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K-drama Sociedade

Como o K-drama “Round 6” chamou atenção para a desigualdade social na Coreia do Sul

Os fãs de Round 6 puderam acompanhar os participantes loucos pelo prêmio de 45,6 bilhões de wones (cerca de R$ 210 milhões). Para isso, os participantes puderam escolher entre participar de brincadeiras infantis que podem ser mortais, ou ir embora e perder a chance de conquistar o prêmio.

O K-drama, além de um sucesso mundial, também trouxe reflexões acerca da desigualdade social existente no país. Algo que fica bem marcado, inclusive na fala dos personagens, é que eles estão superendividados e sem esperança de conseguir ascensão social ou mesmo mudar de vida fora deste concurso mortal. É preciso pontuar que a série coloca uma boa dose de exagero, mas ainda sim, faz com que muitos reflitam se a décima economia do mundo, segundo dados do Fundo Monetário Internacional (FMI), é mesmo tão desigual.



Endividamento

Segundo dados da CEIC Data (empresa especializada em dados econômicos globais, indicadores, gráficos e previsões), as dívidas são, de fato, algo que tira o sono dos sul-coreanos. No final de 2020, a dívida média das famílias  representava 106,6% do produto interno bruto (PIB) nominal do país – dez anos antes, o índice era inferior a 80%.

A título de comparação, o nível de endividamento das famílias sul-coreanas é um dos mais altos da Ásia e do mundo. 

Uma explicação deste aumento no número de devedores, segundo o Financial Times, se deve a proliferação de fintechs na Coreia do Sul, incentivadas pelo governo do país. Essas fintechs oferecem os “digital lenders”, que na prática são empréstimos on-line de alto risco oferecidos àqueles que muitas vezes não têm acesso a financiamento bancário.

Mesmo depois de décadas de crescimento econômico que transformou a Coreia do Sul em uma potência global, a desigualdade segue um grande desafio. O tema debatido não só em Squid Game como também em Parasita, filme ganhador do Oscar, tem registrado um aumento nos últimos anos: a riqueza dos 20% mais ricos da população sul-coreana é 166 vezes maior do que a dos 20% mais pobres.


Brasil x Coreia

É importante ressaltar que no Brasil essa disparidade é ainda maior. No índice de Gini, que mede a desigualdade social nos países, o Brasil tem um coeficiente de 53,3 e o da Coreia 31,4 (quanto maior o coeficiente, mais desigual é o país). O Relatório de Desenvolvimento Humano de 2020 da Organização das Nações Unidas (ONU) indica que na Coreia do Sul a diferença entre ricos e pobres é maior que a de vários países desenvolvidos.   

Segundo dados da ONU, no Brasil a porcentagem da renda que fica com o grupo de 1% de pessoas mais ricas do país é 28,3% enquanto na Coreia é de 12,2%. Já a porcentagem da renda que fica com o grupo de 40% de pessoas mais pobres do país é 20,3% na Coreia do Sul, enquanto aqui no Brasil são apenas 10,4%.


Créditos: Netflix


Explicação histórica

Outra explicação pode ser a histórica, segundo o pesquisador Anders Karlsson, do Centro de Estudos Coreanos da Universidade de Londres. Após a Guerra da Coreia (1950-1953) o país foi dividido ao meio. O Sul saiu do conflito como um dos países mais pobres do mundo, com o PIB comparado ao Zimbábue. Hoje é comparado a Itália. Com inúmeras reformas econômicas e incentivos na década de 1970, o país alcançou um rápido crescimento econômico e grande mobilidade social. O clima de otimismo tomou conta do país, mas não resistiu à crise financeira de 1997 em toda a Ásia.

Após a crise, o país conseguiu se recuperar rapidamente, mas ela gerou dois tipos de trabalho no país: o formal, para uma minoria instruída, e o informal, com contratos temporários e sem garantia nenhuma de direitos trabalhistas. Também é importante ressaltar a grande competitividade do país. Somente com muito estudo extracurricular é possível entrar nas melhores universidades do país (a pública National University of Seoul, mencionada na série, e a privada Yonsei University) e apenas os graduados dessas instituições conseguem os melhores empregos.

Somam-se a isso o endividamento individual, a desigualdade social e os altos índices de suicídio no país, que estão entre os mais altos do mundo. Tudo isso, para Karlsson, mudou a percepção das pessoas de que aqueles que se esforçam podem alcançar o sucesso. Não existe a sensação de que quem estuda e se esforça consegue melhorar de vida. Essa esperança deu lugar ao desalento.

A onda Hallyu abriu espaço para que as produções sul-coreanas contassem um pouco desta situação. Cada vez mais os K-dramas retratam a situação atual da juventude, mostrando não só uma vida maquiada, mas um pouco das dificuldades enfrentadas pelas pessoas em seu cotidiano.

Fonte: (1), (2), (3), (4)
Imagens: Netflix (reprodução)
Não retirar sem os devidos créditos.


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  • Beulla Silva

    Mineira, jornalista, Libriana no mundo da Lua que é viciada em GOT7, Monsta X, gatos, K-Drama, café e culinária coreana!!

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