Desde do início de 1990, com o surgimento do grupo de Seo Taiji and Boys, que trouxe sonoridade totalmente nova para a música coreana ao introduzir hip-hop e pop americanos em suas melodias, a cultura coreana vem conquistando o mundo e tornando sua indústria do entretenimento uma das lucrativas do século 21. Mas como se deu todo esse sucesso e como isso impacta sua economia?
A formúla do K-pop
Diferente do acontece em indústrias musicais como a estadunidense e a brasileira, a indústria do K-pop não só descobre artistas, mas na verdade os criam. Os famosos idols passam por diversos processos até debutarem, com árduos treinos de canto, dança e atuação.
Além disso, as empresas fazem um verdadeiro estudo de público e marketing para criar um grupo ou artista que possa agradar o maior número de pessoas possível. Você achava que existem as posições de main singer, main dancer ou maknae só por diversão ou talento? Não! As companhias que gerem os grupos de K-pop procuram colocar as mais diversas personalidades para ser algo mais atrativo e, até mesmo, criam personas que seus idols devem sempre seguir quando estiverem na presença dos fãs. Um exemplo disto é o San-ha, maknae do ASTRO, que é encarregado do aegyo do grupo.
Outro fator que facilitou a popularização do pop coreano na Ásia e no mundo inteiro, é a presença de palavras em inglês em quase todas as músicas e também, geralmente, os nomes dos grupos consistem em uma palavra fácil nessa língua ou uma abreviação.
BTS Mania
O pop coreano ficou muito conhecido através de Gangnam Style, do multitalentoso PSY, o MV da música conta com mais de 4 bilhões de visualizações e foi o primeiro vídeo no YouTube a conquistar a marca de 1 bilhão de visualizações, mas é inegável que os maiores representantes atuais do gênero é o grupo composto por RM, J-Hope, JungKook, V, Suga, Jin e Jimin: o BTS.
O grupo de sete integrantes vem conquistando e apresentando o K-pop para o público geral através de apresentações em grandes premiações, como o Grammy Awards, e com MVs que passam de 1 bilhão de visualizações.
Eles estão sendo comparados aos Beatles e a famosa Beatlemania, por arrastar multidões aos shows e deixar os fãs malucos. Afinal, se duvidar, até a sua avó sabe quem são esses meninos ou pelo menos já ouviu falar, e isto pode ser visto nos números do grupo, porque só em merchandising foram arrecadados cerca de 1 bilhão de dólares em 2019.
Os rapazes, chamados de “Conglomerado Ambulante”, são os mais jovens a serem agraciados pelo Ministério da Cultura coreano com a medalha da Ordem do Mérito Cultural devido aos seus grandes feitos desde a área econômica. Estima-se que cerca de 800 mil turistas visitaram a Coreia do Sul em 2018 apenas por conta do BTS. Na política externa, o grupo chegou até mesmo a discursar na ONU.
Além disso, a música Dynamite e a turnê Love Yourself: Speak Yourself, que passou no Brasil, arrecadaram para os cofres sul-coreanos mais de 6 bilhões de dólares em 2019.
Cultura em primeiro lugar
O K-pop e a chamada Onda Hallyu, que engloba tanto a música quantos os dramas e demais produtos, só conseguiram se propagar pelo mundo com tanta força devido ao apoio do presidente Kim Young-Sam (1927-2015), que achou no incentivo à cultura uma forma de passar pela recessão que toda a Ásia enfrentava no começo dos anos de 1990.
Em 1995, Kim Young-Sam implantou uma política cultural com o objetivo de priorizar as produções nacionais e melhorar a imagem da Coreia do Sul para os outros países. Essa política teve atenção especial para o pop coreano após ver que isso tornava a cultura do país mais atrativa, assim, em 2012 foi criado um departamento exclusivo para o gênero musical dentro do Ministério da Cultura. Sim, o K-pop tem um órgão próprio dentro do governo sul-coreano.
Outra tática usada pelo governo para propagar o K-pop é torná-lo acessível a todos, facilitando através de leis o uso e monetização de plataformas, como o YouTube. Além disso, a política cultural ajudou a indústria sul-coreana adentrar outros mercados por meio do chamado soft power.
Soft Power
De uma maneira simplificada, o soft power acontece quando uma nação usa de meios não agressivos, como produções cinematográficas ou incentivo ao turismo, para ganhar mais força e prestígio no meio internacional, ou seja, para que o país seja um criador de tendências e impulsione sua economia. A Coreia do Sul faz exatamente isso, pois com grupos como EXO e TWICE, o país foi capaz de se inserir em outros mercados, como o chinês e o japonês, por terem integrantes não coreanos, o que torna mais fácil a identificação por parte daquele público. Sem falar que artistas como o EXO, que lançam álbuns em coreano e mandarim, mais do que dobraram suas vendas.
A esperada consagração
Mas como tudo isso é transformado em benefícios para o país? De acordo com o embaixador do Ministério das Relações Exteriores, Young Sam-Ma: “Quando os estrangeiros consomem K-pop [a música pop coreana], dramas e cozinha coreanos, eles acham a Coreia mais atraente e têm uma impressão mais favorável dos nossos produtos“. E essa aceitação pode ser vista nos números de exportação nos últimos dois anos, que, de acordo com o Consulado Geral da Coreia do Sul no Brasil, rendeu ao país cerca de 57 bilhões de dólares.
Além disso, graças aos grupos já citados e também muitos outros, como (G)I-DLE e as rainhas do Girls’ Generation, o turismo na Coreia do Sul triplicou nos últimos 15 anos e, atualmente, o país recebe cerca de 17 milhões de visitantes todos os anos, totalizando 21 bilhões de dólares a mais na sua economia.
E todos os anos, devido aos shows de K-pop e propagandas feitas pelos artistas, o governo sul-coreano recebe mais de 10 bilhões de dólares e também é um dos únicos países em que o mercado de CDs continua firme e forte, devido aos álbuns com versões especiais e diferenciadas.
É isso, o pop sul-coreano deixou de ser apenas um gênero musical e se tornou uma das maiores fontes lucrativas para a Coreia do Sul.
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Imagens: SM Entertainment, JYP Entertainment, Hybe Corporation, We Heart It (reprodução)
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