Já imaginou ter a liberdade de falar mal da empresa em que você trabalha sem se preocupar se os chefes descobrirão? É para isso que serve o Blind, aplicativo nascido na Coreia do Sul que se popularizou dentro e fora do país.
Em 2013, Moon Sung Uk e Jung Young Joon se juntaram para lançar a TeamBlind e montar o aplicativo. Os dois amigos trabalharam juntos na Naver e contaram que a inspiração para o Blind foi um quadro de mensagens interno que permitia que os funcionários da empresa se comunicassem entre si anonimamente.
Porém, após mensagens de reclamação sobre a empresa começarem a surgir, o quadro foi cancelado. Moon, então, teve a ideia de fazer um aplicativo terceirizado com a mesma iniciativa – e sigilo – para que funcionários de outras empresas pudessem ter a mesma liberdade que os da Naver. Para fazer o cadastro do Blind, é necessário apenas um e-mail coorporativo e nada mais.
A popularização na Coreia
A grande explosão da popularidade do Blind na Coreia foi no ano de 2014 através de um caso que ganhou a mídia do país.
O incidente ficou conhecido como “nut rage” (traduzido livremente como “fúria das nozes”). Tudo começou quando Cho Hyun Ah, filha mais velha do presidente da Korean Airlines, embarcou em um voo da empresa com destino a Seul.
Pouco antes da aeronave decolar em Nova Iorque, um comissário de voo Park Chang Jin foi servir uma porção de macadâmias a Cho. Porém, Park usou uma sacola para servir as nozes ao invés de colocá-las em uma tigela.
Isto gerou um ataque de fúria a Cho que exigiu que Park se ajoelhasse para pedir desculpas e fosse retirado do voo no qual estava trabalhando, causando o atraso da decolagem. Park foi demitido da Korean Airlines e, mais tarde, processou a empresa pelos danos físicos e psicológicos que sofreu.
As declarações anônimas expressando a raiva dos funcionários sobre a atitude de Cho catapultaram a popularidade do Blind a tal ponto que o aplicativo se expandiu e foi para os Estados Unidos. Atualmente, o escritório do aplicativo fica em São Francisco.
Conquistando novos territórios
Apesar das diferenças culturais entre os EUA e a Coreia do Sul, o Blind rapidamente conquistou público do outro lado do mundo e já existem casos de histórias que se tornaram virais.
Uma delas ocorreu em junho quando um funcionário da Tesla, empresa do bilionário Elon Musk, compartilhou um e-mail notificando os funcionários que não tivessem comparecido ao escritório por pelo menos 16 dias durante o mês todo. A postagem demonstrou a política da empresa para que seu pessoal deixe o trabalho remoto e volte a trabalhar presencialmente.
Em maio, o Blind fez uma pesquisa com 1000 funcionários da Meta – empresa de Mark Zuckerberg – para saber a opinião deles sobre a estratégia da companhia com o metaverso. Os dados coletados mostraram que 42% dos entrevistados disseram não entender o planejamento ou como a Meta obteria lucros com ela.
Estes são alguns exemplos de como o Blind pode ser uma ferramenta de melhorias para as empresas, se usado de forma sábia.
A fórmula do sucesso
Em entrevista ao The Korea Herald, Rick Chen – diretor sênior do Blind – disse que os grandes atrativos do aplicativo são a transparência e a anonimidade.
Segundo Chen: “O Blind é uma comunidade confiável para transparência no ambiente de trabalho e acreditamos que o foco na anonimidade e transparência ajudou a nos tornar populares mundialmente. Por exemplo, dinheiro e saúde mental são assuntos tabus em muitas culturas, mas as pessoas podem discutir isso livremente e procurar ajuda para estas questões no Blind“.
E qual seria, exatamente, o grande objetivo do Blind? A resposta é quebrar as barreiras profissionais e hierárquicas para estabelecer um ambiente seguro para que funcionários possam falar sobre diversos assuntos relacionados a vida profissional: de salários a condições de trabalho e até mesmo denúncias de assédio.
No momento, o assunto mais em alta é trabalho remoto. Com o controle da pandemia, muitas empresas chamaram seus funcionários para voltarem aos escritórios e, por consequência, acabar com o trabalho remoto. Chen conta que isso atraiu novos usuários para o Blind porque muitos procuravam saber quais empresas estavam fazendo isso. Em contrapartida, algumas empresas – como a Tesla e a Uber – bloquearam o acesso a plataforma pelos e-mails corporativos.
Nos últimos dois anos, o Blind pulou de 3 milhões para mais de 7 milhões de usuários. Além da Coreia do Sul e dos EUA, a lista de países também inclui o Canadá, Reino Unido, Irlanda e Cingapura.
Estimativas apontam que pelo menos 90% dos funcionários das 1400 maiores empresas sul-coreanas usem a plataforma. Tais empresas incluem a Samsung, o Naver, o Kakao, a LG e outras gigantes.
Bleet, a aposta de plataforma de namoro
Créditos: TeamBlind
Em novembro de 2020, a TeamBlind resolveu inovar e lançar um novo aplicativo de relacionamento: o Bleet. O nome é uma mistura de “Blind” com “Meet” (“conhecer” em inglês).
A ideia de fazer o Bleet surgiu a partir da análise do uso do Blind pelos seus usuários. O gerente Bae Jae Kyung explica: “Com 4.2 milhões de pessoas inscritas em tópicos como auto-apresentação e encontros, pensamos que podíamos ajudar os funcionários a encontrarem seus pares usando o mesmo sistema de verificação do Blind“.
Segundo dados da empresa obtidos em junho, 80% dos usuários do sexo masculino e 72% dos usuários do sexo feminino estavam procurando por relacionamentos sérios no Bleet.
Fonte: (1), (2)
Imagens: TeamBlind
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