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A história do Taekwondo, esporte olímpico e coreano

Não é todo mundo que pode dizer que um esporte que nasceu no próprio país se tornou mundialmente conhecido e praticado por pessoas de todo o mundo a ponto de virar esporte olímpico, um dos maiores méritos que uma modalidade esportiva pode ter, e objetivo final de muitos competidores de alto nível. O Taekwondo traz esse orgulho esportivo para os sul coreanos desde o ano 2000, quando o esporte nacional deles entrou para o grupo seleto de esportes concorridos nos Jogos Olímpicos de Verão.

O Taekwondo é uma modalidade olímpica recente, aparecendo pela primeira vez nos jogos de Seul, em 1988, como esporte de demonstração (é competido, mas não vale medalha olímpica), e retornando da mesma forma em Barcelona 1992. Duas edições depois, o Taekwondo voltou para os Jogos, entrando pela primeira vez como modalidade competitiva, tornando Rio 2016 apenas a quarta vez que o esporte é disputado.

Exibição de Taekwondo nos Jogos de Seul 1988

No entanto, existe muito mais de história até o esporte chegar nesse ponto. Como modalidade esportiva com esse nome, e do jeito que ele é conhecido hoje, o Taekwondo é bem recente, já que foi desenvolvido na década de 1950. Entretanto, suas raízes são bem mais antigas, com 2 mil anos de história.

  • Origem milenar

O registro mais antigo relacionado ao esporte é por volta dos anos de 50 A.C, época em que os três reinos coreanos foram formados: o Reino Goguryeo, que sozinho ocupava a maior parte da península coreana, o Reino Baekje, e o Reino Silla, o menor deles. Pela pequena extensão, o Reino Silla era muito atacado pelos vizinhos e por outras nações, sendo alvo principalmente de piratas japoneses.

Primeira pintura de registro de arte marcial coreana, com golpes usando apenas as mãos e os pés, característica do Taekwondo

Para tentar se defender, Silla pediu ajuda a Goguryeo, que concordou em ensinar uma série de golpes de artes marciais, na qual o mais famoso era o Taek Kyon, para um grupo seleto de guerreiros de Silla, que ficaram conhecidos como Hwarang ( que significa algo como “guerreiros em florescimento”). Esses guerreiros depois montaram uma academia para jovens nobres de Silla com o nome de “Hwarang Do”, onde ensinavam o Taek Kyon e também história, filosofia do confucionismo, moral, estratégia militar e habilidades sociais. O Hwarang Do tinha como princípios os cinco códigos de conduta humana de Won Gwang: lealdade, dever, confiabilidade, valor e justiça. Hoje, esse código se tornou base para os onze mandamentos do taekwondo moderno:

1. Lealdade com o seu país

2. Respeito aos seus pais

3. Fidelidade à sua esposa

4. Lealdade aos seus amigos

5. Respeito aos seus irmãos e irmãs

6. Respeito aos mais velhos

7. Respeito aos seus professores

8. Nunca tire uma vida injustamente

9. Espírito indomável

10. Lealdade a sua escola

11. Termine o que começou

Divisão dos Três Reinos Coreanos

O Hwarang Do se espalhou pela península porque seus praticantes viajavam pelo país para conhecer as diferentes regiões, pessoas e culturas, levando consigo o seu próprio conhecimento. Depois de séculos de batalhas entre os Reinos, em 668 DC, o Reino Silla se tornou vitorioso e unificou a península. Com o período de paz, a prática da arte marcial ensinada no Hwarang Do foi sendo esquecida, principalmente na Dinastia de Joseon (1392-1897), quando o Rei Taejo estabeleceu o Confucionismo no lugar do Budismo como religião, o que priorizava o ensinamento escolar intelectual. Mesmo assim, o Tae Kyon persistiu ao longo dessa Dinastia por ser ainda praticada pelos militares e também como forma de jogo folclórico no festival de May-Dano, e assim chegou ao século XX.

  • As artes marciais coreanas na modernidade

No século XX, com a invasão japonesa, eles levaram suas próprias artes marciais, suprimindo as formas de luta locais, e muitos dos praticantes daquela época fugiram para a China e outros países próximos. Com o fim da Segunda Guerra Mundial, o país foi liberto, os coreanos retornaram ao país e as artes marciais coreanas retornaram, com apoio do governo, que patrocinou o ensinamento das lutas, atraindo novos alunos.

Particularmente, logo depois do fim da guerra, em 1945, a primeira escola de Taek Kyon, chamada de “Kwan”, foi inaugurada em Seul, seguida por várias outras pelos anos seguintes. Como haviam várias formas diferentes da arte, que foi se modificando principalmente pela influência das lutas japonesas, recebendo também outros nomes, como Soo Bahk Do, Kwon Bop, Kong Soo Do, Tae Soo Do and Kang Soo Do.

As forças militares coreanas foram formadas também em 1945, e no ano seguinte, a época, o vice capitão Choi Hong Hi começou a ensinar Taek Kyon na base de Kwang Ju. Em 1952, no meio da Guerra da Coreia, o Presidente Syngman Rhee assistiu a uma performance de mestres de artes marciais coreanas e, impressionado, falou com Choi Hong Hi e ordenou que todos os soldados recebessem treinamento na luta.

Em 11 de abril de 1955, um grupo de especialistas em artes marciais se reuniu na Coreia do Sul para unificar todas as lutas em um único sistema. Na época foi feita uma votação e o nome “Tae Soo Do” foi aceito pela maioria dos mestres. Dois anos depois o nome mudou para “Taekwondo”, como sugestão do general Choi Hong Hi, que é considerado o pai do Taekwondo. O novo nome foi escolhido por lembrar o “Taek Kyon” e pelo seu significado, já que descreve tanto as técnicas de mão quanto as de pés, já que “Tae” significa “chutar” ou “esmagar com os pés”, “Kwon” é “socar” ou “destruir com as mãos” e Do é “caminho”, “método”.

General Choi Hong Hi, pai do Taekwondo

Mesmo com a criação do esporte oficial, os Kwans não se unificaram como um todo até 1961, quando o novo governo militar decretou que os Kwans se juntassem para formar uma organização chamada de Korea Taekwondo Association (KTA), cujo primeiro Presidente escolhido foi o General Choi Hong Hi. Em 62, o esporte já virou modalidade do Encontro Nacional de Atletas e também a KTA examinou todos os ranqueamentos de faixa preta para determinar o padrão. Nos anos seguintes, a KTA também enviou atletas para exibições pelo mundo para apresentar o esporte, em especial nos Estados Unidos, onde em 1967 já é criada a U.S. Taekwondo Association.

Em 1973, Kim Young-wun se torna presidente da KTA, depois da renúncia de Choi Hong Hi, que fundou o International Taekwondo Federation (ITF) no Canadá, onde trabalhava com foco na modalidade como metodologia de defesa pessoal, e não como esporte. Kim Young-wun define que uma organização mundial da modalidade deveria ser sediada no país que a criou, e funda a World Taekwondo Federation (WTF), que até hoje é o único órgão que o governo sul coreano aceita como órgão regulatório do esporte. E no mesmo ano aconteceu também o primeiro campeonato mundial de Taekwondo, em Seul, mesmo lugar em que uma década e meia depois o esporte dava o seu primeiro passo olímpico. Já hoje em dia, depois do nascimento do Taekwondo moderno em 55, mais de 30 milhões de pessoas de 156 países diferentes praticam a arte marcial coreana.

Nas Olimpíadas do Rio 2016, as competições acontecerão entre os dias 17 e 20 de agosto, da manhã até a noite. São duas categorias por dia, uma masculina e uma feminina, com as disputas de medalhas em todos os 4 dias de competição. A Coreia do Sul classificou 5 atletas (dos 8 possíveis, já que só é permitido um por país e por categoria) para essa competição: Kim Tae-hun, na categoria homens até 58kg, Lee Dae-hoon, entre homens até 68kg (ele foi prata em Londres 2012), Cha Dong-min, entre homens a cima de 80kg (ouro em Pequim 2008), Kim So-hui, entre as mulheres até 49kg e Oh Hye-ri, entre mulheres até 67kg.

Para quem se interessou em ver ao vivo, ainda tem tempo. Tem ingresso disponível para todos os dias e sessões na Arena Carioca 3, na Barra da Tijuca, com valores entre 70 e 420 reais. E para ver uma amostra do que está por vir, assista um trecho com os melhores momentos do Taekwondo nas últimas Olimpíadas:

Taekwondo em Londres 2012

Fontes: learnkoreanlanguage.com, worldtaekwondo.com, wikipedia, rio2016

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  • Paula Bastos Araripe

    Jornalista carioca que tem o k-pop como trilha sonora da vida. Multistan incorrigível, defensora de grupos (injustamente) desconhecidos e nostálgica da segunda geração do k-pop. Highlight (Beast) tem certificado vitalício como meu grupo ultimate.

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