Jovens coreanas adotaram o movimento #Escapethecorset como forma de luta contra as normas de beleza impostas às mulheres pela sociedade sul-coreana. A hashtag, que significa “Escape do Corset” em tradução livre, representa uma batalha contra a beleza irreal que muitos esperam das mulheres. O corset, peça representativa para o movimento, é utilizado por muitas mulheres para a modelagem da cintura, exemplifica como moças sofrem para alcançar determinado padrão estético. O item, além de apertar a pele pode causar danos ao corpo, como a deformação da caixa toraxica.
O país, conhecido como referência no mundo da beleza, tem um grande mercado de produtos estéticos que movimentou desde o início do ano de 2018, cerca de 16 bilhões de dólares. Com 4 milhões de inscritos, o canal voltado para maquiagem da sul-coreana Park Hye-min, mais conhecida como Pony, é apenas um reflexo da força do mercado de beleza local que movimenta valores estratosféricos de dólares e recebe grande atenção por parte da sociedade.
Grande parte dos CFs, como são conhecidos os comerciais, realizados pelas celebridades, são para o mundo da beleza, e englobam desde rímeis, batons a até máscaras de hidratação facial. As mulheres são bombardeadas diariamente pelos padrões que estampam essas marcas: pernas longas e finas; pele clara e macia; olhos grandes e radiantes e lábios rosados são internalizados no cotidiano das jovens por meio de diversos comerciais, onlines e offlines; no trabalho e principalmente nos famosos dramas coreanos.
Os k-dramas, como também são conhecidos, geralmente apresentam protagonistas que se adequam as padrões citados. Não é difícil encontrar títulos que falem sobre amor próprio, mas ainda sim seguem padrões em relação aos atores ou reiteram a ideia de beleza interior, mas ao longo dos capítulos podemos ver uma transformação do visual da protagonista.
Em entrevista para o portal americano The Guardian, Cha Ji-won que participa ativamente do movimento, conta que sentiu como se nascesse novamente após parar de usar maquiagem. “Uma pessoa tem muita energia todos os dias, e eu costumava gastar a minha quase que por inteiro preocupada em “ser bonita”. Agora eu uso esse tempo, e energia, para ler e me exercitar”, afirma Cha.
De Goryeo até as ruas de Myeondeong hoje : 700 ANOS DE JORNADA
Da dinastia Goryeo até a Coreia do Sul de 2018, o mercado de beleza sul-coreano foi e ainda é um grande atrativo do país. A dinastia Goryeo foi a época em que o primeiro grande passo foi dado para a criação e enraizamento do nicho: durante o período, ocorreram as primeiras “aulas” sobre como usar maquiagens.
A adoção da maquiagem pelas gisaengs, jovens que serviam aos reis e nobres nos palácios, foi um dos pontapés para a dispersão dos cosméticos. Segundo historiadores, o primeiro rei de Goryeo, Tae Jo Wang, ordenou que as jovens utilizassem maquiagem e aprendessem as etiquetas necessárias para usar os itens de modo correto.
Era reconhecido como etiqueta que as gisaengs utilizassem maquiagens muito mais fortes, como pós muito brancos que contrastavam com fortes tintas em vermelho-vivo que eram usadas na boca. A técnica era conhecida como bundae. A alta pigmentação no rosto das moças que serviam aos reis e nobres, contrastavam com as camponesas e outras jovens que utilizavam quantidades menores de pó e batom.
A beleza vista em k-dramas históricos da Era Joseon é muito diferente para a do período anterior. Lá, o ideal de beleza feminino era algo leve e que ressaltava a beleza interior de cada uma, o que era uma herança trazida do confucionismo. Enquanto o bundae, se tornou algo ultrapassado e até imprudente, a beleza natural foi tomando cada vez mais espaço entre as jovens do reino Joseon.
Ao longo de mais de 700 anos de trajetória, a evolução dos cosméticos e padrões de beleza sul-coreano levaram muitas jovens a terem muitas preocupações quanto às suas belezas internas. Questionamentos surgiram e agora vemos o início de um importante movimento para a libertação das mulheres na Coreia do Sul.
Por Yasmin Marcondes
Fontes: The Guardian, Zum, Statista, Telegraph, She The People, Hanyang
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