No dia 6 de junho é celebrado anualmente o feriado conhecido como Memorial Day, ou Hyeon Chung-il (현충일), uma data criada em respeito a todos que perderam a vida durante combates em prol da Coreia do Sul.
A memória histórica de um país é parte do tesouro nacional para relembrar as batalhas travadas, cujo orgulho da liberdade e revolução surge infelizmente através de duras perdas. Devido a isso, em 6 de junho, na Coreia do Sul é celebrada a data conhecida como Hyeon Chung-il (현충일), ou Memorial Day, em memória a cada soldado sul-coreano que se sacrificou pelo futuro da nação principalmente durante o período da ocupação japonesa, Guerra da Coreia e Guerra do Vietnã.
A data foi decretada como parte da constituição em 16 de abril de 1956, pelo então presidente sul-coreano Syngman Rhee. O chefe de estado declarou a data como um feriado nacional, relembrando as vidas de homens e mulheres que morreram durante a Guerra da Coreia. O combate entre o extremo norte e sul da península durou cerca de três anos – de 1950 a 1953 -, ceifando mais de 1,2 milhões de vidas. O resultado do combate foi a separação das Coreias, estabelecendo o modelo político conhecido até hoje.
A Guerra da Coreia foi um combate iniciado cinco anos após o fim oficial da Segunda Guerra Mundial. Em 1945, a península coreana foi considerada um território independente do Japão, local que ocupava militarmente desde 1910. Como um estado novo e ainda sem ter um governo oficial declarado, teve o trecho norte tomado pela União Soviética de Josef Stalin e o sul pelos EUA, de Harry Truman, separados pelo Paralelo 38. A medida seria temporária, mantida até decidirem os termos para a unificação do território como uma só Coreia.
Não houve acordo entre Syngman Rhee e Kim Il-Sung (primeiro líder norte-coreano), e ofensivas motivadas pela ultrapassagem da linha traçada no Paralelo 38 deram início ao combate. A República da Coreia (Coreia do Sul) recebeu apoio militar dos Estados Unidos da América e de outros países aliados, enquanto a República Popular Democrática da Coreia (Coreia do Norte) teve como aliados a China e a União Soviética. A guerra nunca terminou oficialmente: em 27 de julho de 1953 ambas as nações assinaram decretos de cessar-fogo, uma trégua que já perdura 70 anos, mas não um tratado de paz.
Ao longo dos anos celebrando o Memorial Day, o sacrifício de soldados em outros combates históricos que integraram a luta pela independência também foram relembrados. Como, por exemplo, os falecidos na Batalha na Cidade de Bongoh em 6 e 7 de junho de 1920, uma das primeiras ofensivas armadas em nome da liberação coreana contra a anexação japonesa. Na época, um ano após o pacífico Movimento pela Independência (3 de março de 1919), Hong Bum-do do Exército pela Independência da Coreia, An Mu pelos combatentes da Associação Nacional da Coreia e Chi Jin-dong através do Escritório Governamental de Assuntos Militares, coreanos residentes na Manchúria, formaram uma aliança e lutaram na cidade de Bongoh contra a ocupação nipônica.
Também são homenageados os soldados veteranos e abatidos na Guerra do Vietnã, um dos confrontos mais conhecidos em escala global, que começou a se formar com o fim da Segunda Guerra Mundial. O país que anteriormente foi considerado uma Colônia Francesa e posteriormente uma conquista japonesa, conseguiu sua independência através de conflitos armados, dos quais cessaram fogo e renderam a liberdade através do tratado assinado em 1954, na Conferência de Genebra, na Suíça. O território vietnamita dividido durante décadas de batalhas se tornou oficialmente dois estados independentes, um com bases comunistas e administrado pelo líder político Ho Chi Minh em Hanói, e o outro capitalista, presidido por Bao Dai e com a base administrativa em Saigon.
O combate motivado pelo desejo de unificação foi apoiado por países como a China, Estados Unidos da América, União Soviética, Coreia do Norte, Filipinas e Coreia do Sul. O enfrentamento durou 21 anos (de 1954 a 1975) e resultou na perda de 3 milhões de vidas em suas trincheiras, entre eles mais de 50.000 sul-coreanos que estiveram na linha de frente defendendo Saigon pelo líder sul-vietnamita Bao Dai.
Em cemitérios ao redor da Coreia do Sul, os cidadãos também rezam por aqueles falecidos em embates internos como os movimentos estudantis em prol da democratização do país e o Massacre de Gwangju (18 a 27 de maio de 1980). Este último, um episódio na história coreana que estima-se ter causado a perda de centenas de vidas, das quais protestavam por melhores direitos trabalhistas e o estabelecimento de bases democráticas na política, medidas até então pouco presentes. Os levantes e protestos foram pivôs para o modelo econômico e de direitos humanos encontrado ao sul da península.
“A liberdade e prosperidade desfrutadas hoje em dia recaem sobre a dedicação e sacrifícios de nossos antepassados patrióticos abatidos, e guardiões de todos os quais sacrificaram tudo pelo país em seu auge. Tudo e todos repousam aqui, na República da Coreia que construímos.”
Parte do discurso feito pelo 12º presidente da República da Coreia, Moon Jae-in, em 6 de junho de 2020.
Anualmente, o Memorial Day se inicia com a bandeira nacional hasteada a meio-mastro, em respeito aos familiares e soldados. O evento mais importante do dia acontece no Cemitério Nacional de Seul, localização do memorial oficial com as lápides para os mártires. O Primeiro Ministro, o porta-voz da Assembleia Nacional e o Chefe de Justiça da Suprema Corte comparecem ao lado do presidente em vigência, que presta as condolências e realiza um discurso. Aos parentes dos heróis de guerra são oferecidos os sentimentos e orações, enquanto os túmulos recebem coroas de flores. Às 10 da manhã, uma sirene pode ser ouvida em diversos lugares na Coreia do Sul, inclusive no próprio cemitério, e então todos prestam um minuto de silêncio em respeito à lembrança dos soldados. O poder do respeito é tamanho que carros param nas ruas nesse horário, assim prestando esse momento de tributo.
Texto feito em parceria com o Centro Cultural Coreano no Brasil
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