Dados da Agência Nacional de Estatísticas revelados nesta terça (17) indicaram que a população da China diminuiu pela primeira vez desde 1961. Apesar de permanecer com mais de 1.4 bilhão de habitantes, o número diminuiu mais de 850 mil em comparação com os dados de 2021.
Vários fatores são responsáveis por esta queda. Um deles é a taxa de natalidade que, apesar de estar em queda nos últimos anos, registrou a baixa histórica ao chegar a 6.77 nascimentos a cada 1000 pessoas. A taxa registrada em 2021 havia sido de 7.52.
Além disso, pela primeira vez o número de mortos ultrapassou o número de bebês nascidos no país. A taxa de mortalidade foi de 7.37 em cada 1000 habitantes, a maior já registrada desde 1976. Com isto, a China agora entrou na chamada “era do crescimento populacional negativo”.
Dados do governo chinês já haviam indicado que o crescimento populacional está desacelerando. A longo prazo, a diminuição junto com o envelhecimento da população podem vir a causar uma crise demográfica que afetará a mão de obra disponível no país e também aumentará os gastos com serviços de saúde e serviços sociais.
A economista Yue Su prevê que pouco deve mudar ao longo de 2023: “Esta tendência continuará e, talvez, piore após a COVID. A alta taxa de desemprego dos jovens e as baixas expectativas de lucros podem atrasar planos de casamento e gravidez, arrastando os números de recém-nascidos“.
Segundo Su, a taxa de natalidade registrada em 2023 poderá ser mais alta que a registrada no período pré-pandemia. A China tem visto um novo aumento de casos após abolir a política de COVID zero no mês passado.
As mudanças após o fim da política dos filhos únicos
Em 1979, o governo chinês implantou a polêmica política de permitir que casais tivessem apenas um bebê. O objetivo era frear o crescimento populacional da época. Famílias que violassem as regras eram penalizadas com multas e até mesmo demissão de seus empregos.
A política foi banida em 2016 quando os casais foram autorizados a ter dois filhos. O cenário a ser combatido aqui é justamente a baixa taxa de natalidade e visa reverter ou, pelo menos, desacelerar a queda e, para tal, o governo ofereceu até benefícios.
Porém, os esforços foram em vão porque não foram acompanhados de esforços para facilitar o acesso à escolas, facilitando a vida das mães que desejam voltar ao mercado de trabalho. Bussarawan Teerawichitchainan, diretor do Centro de Pesquisa sobre Família e População da Universidade Nacional de Singapura, também destaca que o país também precisa melhorar suas políticas de igualdade de gênero tanto nas empresas e quanto no ambiente familiar.
O estatístico singapurense Paul Cheung indica que a China ainda não está no cenário de catástrofe porque ainda conta com muita mão-de-obra e muito tempo para lidar com as recentes mudanças.
Por outro lado, o Professor Stuart Gietel-Basten – acadêmico da Universidade de Ciência e Tecnologia de Hong Kong – alerta: “Aumentar a fertilidade não melhorará a produtividade ou aumentará o consumo doméstico em médio prazo. Como a China responderá a estas questões estruturais será ainda mais crucial“.
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Imagem: VCG via Getty Images
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