artístico criando uma obra com os membros do grupo:
O tigre coreano se mantém como uma figura mística e simbólica, capaz de mostrar a força da nação coreana e protegê-la.
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Imagens: reprodução e Nike
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