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Língua

Idosos reclamam do excesso de inglês em cardápios e placas na Coreia do Sul


O portal sul-coreano Edaily publicou recentemente um artigo sobre um dos efeitos negativos da invasão de termos em inglês na Coreia do Sul. Os idosos do país, forçados cada vez mais a conviver com a língua estrangeira, estão se sentindo desconfortáveis e marginalizados por não terem um alto nível de entendimento da mesma.

A taxa de analfabetismo na Coreia do Sul é de cerca de 1%, sendo estas uma das mais baixas do mundo. Porém, isso não significa que todos estejam familiarizados com o alfabeto romano e, menos ainda, com o inglês.

Para ilustrar o cenário, o repórter Hwang Byung Seo conversou com Hwang Mo, de 70 anos. No feriado do Dia Nacional da Fundação da Coreia, celebrado no dia 3 de outubro, o idoso foi a uma das milhares de caferias espalhadas pelo país e, ao tentar usar um terminal de autoatendimento, precisou da ajuda de seus filhos para fazer seu pedido.

Hwang desabafou: “Sold out (esgotado)? Você precisa saber o que isso significa para selecionar ou não. É frustrante. Não consigo ler isso e também existem muitas palavras que não sei. Não posso sequer pedir uma simples bebida sem que meus filhos estejam lá [para ajudar]“.

A tendência não está só nas cafeterias e comércios, os condomínios do país também estão seguindo os mesmos passos e recebendo nomes complexos e até mesmo impronunciáveis. Um cidadão comentou com o repórter: “Minha sogra não pode visitar nossa família porque ela fica confusa com o nome do nosso condomínio“.

Além dos termos que já existem na língua inglesa, novas palavras/gírias e siglas surgem a cada dia para confundir ainda mais esta parcela da população. Um exemplo deste último é a “MSGR”, usada nas cafeterias para se referir ao Misugaru, um tipo de pó feito com diferentes grãos e amplamente usado em bebidas e sobremesas. Este caso específico causa dúvidas até mesmo na geração mais nova que não consegue acompanhar a velocidade das tendências e reconhecer os novos termos.

Menu de cafeteria com a sigla “MSGR”, usada para se referir ao misugaru.
Crédito: reprodução via Edaily

O que diz a lei

De acordo com a Lei de Publicidade ao Ar Livre, todos os letreiros em lugares abertos – de placas até peças publicitárias – devem ser prioritariamente escritos em coreano. Caso haja algum motivo específico para que caracteres estrangeiros – tais como o alfabeto romano – sejam usados, é necessário que haja a escrita equivalente em hangul próximo ao termo.

Porém, nos últimos anos, esta regra está sendo cada vez menos seguida. Em 2019, a ONG Hangul Culture Solidarity observou 7.252 placas em 12 distritos pelo país e constatou que a maioria de 1.704 (23.5%) estavam escritas em língua estrangeira. Apenas 1.102 (15.2%) apresentavam os termos em inglês e em hangul.

O Edaily ouviu o Sr. Kim, de 72 anos, que disse: “Aprendi o alfabeto [romano], mas esqueci de tudo, então não sei ler [coisas em inglês]. Por isso não me sinto confortável de entrar em lojas com apenas termos estrangeiros nas placas“.


Qual o motivo por trás do uso do inglês?

Em 2020, o Instituto Nacional da Língua Coreana entrevistou 5000 adultos sul-coreanos para investigar os motivos que levam a população a apelar para o uso de línguas estrangeiras. Os resultados foram:

  • 41.2% respondeu que a língua estrangeira permite transmitir a mensagem desejada de forma correta;
  • 22.9% respondeu que o uso de terminologias profissionais faz com que pareçam especialistas;
  • 15.7% respondeu que as línguas estrangeiras soam mais sofisticadas que o coreano.

Tais motivos já haviam sido apontados em uma matéria de fevereiro do portal The Korea Herald que discutia se a “invasão” de estrangeirismos poderiam gerar uma ameaça ao coreano.

Leia também:
Pesquisadores discutem se a “invasão” de palavras inglesas pode ameaçar a língua coreana

Apesar da adoção de termos de outras línguas ser algo natural na atual fase de globalização em que vivemos, especialistas apenas pedem cautela para que não haja um excesso no uso de tais termos, fato que está gerando o problema apontado pelo Edaily.

O pesquisador Seo Hyun Jung, do Instituto Sejong de Língua e Cultura Coreana, aponta que uma solução simples é converter estrangeirismos para termos da própria língua local: “Existem muitos casos de abuso de termos estrangeiros até mesmo em contextos governamentais e de negócios. E os cidadãos estão aceitando isso sem levantar nenhuma questão. Precisamos mudar nossa percepção e nos esforçarmos para mudar palavras não-coreanas por termos coreanos, como ‘Hom-Teu’ (sigla de ‘Home Training’, ou ‘treino em casa’) para ‘Jip Kok Woon Dong’ (‘treino em casa’ em coreano)“.

Leia mais:
Dicionário Oxford adiciona 26 termos coreanos entre seus verbetes

Fonte: (1)
Imagens: Twitter via Edaily e RomoloTavani (via iStock)
Não retirar sem os devidos créditos.

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Greyce Oliveira

Cearense de Fortaleza, é metade uma humana normal professora de Inglês e metade ELF(a) precisando (talvez) de tratamento para parar de falar no Super Junior toda hora.

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