Menstruar pode trazer algumas complicações na rotina das pessoas com útero. Dores, vazamentos e indisposição acompanham esses dias para qualquer pessoa. Você já pensou em como as idols de k-pop ficam no período menstrual?
Não é comum ouvir as cantoras de k-pop falarem abertamente sobre menstruação, e um dos motivos é o tabu que envolve o assunto. Não só na Coreia do Sul, mas em diversas partes do mundo, falar sobre menstruação é motivo de vergonha e inquietação.
Em um artigo para o site Korea Exposé, a jornalista coreana Jieun Choi fala sobre o estigma que a sociedade coreana possui no assunto. Nele, ela fala que, apesar de existir uma palavra coreana para a menstruação, wolgyeong, essa palavra raramente é falada. A palavra saengri, que é um termo guarda-chuva para funções fisiológicas, é a mais utilizada. Quase um “tô de chico” sul-coreano.
A dificuldade em se falar abertamente do assunto e evitar usar o termo específico vem de raízes históricas, onde o ciclo menstrual era visto como sujo, não digno. E podemos ver essa visão na mídia já que o tema é pouco abordado, mesmo em propagandas de absorventes.
Idols de k-pop que já falaram sobre menstruação:
Não existe muito conteúdo sobre o assunto, mas recentemente ex-idols têm ido às redes para responder as perguntas que deixam os fãs curiosos, mas que não são respondidas. É o caso de Serri (do Dal Shabet) e Park Soo Bin (ex-integrante do Blady), que falaram sobre o assunto em seus canais no YouTube.
Com relação aos produtos e medicamentos usados, Serri contou que a maioria das Idols usam absorventes internos, que ela considera menos desconfortáveis que os externos. Quando têm compromissos que podem ser prejudicados pela menstruação, como reality shows de viagens e outras gravações que são muito longas, é comum tomar remédios para atrasar ou inibir a menstruação. Park Soo Bin fala que, ao contrário do que se especula, as idols não são obrigadas a tomar esses remédios, e tomam apenas por vontade própria.
Park Soo Bin, também explicou em detalhes como ela e as outras integrantes do Blady lidavam com a menstruação durante a rotina do grupo. Os treinos e apresentações não podiam ser alterados por esse motivo, mesmo quando sentiam cólicas e outras dores típicas da menstruação. Quando os treinos contavam apenas com as integrantes, elas tinham a compreensão das outras, que não cobravam o mesmo esforço. Quando eram treinos com professores não tinha saída, a maioria insistia que elas tinham que aguentar a dor durante os treinos.
[Sobre as apresentações] “Você realmente tem que aguentar, mas é por pouco tempo. Não tem o que fazer. É difícil estar com dor e ter que se apresentar, não podendo mostrar que sente dor.”
Park Soo Bin
Os figurinos também podem trazer complicações pois pode não ter como fugir da temida calça branca. Em caso de figurinos combinando, não há a possibilidade de alterar a roupa para evitar possíveis vazamentos. Já quando as integrantes não precisam usar roupas iguais, é possível pedir para as estilistas alterarem o figurino, tornando a situação mais confortável.
Quando o ambiente afeta a saúde
Um tópico muito tocado pelas Idols quando falam sobre menstruação é o fato de ser comum entre elas ter ciclos menstruais irregulares ou interrompidos, desde o período de trainee. Park Soo Bin fala que, além das dietas restritivas, o ambiente estressante e a rotina exaustiva de exercícios são fatores causadores desses problemas.
Em um episódio do podcast Get Real, Ashley Choi (do Ladies’ Code), contou um pouco sobre ter passado um ano sem menstruar, quando ainda era trainee. Ela fala que começou a fazer dietas extremas pois a empresa pedia que ela perdesse entre 2 e 4 quilos, mesmo sendo considerada magra na época.
“Eu comecei a só comer tomate cereja o dia inteiro e então eu não menstruei por um ano, dois meses depois de começar a treinar. Eles me levaram ao ginecologista. Tomei injeção de hormônios, não funcionou. Sabe quando finalmente voltou? Quando eu mudei de empresa e me deram um mês de férias, antes de começar as preparações para o Ladies’ Code. Foi um mês de relaxamento, de comer o que quisesse, de dormir bastante. Curtindo o tempo livre antes de voltar para a loucura do treinamento.”
Ashley Choi – Podcast GET REAL
Para além dos holofotes
Apesar do tabu envolvendo a menstruação, existem esforços na Coreia do Sul para resolver problemas relacionados ao período. O país é um dos poucos que garante em lei a “Licença Menstrual”, que permite que a pessoa tire folga em dias de fortes sintomas da menstruação. Esse direito existe desde 1943 na Coréia do Sul, apesar de sofrer várias alterações desde então. No Brasil a Licença Menstrual foi colocada como projeto de lei em 2019.
A Coreia do Sul possui um dos maiores preços de absorventes e produtos menstruais do mundo e em 2017 uma das principais marcas de absorventes aumentou em 20% os preços dos seus produtos. Essas atitudes contribuem para a “Pobreza Menstrual”, expressão usada para se referir à falta de acesso a produtos e formas de manter a higiene íntima durante o período menstrual.
Após o aumento nos preços, histórias de adolescentes de baixa renda que não tinham condições de comprar absorventes viralizou no país, após ser revelado que elas utilizavam objetos como palmilhas de sapatos como alternativa ao produto. Em 2018, após essas histórias ganharem notoriedade, a cidade de Seul passou a oferecer produtos de higiene feminina de forma gratuita em diversos locais da cidade.
Famosas sul-coreanas no combate à Pobreza Menstrual
Vários famosos sul-coreanos fizeram doações substanciais para o combate à Pobreza Menstrual. Em dezembro do ano passado, atriz Park Shin Hye doou o valor suficiente para a compra de 90 mil absorventes para adolescentes em situação de pobreza através do Starlight Angel Project, junto com a ONG cristã internacional Korea Food for the Hungry. Sua doação foi o suficiente para distribuir os produtos para 500 adolescentes, em centros infantis do país. O MOMOLAND doou no mesmo ano a quantia de 1.500 produtos para a ONG internacional Good Neighbours.
Outra famosa que fez uma doação generosa a causa é a atriz e idol, Seohyun, do Girls’ Generation. A doação feita para a ONG Gfoundation equivale a 92 mil dólares em produtos. Seohyun é modelo da marca de produtos de higiene feminina Secret Day, que deu apoio à doação.
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Imagem: Freepik, Daniele Fernandes
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