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Culinária

Qual a diferença entre ramen, ramyun e ramyeon?


Com a popularização dos K-dramas, o macarrão instantâneo sul-coreano atingiu o recorde de exportações neste primeiro semestre de 2022. Apesar do sucesso, os fabricantes ainda não chegaram a um consenso: Qual a forma correta de se escrever o nome do produto em inglês nas embalagens?

O portal The Korean Herald procurou referências em três fabricantes. A Nongshim, marca líder de macarrões instantâneos no país, escreve “ramyun”. Porém, as marcas Ottogi e Samyang usam “ramen” nas embalagens dos produtos importados.

Para acabar o impasse, vamos responder à pergunta: Qual a diferença entre ramen, ramyun e ramyeon?



Focando primeiramente no ramyun e ramyeon, o Instituto Nacional da Língua Coreana explicou: “De acordo com a ‘Ortografia da Romanização da Língua Coreana’, o termo é para ser escrito ‘ramyeon’“. Porém, o termo para macarrão instantâneo não é um termo do coreano, mas um empréstimo de uma língua estrangeira, nesse caso do japonês. Sendo assim, as regras de romanização não se aplicariam aqui. Conclusão: “ramyun” também seria uma grafia aceita.

Agora a questão que fica é: Faz alguma diferença?

E a resposta é sim. O motivo é que, para muitos coreanos, ramen e ramyeon são dois pratos diferentes. E, para entender o momento em que esta diferenciação aconteceu, é necessário voltar alguns anos.


A origem do ramen

O escritor Hayamizu Kenro conta em sua obra Ramen to Aikoku (traduzido livremente como “Ramen e Patriotismo”) a história de como o macarrão “sobá”, de origem chinesa, chegou ao Japão durante a era Meiji (1868-1912). O primeiro nome da massa foi “shina soba”, que incluia o termo ofensivo da língua japonesa para China.

No período após a Segunda Guerra Mundial, o macarrão ganhou imensa popularidade devido à crise econômica que se instalou no Japão e a distribuição massiva de trigo exportado pelos Estados Unidos para o leste asiático.

Acredita-se que o termo ramen surgiu da palavra chinesa “lamian”, que seria algo como “puxar/esticar (la) o macarrão (mian)”, mas a popularização dele deu-se graças a Momofuku Ando. Em 1958, ele inventou o primeiro macarrão instantâneo que se tornou o carro chefe da sua empresa, a Nissin Foods.


A Coreia lança o ramyeon

Apenas cinco anos após a criação do ramen no Japão, a Samyang, em parceria com uma outra empresa japonesa, lançou a primeira versão do Samyang ramyeon. Mesmo tendo ampliado seu catálogo de produtos ao longo dos anos, o ramyeon original ainda existe até hoje.

Apesar de terem a mesma origem, a perspectiva dos coreanos é o que diferencia o ramen do ramyeon.

No país, o termo ramen é usado para se referir unicamente aos macarrões japoneses com ingredientes e temperos frescos que são servidos em restaurantes.

Por outro lado, o ramyeon refere-se aos macarrões instantâneos feitos com vegetais desidratados e temperos artificiais. Apesar de também ser servido em alguns locais, o ramyeon é cozido na mesma embalagem do produto. Sendo assim, é comum que lojas de conveniência, por exemplo, disponibilizem água quente e fornos para que os clientes possam preparar e fazer suas próprias refeições no local.

Sabendo disso, a nova dúvida que surge é se o ramyeon é um prato diferente do ramen ou apenas uma adaptação do mesmo.

O Professor Han Sung Woo, acadêmico de Língua e Literatura Coreana na Universidade de Inha, responde: “O termo ‘ramyeon’ parece ter sido derivado do japonês, já que a pronúncia coreana pelo original chinês seria ‘nap-myeon’. Porém, esta também não é uma simples adaptação do japonês, já que usa a pronúncia da palavra ‘myeon’ (ao invés de ‘men’). A perspectiva dos pratos também é diferente. Para nós, ramyeon é um macarrão instantâneo frito em óleo. A raiz da palavra e a comida podem ser as mesmas, mas a realidade difere de cada país“.


As polêmicas fora da Coreia

Mesmo tendo um termo próprio na língua local para se referir ao macarrão instantâneo produzido no país, o ramyeon/ramyun, independente de sua grafia, não é muito adotado fora da Coreia.

O sucesso de Parasita fez com que espectadores de diversos países quisessem provar o prato chamado ram-don, feito por Moon Gwang (Lee Jeong Eun) para a patroa Yeon Kyo (Cho Yeo Jeong).

Moon Gwang (Lee Jeong Eun) e Yeon Kyo (Cho Yeo Jeong) em cena de Parasita com o ram-don.
Fonte: CJ Entertainment

Ram-don foi a tradução do termo coreano jjapaguri usado originalmente no filme. O prato mistura ramyeons de duas marcas diferentes: a Chapagetti – feita de soja preta que dá a coloração do prato – e a Neoguri, de sabor picante.

Ao falarem sobre a popularização do prato após o filme, grandes mídias internacionais – como o the Los Angeles Times e NBC – referiram-se ao ramyeon como “ramen coreano”. Isso somado ao fato das marcas Ottogi e Samyang fazerem o mesmo recurso de usar “ramen” nas embalagens dos produtos de importação pode indicar que nem os próprios coreanos podem estar a vontade com a grafia do ramyeon.


E quanto ao termo “miojo”?

A discussão ramen x ramyeon é praticamente inexistente no Brasil porque, aqui, usamos um outro termo para nos referirmos aos macarrões instantâneos. Então, agora, vamos responder à pergunta: De onde vem o termo “miojo”?

A revista Casa & Cozinha ajuda a tirar a dúvida. Após Momofuku Ando criar a Nissin Foods, uma outra fábrica chamada Myojo Foods teve a mesma ideia de produzir macarrões pré-cozidos. O nome da empresa foi inspirado no da escola Myoujou, localizada na mesma cidade da sede da empresa. O termo “myoujou” significa “Vênus” ou “estrela do amanhã”.

Na corrida para conquistar as terras brasileiras, a Myojo chegou primeiro, graças a um empresário chinês que importava os macarrões para vender para a comunidade japonesa de São Paulo. A Nissin Foods só se instalou no país em 1965 e, diante do mercado já conquistado, resolveu fazer uma parceria com a “concorrente” e assim nasceu o Nissin-Miojo, já com o uma grafia mais abrasileirada.

Em 2007, a Nissin Foods comprou a Myojo e o macarrão passou a se chamar apenas o nome Nissin. Porém, o hábito fez com que o miojo prevalecesse e conquistasse mais a boca do povo, coisa que faz até hoje.

Fonte: (1), (2)
Imagens: Yonhap e CJ Entertainment
Não retirar sem os devidos créditos.

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Greyce Oliveira

Cearense de Fortaleza, é metade uma humana normal professora de Inglês e metade ELF(a) precisando (talvez) de tratamento para parar de falar no Super Junior toda hora.

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