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Pesquisadores discutem se a “invasão” de palavras inglesas pode ameaçar a língua coreana

No ano passado, o tradicional dicionário da Oxford adicionou 26 termos da língua coreana entre seus verbetes. A principal motivação da inclusão a foi a difusão da cultura do país pelo mundo, mas, ao mesmo tempo em que o coreano influencia as outras línguas, ela própria sofre com uma invasão de termos estrangeiros.

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A tendência de adoção dos chamados estrangeirismos na língua coreana foi acelerada pela pandemia e trouxe consigo diversas palavras relacionadas à COVID. De acordo com Park Joo-hwa, pesquisadora do Instituto Nacional da Língua Coreana: “Jargões relacionados à COVID estão se tornando mais convencionais. Terminologias que pessoas não usavam normalmente estão sendo usados mais comumente no contexto social de distanciamento social e testagens“.

O Instituto regularmente divulga listas com termos coreanos que podem ser usados no lugar dos estrangeirismos para estimular o uso de termos da língua local. Uma das últimas listas divulgadas trazia sinônimos para termos como “pandemia”, “epidemia” e “drive thru”.

Mas o que poderia explicar o amor dos coreanos por termos estrangeiros, especialmente os vindo do inglês? O professor assistente Jeffrey Holliday, que ensina linguística na Universidade da Coreia, explica: “Algumas palavras podem fazer alguém soar mais ‘educado’ enquanto outras fazem menos. Os falantes podem manipular isso, mesmo de forma inconsciente, para fazer com que pareçam mais espertos em um contexto, mas talvez mais acessível e prático em outro“.

O Professor Holliday continua: “Quando olhamos para os estrangeirismos de inglês na Coreia, acho que existem algumas motivações comuns para adotá-los. As vezes é porque elas soam mais exóticas ou de classe alta. Em outros casos, pode ser porque as palavras em inglês permitem que o falante evite alguma conotação ou sentimento negativo carregada pela palavra ou expressão equivalente em coreano. E em outros ainda pode ser porque, embora exista uma palavra ou expressão equivalente em coreano, a palavra em inglês pode ser menor e, por isso, percebida como mais prática. Também pode ser uma combinação destes fatores“.

Existe, porém, um movimento contra a propagação de estrangeirismos na língua. Um dos líderes é o Instituto Nacional da Língua Coreana, que tem como uma de suas missões o estímulo pelo uso de palavras da língua pátria no lugar das estrangeiras.

Apesar disso, a pesquisadora Park explicou que os objetivos do Instituto nos últimos anos mudou um pouco. Agora, ao invés de tentar manter a língua coreana “pura”, o órgão busca resolver questões mais práticas como a quebra de barreiras linguísticas entre pessoas de diferentes gerações e locais.

De acordo com Park, o início do projeto do Instituto era refinar a língua coreana para eliminar as influências do japonês após a libertação da Coreia do Sul em 1945. Porém, diferentemente do que aconteceu no passado, os novos estrangeirismos não foram adotados de forma coerciva. Nas palavras da pesquisadora: “Estamos cientes da visão de que estes estrangeirismos são um sinal do tempo. Então, ao invés de ‘purificar’ a língua, estamos mais focados em garantir uma comunicação mais fluida“.

O uso de estrangeirismos pode atrapalhar a comunicação entre pessoas de diferentes gerações ou grupos sociais. Park explica: “Quando um jargão ou estrangeirismo é usado em contextos oficiais ou pela mídia, pessoas que não são familiarizadas com uma área de trabalho específica podem não entendê-las“.

Mas o que poderia motivar a adoção dos termos ingleses no dia a dia dos sul-coreanos? O Professor Holliday explica que os laços culturais entre os Estados Unidos e a Coreia do Sul também é um dos causadores desta prática. Ele elabora: “Quando um novo estrangeirismo é adotado no coreano, o falante de coreano teve de pegá-lo de algum lugar, o que significa que ele teve que consumir alguma mídia ou ter tido contato com um falante de inglês. Então você só pegará estrangeirismos de uma língua quando um número suficiente de pessoas estiverem engajadas com a língua de alguma forma“.

Além disso, Holliday também frisa que o fenômeno não é exatamente novo no coreano. No passado, o chinês também fez o mesmo que o inglês nos dias atuais. A diferença, porém, é que os termos da língua chinesa que foram trazidos para o coreano vieram através dos estudiosos que usavam livros clássicos chineses ou textos budistas. Neste caso, não houveram jovens querendo soar mais “maneiros”.

Por último, o Professor Holliday destaca que as palavras estrangeiras não estão “substituindo” as coreanas: “Muitos não veem assim, mas elas também podem ser vistas como uma forma de enriquecer a língua“.

Fonte: (1)
Imagem: Oleksii Liskonih (iStock)
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Greyce Oliveira

Cearense de Fortaleza, é metade uma humana normal professora de Inglês e metade ELF(a) precisando (talvez) de tratamento para parar de falar no Super Junior toda hora.

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