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O mês de setembro se inicia e com ele surgem numerosas campanhas gerando conscientização sobre a importância da saúde mental. Através da internet é possível encontrar grupos, fóruns, páginas, sites e uma infinidade de conteúdos focados em melhorar sua percepção de si mesmo e da vida como um todo, instigando o leitor a procurar formas de tratar a si mesmo com mais compaixão, no entanto, essa terra sem face também pode se tornar um antro tóxico.
Quando o uso das redes sociais é feito para semear ódio, discórdia, insegurança, perseguir e humilhar, a interação se torna cyberbullying. Para discutir de forma mais aprofundada as causas e consequências da violência cibernética, conversamos com a psicóloga Ana Paula Torres, profissional formada pela PUC-GO.
Bullying
“Bullying” é um termo em inglês usado para caracterizar agressões físicas ou verbais sistemáticas, sem motivos aparentes, gerando perseguição ao indivíduo agredido. De acordo com Ana Paula, o bully (pessoa que provoca o assédio) procura uma relação de poder na qual ele se estabelece como dominante através de ameaças e ofensas. Esse comportamento pode ser levado para o ambiente virtual por meio das redes sociais, espaços sem limitações nos quais o agressor está escondido por trás de um ícone, um usuário e pela tela do computador ou celular.
“O bullying é uma prática em que o agressor busca estar em uma relação de poder, se estabelecendo por meio de ofensas e ameaças. A internet é um espaço que facilita isso, pois pode passar a impressão que não estamos lidando com outra pessoa ao lado da tela, ao estar na segurança de sua casa pode facilitar com que essa pessoa fale aquilo que deseja.
O bullying ocorre principalmente por noções pré estabelecidas que o sujeito tem de algo, o famoso preconceito, que nada mais é julgar sem conhecer, ou julgar a sua própria posição como superior. Como por exemplo seus gostos, seus artistas preferidos, como melhores do que as de outra pessoa.”
Pontuou a psicóloga, ressaltando que parte das motivações vem de concepções concebidas antes de qualquer interação com o alvo das ofensas.
O cyberbullying entre fan accounts
O advento da tecnologia e a popularização das redes sociais para a criação de fã-clubes, gerou uma nova forma de expressar paixão, seja por artistas, políticos, esportistas, modelos, etc. Redes como Twitter, Facebook, Tumblr, Instagram, Reddit e semelhantes, permitem um encontro de fãs vindos de diferentes lugares, fuso-horários e idiomas, unidos por esse fator em comum. Contudo, a presença de inúmeras personalidades diferentes podem gerar desentendimentos ao defender seu artista favorito de acusações ou opiniões contrárias.
“Ao falarmos de ídolos, podemos associar essa violência como uma derivação de um sentimento de euforia. Principalmente na adolescência, é comum que gostemos de algum artista ou banda.
Quando vemos nosso cantor preferido por exemplo, o cérebro produz uma grande quantidade de dopamina, que causa um sentimento de felicidade que, em excesso, é o que caracterizamos como euforia. Pode ser isso que faz com que essa defesa de seus artistas surjam, atacando outros, querendo reafirmar que sua escolha é melhor que a escolha do outro.”
de acordo com Ana Paula, essa reação química pode gerar comportamentos extremos.
A existência da euforia deixa de ser um sentimento saudável, quando os comentários em defesa passam a atacar gratuitamente com quem se está interagindo. O ser humano, como dito por Aristóteles, é um ser social, isto é, depende da convivência e aprovação externa de outros semelhantes para continuar engajando em atividades e condutas. O apoio a determinadas ações gera o que na psicologia chamam de ‘reforço’, ou seja, no contexto das redes sociais, publicações polêmicas e exposeds em threads,geram engajamento positivo ou negativo para o usuário – demonstrando aprovação do comportamento, estando certo ou errado, existem outros que pensam igual.
“Na internet tem a questão da visibilidade. Se mais pessoas engajam com um comentário, curtindo, comentando, na psicologia é o que chamamos de reforço. O ser humano é um ser social, ele busca aprovação dos seus iguais. Os likes são uma nova forma de aprovação, de pertencimento grupal.”
esclareceu Ana Paula.
A perseguição online gerada pelos cancelamentos e exposeds geram também a diminuição da empatia. Enquanto a internet é uma forma efetiva de divulgação de problemas, causas e um solo fértil para nascimento de protestos fundamentados e progressistas, também pode ser uma arma para debates unilaterais e disseminação de informações falsas, capazes de arruinar a vida, carreira e, principalmente, a saúde psicológica do alvo.
A melhor maneira de conscientizar as pessoas acerca dessa prática é por meio da educação. Explicar o que é o bullying e seus efeitos nocivos tanto a quem é vítima de violência quanto a quem pratica. Fazer isso de forma acessível e prática, para despertar um sentimento de empatia ao próximo e ao que ele sente, o que muitas vezes falta naqueles que praticam o bullying.
Ana Paula Torres, psicóloga (PUC-GO)
A psicóloga pontuou também que existem situações onde o bully, ou aqueles que engajam nos discursos de ódio e ações, não conseguem enxergar o peso das próprias palavras, ou o impacto negativo que elas podem vir a ter na vida do outro.
Por diversas vezes a perseguição massiva online é gerada pela desinformação. O que se começa como um ataque pessoal, pode facilmente criar dimensões maiores e se tornar um ataque coletivo injustificado. Por isso, antes de ofender e entrar em defesa do possível agressor, tente entender e pesquisar a fundo os motivos para questionar se vale a pena contribuir ainda mais uma cadeia de ofensas.
Consequências do cyberbullying
Apesar do bullying e cyberbullying serem comumente praticados em idade escolar – entre os 3 e 18 anos, infância e adolescência -, a psicóloga incluiu também a existência de adultos perseguindo outros regularmente, cruzando a linha tênue do convívio profissional, chegando ao abuso emocional. Podendo inclusive ultrapassar a esfera de convivência presencial, stalkeando e humilhando por mensagens no Whatsapp, por exemplo.
Apesar do cyberbullying – como título – ainda não ser considerado um crime perante a lei brasileira, as ações que o caracterizam – calúnia, difamação, injúria, constrangimento ilegal, ameaça, molestar ou perturbação de tranquilidade – são passíveis de punições severas: maiores de 18, dependendo da gravidade do crime, podem ser levados à prisão, para menores são consideradas infrações, sendo condenados a pagar por danos morais e físicos.
Vendo o outro lado, os danos psicológicos deixados pelo cyberbullying não tem o mesmo peso no autor como nas vítimas, podendo levar ao desenvolvimento de depressão, ansiedade, síndrome do pânico, pensamentos suicídas, isolamento voluntário, entre outros problemas atrelados à perseguição.
Casos extremos de cyberbullying são facilmente encontrados entre os internautas, principalmente voltados às figuras públicas, famosos com suas vidas expostas ao mundo. Por exemplo, na Coreia do Sul, nos últimos anos o assédio moral contra idols e outros artistas fizeram surgir a possibilidade da criação da ‘Lei Sulli’, ato jurídico que penalizaria crimes de ódio cometidos online, através de comentários em redes sociais e fóruns, como eram constantemente revelados pela cantora e atriz que nomearia a lei. Sulli (ex-f(x)) tirou a própria vida em outubro de 2019, após sofrer com a perseguição online durante boa parte de sua carreira. A lei ainda não saiu do papel, mas levantou mais uma vez a discussão sobre o uso das redes sociais e anonimato para o mau.
Violência nunca é a resposta
A discussão acerca do que é e como acontece o cyberbullying ainda não respondeu uma pergunta crucial: o que fazer quando estiver sofrendo, ou caso conheça alguém vítima desse mal da era cibernética?
De acordo com Ana Paula Torres, violência nunca é a resposta. Logo, contra-atacar seu agressor com palavras igualmente dolorosas ou perseguições não vai trazer bons resultados, mas sim iniciará um ciclo de violência para ambos. A psicóloga ressaltou que a forma mais responsável de reagir é procurar ajuda, denunciar e nunca se submeter às agressões calado.
O melhor a fazer ao se deparar sendo vítima de bullying é pedir ajuda a um responsável que poderá te auxiliar e procurar a ajuda necessária, como terapia para que o adolescente aprenda ferramentas para enfrentar e lidar com isso da maneira adequada. Pontuar ao agressor que seus comentários são maldosos e estão causando angústia e sofrimento pode ser uma saída eficaz. E lembrar-se de que você não precisa se submeter a situações de violência, você não deve nada àquela pessoa, não precisa nem responder se não quiser, isso não te desqualifica ou diminui de forma alguma e acaba também tirando o poder que o agressor busca.
Ana Paula Torres – Pscióloga (PUC-GO)
Em prol do combate ao cyberbullying, a UNICEF criou uma aba no site oficial, tratando especificamente sobre medidas a serem tomadas, ressaltando a importância de coletar evidências, denunciar e procurar ajuda caso haja perigo iminente. O portal também menciona a importância do uso saudável das redes sociais, assim prevenindo que suas informações sejam usadas para manipular ou humilhar.
A melhor forma de lidar [com o bullying/cyberbullying] é buscando auxílio psicológico e contando a experiência, cada pessoas experiencia e vivencia as coisas de uma forma. Para uma pode ser só desligar as redes sociais e ela está bem, para outra as ofensas podem ter um impacto maior. Dessa forma, é necessário a ajuda para que ela possa entender o que viveu e a melhor forma para ela lidar com essa experiência, quais comportamentos adotar daqui pra frente e as melhores estratégias de enfrentamento para ela. E isso é muito pessoal, não tem uma receita pronta do que fazer para ficar bem ou de como agir. A terapia permite que a pessoa encontre o que melhor se adequaria a ela.
Ana Paula Torres – Psicóloga (PUC-GO)
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Nunca se esqueça: Sua saúde mental deve ser sempre uma prioridade e você não está sozinha(o) nessa.
Fontes: (1), (2), (3)
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