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Arte e tecnologia: Conheça o artista sul-coreano Nam June Paik


Todo mundo já ouviu falar de Leonardo da Vinci e de Ludwig van Beethoven, dois artistas reconhecidos internacionalmente em duas das mais antigas formas de arte: pintura e música. Com o passar dos séculos, novas formas artísticas foram surgindo e incorporando as tecnologias de sua época. O coreano Nam June Paik é considerado o pai da vídeo-arte, a primeira pessoa a trazer a TV e o cinema para dentro das galerias de arte. Revolucionário em sua área, ele também é conhecido por quebrar padrões até entre os demais artistas. Seu legado é global e deve ser devidamente valorizado.



Nascido em uma família rica, Nam June Paik teve a oportunidade de estudar piano desde a infância e começou a trilhar seu caminho pela arte. Sua primeira exposição de arte ocorreu na Alemanha, em 1963, e é chamada “Exposition of Music – Electronic Television” (Exposição de Música – Televisão Eletrônica). Nessa exposição, ele criou diferentes sons para diferentes espaços, sendo ao todo 20 sons espalhados por três andares. Um manequim destruído em uma banheira, instrumentos clássicos deformados e construídos com objetos inusitados e uma cabeça de boi na porta de entrada são alguns dos elementos que simbolizam a crítica à crença da arte europeia como a boa e clássica arte. No pôster de convite para a exibição, as letras em caixa alta formam a palavra EXPEL, que significa “expulsar”.
Nam June Paik buscava expulsar as ideias de arte convencional. Assim como o manequim na banheira, a arte até então conhecida estava morta aos seus olhos. Ele buscava também integrar elementos da cultura coreana a sua trajetória. Um dos elementos mais marcantes foi a cabeça de boi pendurada na entrada, um símbolo para culturas asiáticas no geral e ligado à celebração de festivais na Coreia do Sul.



O caminho de Nam June Paik na vídeo-arte também começou nessa exposição, quando ele decidiu utilizar 13 televisões e manipulá-las para apresentarem imagens deformadas ou sons em forma de imagem. Na época, a televisão ainda era um objeto de luxo e seu uso era apenas para distribuição em massa. A ideia de se usar TVs como uma espécie de arte não era imaginada nem pelos artistas mais revolucionários da época. Seu segundo importante passo na arte com vídeo foi em 1964, em Nova York, quando ele usou uma câmera portátil para filmar a procissão do Papa Paulo VI e exibiu as imagens em outro lugar da cidade no mesmo dia. Nesse momento, Nam June Paik já expressava o desejo de conectar diferentes lugares em uma mesma imagem.

Uma vídeo-arte é uma forma artística capaz de unir som e imagem de maneira diferente da convencional. Grande parte dos videoclipes de K-Pop usam e abusam da vídeo-arte, porque usam Chroma Key e vários outros efeitos capazes de tirar a imagem dos padrões de realidade. Esses padrões de realidade são imagens que buscam ser a cópia fiel da realidade ou ao menos a ideia de real transmitida pela TV de massa. Em 1973, Nam June Paik lançou o Global Groove, um videoclipe que utiliza Chroma Key e tem um casal principal que dança em um espaço imaginário, muitas vezes com suas imagens sendo duplicadas ao fundo.
Assista ao vídeo abaixo e diga por si mesmo, caro leitor, se Global Groove se assemelha ao K-Pop de alguma forma.


Paul Garrin, o assistente de Paik nos últimos 16 anos de sua vida, fala em entrevista à TV Arirang em 2016 sobre um dos dizeres de Paik que mais o marcou: “Se você quer ganhar a corrida, você tem que correr sozinho”. Segundo Paul, isso significa que você não pode ser como os outros, que você deve fugir do convencional. Em uma época onde não era possível a transmissão global e ao vivo, Nam June Paik dirigia o “Good Morning, Ms Orwell” (Bom dia, senhor Orwell), um programa ao vivo para as cidades de Nova York, São Francisco e Paris. Além de inovador na arte, ele foi capaz de antecipar estas revoluções tecnológicas que hoje são fundamentais para a vida no século 21. Assistir ao vivo premiações, shows ou jogos que estão acontecendo em outro país? Tudo isso começou com esse experimento artístico.

“Good Morning, Ms Orwell” foi a primeira transmissão artística em vídeo-arte via satélite do mundo, em 1984. É um programa de uma hora de duração, com apresentações musicais e de vídeo-arte em inglês e francês. Nam June Paik foi capaz de juntar uma geração inteira de artistas de várias partes do mundo para colaborar nesse e em demais projetos seus. Esse programa também foi transmitido para outros países, como Alemanha e Coreia do Sul, e atingiu uma audiência de mais de 25 milhões de telespectadores em todo o mundo. Para Nam June Paik, “o trabalho do artista não é fingir que a tecnologia não existe, mas utilizá-la melhor”.



Outro importante projeto, desenvolvido para as Olimpíadas de Seul em 1988, foi Wrap around the World (Envolva-se ao redor do mundo). Nam June Paik buscou simbolizar o fim da Guerra Fria, conectando todos os países do mundo, cada qual com sua cultura. Países dos dois polos do conflito participaram do projeto. O Brasil também estava presente. Uma das suas obras mais conhecidas também segue a ideia de unir o mundo pela tecnologia. Electronic Superhighway é uma grande instalação construída com 336 televisores e vários outros aparelhos, incluindo tubos de neon multicoloridos. Essa obra e também a obra Megatron/Matrix estão no Museu Smithsonian de Arte Americana em Washington DC, nos Estados Unidos. Veja uma parte dessas obras abaixo.


Nam June Paik foi um artista revolucionário e sua história vai muito além da contada até aqui. Sua importância para o mundo é incontestável e ele é considerado uma das maiores figuras coreanas da modernidade.


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Imagens: Reprodução
Escrito por Beatriz Pollo
Não retirar sem os devidos créditos.


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