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Literatura

Conheça a coletânea de poemas coreanos “Céu, Vento, Estrelas e Poesia”

A coletânea de poemas “Céu, Vento, Estrelas e Poesia” (no original, “하늘과 바람과 별과 시”), de Yun Dong Ju, que ficou conhecido por sua poesia de resistência à colonização japonesa da Coreia (1910-1945) e maestria em traduzir sentimentos complexos em versos emocionantes e universais, foi publicada em 2023 pela Editora 7Letras. Nesta versão bilíngue, os leitores são conduzidos a uma verdadeira imersão lírica em um dos capítulos mais marcantes da história coreana e que conferiu ao seu povo um legado de feridas ainda não completamente cicatrizadas.

Conheça mais sobre a obra a seguir.



Considerado um dos “poetas da resistência” da Coreia do Sul durante o século XX, Yun Dong Ju chega aos leitores brasileiros em uma edição riquíssima da Editora 7Letras, publicada no final de 2023. Com tradução direta do coreano para o português feita pela professora Yun Jung Im, o livro “Céu, vento, estrelas e poesia” reúne trinta e um poemas e ainda conta com textos complementares e um fac-símile da primeira edição de 1948, consagrando-se um verdadeiro mergulho na história que permeia os versos de Yun Dong Ju.

Para o episódio 22 do Podcast Sarangbang, focado em literatura coreana, a tradutora foi convidada para conversar sobre os bastidores da edição e as razões que a motivaram a trazer esses poemas em específico para o público brasileiro. Após o bate-papo, ficou ainda mais evidente a importância da leitura dos paratextos, isto é, dos textos secundários que circundam e complementam um texto principal e que, enquanto tais, desempenham papel fundamental no entendimento do todo. Diante da realidade de que muitos leitores, infelizmente, podem acabar ignorando os paratextos, tão ricos e essenciais para esta coletânea, este texto tem a missão de, brevemente, apresentar o poeta e suas motivações. Afinal, para quem se destina a leitura de “Céu, vento, estrelas e poesia”? Qual a relevância desses poemas para os leitores brasileiros, cujas realidades parecem tão distanciadas daquelas vividas por um coreano do século passado? De que modo a sua obra pode nos impactar?

Nascido em 1917, numa região na época conhecida como Gando, faixa sul da Manchúria, acima da fronteira do que hoje é a Coreia do Norte, Yun só foi reconhecido enquanto poeta após a sua morte bastante precoce, em 1945, na prisão de Fukuoka, no Japão, poucos meses antes da libertação coreana da colonização imperialista japonesa (1910-1945). O poeta, enquanto vivo, fez da poesia seu mecanismo de expressão e também de resistência aos tempos severos e espinhosos que assolavam a península coreana, e que deixaram legados que até hoje cruzam e intermedeiam a existência desse povo.

Engana-se quem passa pelos poemas da coletânea e toma os versos como belos, simples e facilmente palatáveis, pois, por debaixo dessa primeira camada da sua poesia — que de fato está posta ali —, Yun insere inúmeras e diversificadas lentes de luta, melancolia e profunda e dilacerante vergonha da sua existência e da suposta pequenez que os coreanos possuíam diante do imperialismo e domínio bárbaro japonês. E é por conta desses sentimentos que explodiam dentro dele, e que não poderiam ser vertidos de outra forma que não por meio da poesia, que Yun traduz a vergonha e o seu desejo de ser inquebrantável, que resumem a sua angústia, para a linguagem dos versos.

A universalidade dos seus poemas, juntamente com a sua capacidade de tornar sentimentos complexos em palavras simples à primeira vista, podem ser entendidos como elementos que fizeram o poeta permanecer no imaginário coletivo coreano até os dias de hoje, uma vez que a sua história ainda é respirada e intencionalmente relembrada pelos coreanos. A poesia de Yun Dong Ju desvela o han, palavra que, embora intraduzível, refere-se à mágoa contida que faz os coreanos ruminarem as suas inquietudes a ponto de se desaguarem em si mesmos e quase que engolirem a própria existência. Entender a potência e importância desse poeta, e do han que revela em sua obra, é compreender paralelamente a identificação que seus versos trazem para o povo coreano, sua história e seu legado. E, em outras palavras, é, ainda, assimilar como os coreanos se expressam por meio da arte, língua e cultura e entendem as ruínas do seu passado.

Yun era não só um poeta do seu tempo, mas também um poeta que sofria os seus tempos. Posto de outro modo, ele instalava um olhar interno com o intuito de compreender a si próprio e, por extensão e consequência, interpretar o mundo. Era por meio do individualismo, tão comum aos poetas modernos, que ele convertia seus sentimentos em temas universais que pudessem ser não só entendidos como também capazes de atravessar as demais pessoas e dialogar com suas próprias angústias — independentemente de suas realidades e vivências, evidenciando a grandiosidade da sua obra.

“Céu, vento, estrelas e poesia” é, portanto, um livro que carrega consigo dores e lutas que (re)configuraram milhares de vidas coreanas no século passado. É um livro que traduz a opressão e os infinitos silêncios de um regime violento e opressor nos seus esforços de apagar toda a identidade de um povo. É um livro destinado àqueles que buscam, sedenta e veementemente, por mais conteúdos aprofundados sobre a Coreia e a história dos seus vencidos, com o fim de melhor entendê-la. É para aqueles que assumiram como norte um compromisso similar ao posto pelo poeta no “Prólogo”: “Para que eu não tivesse, até o fim,/ Um pingo de vergonha perante os céus […]/ Com a alma de quem canta as estrelas/ Devo amar tudo que vai morrendo/ E seguirei o caminho/ que me foi dado”. Para aqueles que, assim como Yun, têm a certeza de que “quando o inverno passar e a primavera chegar na minha estrela/ Crescerá um manto farto e orgulhoso/ Sobre a colina onde se enterram agora as letras do meu nome/ Como cresce grama sobre túmulos”.

Se interessou e quer se aprofundar na discussão sobre “Céu, vento, estrelas e poesia” ou ainda precisa se decidir sobre a leitura? Então confira o episódio 22 do Sarangbang Podcast, no qual este livro é o tema principal, discutido junto de sua tradutora oficial no Brasil.

O livro está disponível para compra na Amazon, você pode adquirir o seu exemplar neste link.

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por Bruna Giglio e Denise Nobre
Imagem: Sarangbang Podcast
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