Máscaras de madeira coloridas, movimentos exagerados e um texto dramático repleto de deboche. Foi assim que o Talchum, arte performática coreana que mistura dança, música e teatro, desafiou a aristocracia por séculos nos palcos. Esta prática, considerada um Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade pela Unesco, surgiu nos antigos rituais xamânicos da Coreia até se tornar um espetáculo cênico baseado na sátira dos mais ricos.
O Talchum é um espetáculo dramático de dança, música e teatro executado por artistas mascarados, combinando canções, danças, movimentos expressivos e diálogos para abordar diversas questões sociais com um ar humorístico. A apresentação é acompanhada de perto por um conjunto musical composto por seis a dez músicos, que utilizam instrumentos de sopro, cordas e percussão para criar a atmosfera sonora do espetáculo.
A origem do Talchum
A prática do Talchum surgiu em vilarejos da província de Hwanghae, região que hoje em dia é território da Coreia do Norte, em associação com rituais xamânicos. Durante a Dinastia Koryo (918-1392), havia o Escritório de Dança Dramática Mascarada (Sandae Togam) que supervisionava diferentes tipos de apresentações, incluindo Talchum. Os espetáculos desta arte geralmente aconteciam em eventos nacionais, como recepção de oficiais chineses e cerimônias de colheita.
Mais tarde, o Talchum se espalhou para regiões da península coreana mais ao sul, com nomes diferentes, como Sandae, Ogwangdae e Yaryu. A estética das apresentações varia dependendo da região onde são realizadas, além do momento histórico. Apesar da variedade de termos, hoje em dia usa-se “Talchum” para se referir às típicas performances dramáticas de máscara da Coreia em geral.
A crítica social por trás do Talchum
Se engana quem acha que a dança e a música são apenas comemorações inofensivas: a prática do Talchum tem raízes na crítica social de pessoas comuns e até da classe aristocrata da Coreia na época. A performance podia expor monges que ostentavam poder, falar mal de nobres corruptos ou simplesmente representar, num tom de humor ácido, como é o difícil dia a dia da pobre plebe.
A máscara tem um papel importante na crítica. Cada visual indica um estereótipo diferente a ser ridicularizado no palco, e este acessório também ajudava a proteger a identidade dos artistas e seu próprio status social. Ou seja, a máscara do Talchum não serve só como estética, como também permite que os praticantes expressem seus sentimentos sem medo de julgamentos.
O Talchum se mantém preservado na Coreia do Sul mesmo após séculos de tradição graças à Sociedade de Preservação do Bongsan Talchum, uma associação composta por 22 artistas que se apresenta em eventos culturais e festivais tradicionais. Antigamente, apenas homens podiam performar o Talchum, mas hoje em dia a participação de mulheres se tornou comum.
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Imagens: neochicle, Ralph Honsbeek
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