O Chuseok é um dos mais importantes feriados sul-coreanos. Durante três dias, famílias se reúnem para agradecer as colheitas fartas. Conheça a origem da celebração que exala tradição.
Durante milênios até a metade do século 20, quando se iniciaram movimentos pela industrialização no território, a Coreia foi um país predominantemente rural, dependendo das estações e de grandes colheitas para manter as famílias e a economia. Logo, a rotina de plantações era baseada nas fases da lua, não no calendário solar (conhecido como gregoriano e utilizado em países ocidentais como o Brasil). Os costumes girando em torno das fases da lua fez surgir diversas celebrações em agradecimento pelas bênçãos e fartura. Semelhante ao Dia de Ação de Graças no ocidente, o Chuseok é um dos feriados mais importantes para os coreanos. Celebrado no 15º dia do oitavo mês de acordo com o calendário lunar, se estende por três dias de festa e tradições.
Anteriormente, o Chuseok era conhecido como Hangawi, traduzido como “celebração do meio do outono”. Apesar de não se saber a exata origem da data, estudiosos afirmam que se deve à importância da lua nas tradições antigas. Quando o satélite natural da Terra chegava em seu ápice mais brilhantes no meio do outono, religiões xamânicas na Coreia celebravam a lua cheia com banquetes completos, preparados com as colheitas fartas, agradecendo pela riqueza e brindando ao luar e aos ancestrais pelas bênçãos. Ainda há indícios históricos de que a data não era celebrada quando as safras não eram abundantes. Chuseok significa literalmente “véspera do outono”, um outro indício do significado original.
A importância milenar do Hangawi/Chuseok é expressada pelo proverbio: “Nada mais, nada menos. Somente o ‘Hangawi’”, uma frase usada para honrar os ancestrais e a natureza pela generosidade e fartura.
Parte dos costumes atuais, no entanto, teriam sido mencionados de forma mais clara a 2.000 anos atrás, no período em que o território ainda era dividido entre os três grandes reinos: Goguryeo, Baekho e Silla, unificados posteriormente como Goryeo, desmantelado e reunido mais uma vez como Joseon, dinastia que se manteve até 1910. Um dos primeiros registros de festividades teria originado de um evento tradicional, quando Silla estava sob o comando de seu terceiro rei, Yuri.
O festival chamado “Gabae” (também termo para o meio do outono) foi uma competição de tecelagem que durou um mês com duas equipes. Paralelamente teriam acontecido torneios de tiro com arco e demonstrações de artes marciais. Ao fim, aconteceu uma grande celebração com bebidas alcóolicas e pratos preparados com ingredientes recém colhidos, servidos pelo time perdedor aos vencedores.
Durante o período em que a Coreia foi anexada ao Japão, entre 1910 e 1945, os militares e governantes japoneses decidiram a princípio que parte dos feriados poderiam ser mantidos de forma diluída. Com o tempo foi se tornando marginalizada e proibida, assim como quaisquer outras demonstrações culturais coreanas, em tentativas de apagar os traços históricos e celebrações na península. Com o fim do domínio nipônico, tudo pôde voltar e as tradições foram trazidas à tona.
Como muitos dos feriados modernos, os costumes passaram por mudanças até chegar ao momento atual. Nem tudo feito nos milênios anteriores sobreviveu às guerras, divisões, invasões, influências, anexação e passagem do tempo. Tradições se configuram como partes importantes da cultura sul-coreana, por isso há tanto respeito com a própria história e ancestrais. No que se refere aos eventos e preparações para o Chuseok, isso se mantém claro.
Atualmente, o Chuseok tem seu início quando os membros da família viajam para visitar a casa de seus avós ou parentes mais velhos. A primeira parte da celebração acontece com a cerimônia chamada Charye, na qual todos vestidos com trajes tradicionais, hanbok, oferecem aos ancestrais, pratos preparados naquele dia. Todas as iguarias são posicionadas em lugares específicos da mesa: com arroz e sopas ao norte, bolinhos de arroz e bebidas ao oeste, frutas e vegetais ao sul e carne colocada no leste. Todos então se curvam em respeito a eles em frente a um santuário montado para honrar a imagem e a memória. Em seguida é o Seongmyo, ou seja, a visita aos túmulos dos falecidos para performar o Beolcho, a limpeza em volta, tirando a sujeira, poeira e ervas daninhas.
Voltando à casa, acontece uma grande ceia com pratos tradicionais e, especificamente, songpyeon um bolinho colorido moldado em formato de meia-lua com massa feita com arroz, recheada com feijão vermelho, semente de gergelim, castanhas, feijão-mungo, batata doce ou outro recheio da preferência da família, cozido no vapor com uma base de agulhas de pinheiro para dar um aroma especial à iguaria. Ele é tradicionalmente preparado pelos membros femininos de cada família. Em seguida histórias e lendas são contadas, alguns também lutam ssireum, modalidade de esporte coreano.
Para fechar a noite, as mulheres performam uma dança especial chamada ganggangsullae, na qual elas dão as mãos e dançam sob a luz da lua cheia, atraindo abundância e conquistas para a família. Historiadores traçam a origem da coreografia na província de Jeolla Namdo (ou Jeolla do Sul, província sul-coreana), há mais de 5.000 anos atrás. Ganggagnsullae também foi uma ferramenta e tática de guerra importante durante o século 16, quando a usaram para impedir a invasão japonesa ao vestir mulheres e meninas em uniformes de soldados e as colocavam em círculo, dançando e se movimentando para dar a impressão de que os coreanos treinados estavam em grande maioria na Mina de Okmae. Assim como o hanbok e os costumes festivos, o ganggangsullae é um patrimônio imaterial sul-coreano.
Desde a década de 1960 também virou costume a troca de presentes. A princípio era uma forma de trocar produtos essenciais, como sabonete, açúcar e condimentos. Com a melhora na economia, os presentes atuais também ficaram mais sofisticados e incluem doces, brinquedos, eletrônicos, cosméticos, entre outras variedades.
Texto feito em parceria com o Centro Cultural Coreano no Brasil
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Imagens: Namwono30 via The Jeju Weekly, Bárbara Contiero via Revista KoreaIN, Hanguk Ilbo, Donga Science, Korea Creative Content Agency
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