[AVISO DE GATILHO] O texto a seguir contem temas sensíveis que podem causar gatilhos. Recomendamos cautela ao prosseguir a leitura.
Em uma decisão histórica, o Tribunal de Justiça de Seul ordenou que o Japão compense 12 mulheres vítimas da escravidão sexual provocadas por soldados japoneses antes e durante a 2ª guerra mundial. A condenação foi anunciada na última sexta-feira (8).
As vítimas entraram com o processo contra o Japão em 2016, por sequestro, violência sexual e tortura durante a Segunda Guerra Mundial; que ocorreu enquanto eram adolescentes e/ou jovens de 20 e poucos anos. O triste ato ocorreu durante a ocupação da península coreana pelo Japão, e “as vítimas foram submetidas a dezenas de atos sexuais forçados por soldados japoneses todos os dias”, contou o juiz que revelou ao revelar a sentença.
A ocupação japonesa terminou em 1945, mas as vítimas sofreram um grande trauma psicológico nos anos após a guerra, bem como um estigma social generalizado, disse o juiz. O juiz concedeu a quantia total de $91.000 (100 milhões de won) solicitada pelos demandantes, acrescentando que “os danos sofridos pelas vítimas são irreparáveis e ‘ultrapassam’ o valor”.

Crédito: Chung Sung-Jun— Getty Images
Para os primeiros-ministros japoneses, a desculpa já havia sido feita em 1965, como parte de um acordo para normalizar a relação entre os dois países, porém essa desculpa é considerada “injusta” pela Coreia do Sul, que vivia um período de ditadura militar.
Em 2015 outro acordo também foi feito, onde o Japão pediu desculpa e prometeu ajudar com US$ 8 milhões para uma fundação de apoio às “mulheres de conforto” sobreviventes. Mas em 2018, o presidente da Coreia do Sul, Moon Jae-in, efetivamente anulou o acordo – que havia sido acordado por seu antecessor – dizendo que não refletia os desejos das mulheres sobreviventes.
O Governo Sul coreano respeita a decisão do tribunal e fará todos os esforços possíveis para restaurar a honra e dignidade das vítimas das ‘mulheres de conforto.
Disse o Ministério de Relações Exteriores da Coreia do Sul.
O Ministério de Relações Exteriores afirmou reconhecer o acordo de 2015 entre os países e disse que o governo também “revisará o impacto da decisão nas relações diplomáticas e fará todos os esforços para continuar a cooperação construtiva e orientada para o futuro entre a Coreia e o Japão”.
Entretanto, as autoridades japonesas criticaram o veredito do tribunal. O secretário-chefe de gabinete, Katsunobu Kato, disse em coletiva de imprensa que a decisão é “extremamente lamentável” e “absolutamente inaceitável”.
Kato acrescentou que o governo japonês não está sujeito à jurisdição sul-coreana e que o país pediu repetidamente que o caso fosse arquivado. “Exigimos veementemente que a Coreia do Sul, como país, dê uma resposta apropriada para corrigir esta violação do direito internacional”, disse ele.
Crédito: Kim Kyung-Hoon (REUTERS)
As mulheres de conforto
Os especialistas estimam que até 200.000 mulheres da Coreia do Sul e de outros países asiáticos foram forçadas à escravidão sexual japonesa. Segundo o relatório das Nações Unidas, o exército japonês recrutou mulheres, por engano, coerção e força, para seus bordéis.
Um grande número de mulheres vítimas fala da violência praticada contra familiares que tentaram impedir o rapto de suas filhas e, em alguns casos, de serem estupradas por soldados na frente de seus pais antes de serem retiradas à força.
Afirma o relatório das Nações Unidas.
Apesar do pedido de desculpas e compensação do Japão, ativistas sul-coreanos dizem que o: “pedido de desculpas não foi longe o suficiente e muitos exigem mais reparações”. O tópico continua sendo um ponto amargo nas relações tensas dos dois países. Em 2017, uma estátua memorial se tornou o centro de uma briga diplomática, com o Japão interrompendo negociações sobre uma troca de moeda planejada, atrasando o diálogo econômico e chamando de volta dois diplomatas da Coreia do Sul.
O tempo está se esgotando para o Japão e a Coreia do Sul entrarem em acordo para ajudarem e compensarem essas vítimas, pois desde que os sobreviventes se tornaram públicos, há mais de 30 anos, apenas 16 sobreviventes coreanas (que se tem registro) ainda estão vivas, e sete das 12 vítimas morreram desde que o processo foi aberto em 2013. Elas agora estão sendo representadas por parentes.
Apesar de todos acordos existentes entre os países, o tribunal coreano garante o direito das vítimas de processarem o país, e ainda afirmou que analisa mais 20 casos de outras mulheres.
Fontes: (1), (2), (3) e (4).
Imagens: Capa – Associated Press, Chung Sung-Jun, Reuters e Sophie Jeong (CNN).
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