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A luta da população transgênero sul-coreana por reconhecimento e aceitação

Na semana em que o Brasil visibiliza a luta das pessoas não-binarias e transgêneras por reconhecimento e respeito, trazemos um olhar sobre a mesma luta na perspectiva da comunidade sul-coreana. Estima-se que existam cerca de 6 mil pessoas transgêneras na Coreia do Sul. Entretanto, o número pode não ser exato, porque não há estatísticas oficiais sobre esta porção da população, apenas dos que foram reconhecidos por lei após cirurgias de redesignação sexual.


A Coreia do Sul ainda não possui uma lei para proteger sua comunidade LGBTQIA+. No caso específico dos transexuais, a discriminação vai desde situações na vida diária, até na hora de cumprir o serviço militar. No ato do alistamento, os recrutas devem passar por exames para testarem sua aptidão para o serviço. Os critérios que regem não só a seleção das forças armadas, como a sociedade em geral, são aqueles baseados apenas na noção binária de masculino e feminino. Aqueles que não se encaixarem em tais rótulos, automaticamente são marginalizados.


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Desde 2007, foram feitas tentativas de aprovar uma lei antidiscrimatória no país. Todas em vão. Para terem a transição de gênero reconhecida e retificação de documentos, os cidadãos precisam cumprir uma série de requisitos, que incluem obrigatoriamente fazerem a cirurgia de redesignação. Isso exclui cerca de 90% da população transgênero, que não foi submetida ao procedimento. Além disso, não é possível mudar o número da carteira de identidade nacional, dado após o nascimento, e que traz o sexo entre os dados.


O tópico da discriminação contra pessoas transgênero ganhou mais força após a morte de Byun Hee-soo, em março do ano passado. Byun foi a primeira soldado transgênero do exército sul-coreano, e movia um processo contra a instituição, após ter sido dispensada sob alegação de problemas psicológicos. Após a morte de Byun, o Tribunal Distrital de Daejeon considerou a dispensa ilegal e cancelou o ato. Ainda assim, não foi criada nenhuma lei ou medida para proibir que esse tipo de discriminação se repita. A exclusão de cidadãos transgêneros também pode ser considerada um tipo de “ironia”, pois muitos deles lutam pelo direito de servir às forças armados, em uma sociedade onde os heteronormativos constantemente tentam evadir do alistamento.


Luta por reconhecimento através da mídia

Por mais que o caminho a ser percorrido ainda seja longo, a comunidade transgênera sul-coreana resolveu adotar as mídias como uma aliada na sua causa. A primeira estrela transgênera do país foi Harisu, que desde sua estreia em 2001 atua como cantora e atriz.

A streamer Pungja usa seus vídeos para mostrar seu dia-a-dia como mulher trans e também para abrir espaço para discussões que permitem uma maior aproximação com a população cisgênero. A exemplo, existe um vídeo onde ela responde perguntas feitas por uma idosa, com muitas dúvidas sobre pessoas transgênero. Este acabou se tornando um dos mais vistos em seu canal.



Os k-dramas também tentam aos poucos incorporar a temática em suas histórias, apesar de percebermos uma abordagem muito comedida. A atriz Lee Joo-young interpretou uma personagem transgênera em Itaewon Class. Apesar dos elogios pela sua atuação, houveram críticas sobre a decisão de escalar uma mulher cisgênero para interpretar um homem trans. Lee já havia interpretado personagens com visuais “masculinizados”, mas sua escalação para o papel de Ma Hyun Hi foi algo inédito em sua carreira.

Por outro lado, quando houve uma tentativa de colocar pessoas verdadeiramente transgêneras na TV aberta, no programa XY She, as críticas foram tão imediatas que apenas um episódio foi ao ar antes da KBS cancelar o show. A premissa era trazer mulheres trans para discutir sobre suas vidas diárias.

Em março, os sul-coreanos irão às urnas para escolher seus novos representantes, incluindo um novo presidente. Mais uma vez, a sociedade terá oportunidade de selecionar governantes que lutem pelas minorias, como é o caso de Jang Hye-yeong, que desde sua eleição tenta passar leis contra discriminação baseada em gênero – incluindo uma para permitir o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Resta apenas esperar se haverá, de fato, pelo menos um passo adiante nesta longa estrada pelo respeito, até a igualdade.


Sobre o Dia da Visibilidade Trans e Travesti

No Brasil, o dia 29 de janeiro ficou reconhecido como Dia da Visibilidade Trans e Travesti, após um protesto organizado por transexuais e travestis marcharem até Brasília nesta data, em 2004. O grupo lutava pela campanha “Travesti e Respeito”, no Congresso Nacional. A Parada do Orgulho LGBTQIA+, uma das maiores da América Latina, também levou o tema às suas pautas em 2016, com o lema “Lei de identidade de gênero, já! Todas as pessoas juntas contra a Transfobia!“.

Apesar de ainda ser um dos países que mais mata pessoas transgêneras e travestis do mundo, a comunidade brasileira já conseguiu dar alguns passos avante, em comparação com a sul-coreana. Até que este caminho traga segurança para toda a população T, a luta continua. A data surge como uma das constantes e necessárias formas de lembrar e visibilizar que todos precisam se unir e lutar, para que a população T não seja esquecida nas políticas públicas e iniciativas privadas.


Informe-se mais sobre a vivência T e Não-binária nos links: Informa Trans e Poupa Trans.


Fonte: (1), (2), (3)
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  • Greyce Oliveira

    Cearense de Fortaleza, é metade uma humana normal professora de Inglês e metade ELF(a) precisando (talvez) de tratamento para parar de falar no Super Junior toda hora.

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