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Entrevistas

HBO Max revela porque decidiu criar a série coreano-brasileira “Além do Guarda-Roupa”

No última semana o Brasil fez história com a estreia de Além do Guarda-Roupa, o primeiro drama coreano-brasileiro, lançado pela HBO Max. Com apenas 3 episódios revelados, o drama já atingiu o primeiro lugar no catálogo do streaming dentre as produções mais populares da semana. Com produção da Coração da Selva, roteiro guiado por Andréa Midori Simão e direção regida por Marcelo Trotta, Sabrina Greve e Paula Kim, a série pega emprestado as particularidades das produções românticas coreanas e mescla com o jeito brasileiro de fazer dramaturgia.

Além do Guarda-Roupa conta a história de Carol, uma jovem paulista, filha de uma brasileira e um sul-coreano, que vive uma desafiadora jornada de amizade, superação, aceitação e autoconhecimento após a morte de sua mãe e o abandono de seu pai. Em uma relação conflituosa com sua ascendência, ela nega conhecer melhor a cultura sul-coreana, sobretudo em um período de ascensão da popularidade da cultura de seus ancestrais. Porém, sua vida muda após uma descoberta única: seu guarda-roupa é na verdade um portal mágico que conecta seu quarto à Coreia do Sul, especificamente ao apartamento de um grupo de K-pop de grande sucesso do momento, o ACT.

Em entrevista para a KoreaIN, a líder de conteúdos roteirizados da HBO Max, Silvia Fu, falou sobre a decisão em investir na criação de um projeto tão robusto, conectando as culturas coreana e brasileira.

As pesquisas da Coração da Selva começaram lá em 2018, sobre histórias coreanas no Brasil. Não estava esse boom do jeito que está hoje, mas tinha um olhar ali, um estudo bacana. Vindo dessa convergência do por que do brasileiro realmente se interessar (pela cultura coreana). Porém, veio a pandemia e atrasou a produção. Buscávamos uma série jovem para um público jovem e jovem adulto, algo que a gente não tinha ainda. Logo que se identificou, a gente falou ‘Putz, essa é legal’. Pelo menos já tem um passo ali calcado, que é com as pessoas que já se interessam por essa forma de cultura e de estrutura. Então, foi aí quando a gente resolveu investir.“

Silvia também acredita que este é apenas o primeiro passo na direção de mais conteúdos originais deste tipo: “A gente achou que é algo que não acaba agora. Na verdade, é uma coisa que ainda tem uma potência grande de identificação e de relacionamento audiovisual, que poderá perdurar“.



A imagem dos fãs retratada em tela

Pela primeira vez os fãs de K-pop (kpoppers) foram retratados com tanta atenção e por um longo período em uma produção brasileira. A figura do fã ainda costuma ser muito estigmatizada, e Além do Guarda-Roupa buscou abordar a imagem do fã a partir de consultorias, respeitando o nicho, suas adversidades, diferenças e sem cometer gafes. “A gente espera que tenha um carinho aí de gostar e de se identificar. Achamos também que é uma porta pra quem ainda não assistiu (novelas coreanas) ou quem ainda não está tão inserido (nesse universo). Então a gente não pode ser leviano. É preciso honrar aos códigos, ser fiel à cultura, porque o público é bastante exigente“, disse Geórgia Costa Araújo, produtora da Coração da Selva.

Além do Guarda-Roupa traz um elenco com pluralidade e representatividade, colocando em destaque mulheres fortes em papéis cativantes. Diferentes tipos de fãs ganham espaço no roteiro, para que a audiência possa descobrir qual o tipo que melhor retrata a si mesma. Podemos ver aquele tipo de fã que adora cuidar do fandom (fã clube) nacional do artista, aqueles apaixonados pelas coreografias do grupo favorito e aqueles que tem condições de comprar absolutamente tudo que o artista lança oficialmente.

E do outro lado, temos a personagem Carol (Sharon Cho), que não se interessa por K-pop e na verdade evita o contato com tudo que seja relacionado a cultura coreana. Ela contracena também com Regina (Júlia Rabello), sua tia, que comanda um café que passa a ter a temática K-pop, mas que não apoia tanto os sonhos de sua sobrinha descendente de coreanos.

A KoreaIN teve a oportunidade de entrevistar as atrizes Sharon Cho e Júlia Rabello para entender mais sobre as ambições e destino de suas personagens. Além de conhecermos um pouco mais de suas conexões com a cultura coreana.

Confira a entrevista completa a seguir.



KoreaIN: Olá! Muito bom poder conversar com vocês. Júlia, sua personagem causa bastante irritação nas pessoas por ser muito exigente e até exploradora com a mocinha da história. Você acha que o público pode esperar uma redenção cativante para a Regina?

Júlia Rabello: Olha, eu acho que a série, como um todo, vai mostrando muitas camadas dos personagens. A Regina também passa por esse momento. Assim, as pessoas vão poder conhecer um pouco mais da história da Regina. Não sei dizer que vão amá-la, porque ela é uma personagem como muitas pessoas que a gente pode conhecer na nossa vida. Ela é uma mulher que tem que enfrentar muita luta, muita batalha, uma mulher sozinha dando conta de uma família. Essa é a história de muita mulher brasileira, então tem muita dor ali. A Regina não deu conta de tanto sofrimento e tanta luta e ela foi ficando machucada. E por ela ser uma mulher muito machucada, ela machuca. Então acho que isso não deixa de ser uma coisa que acontece com muitas pessoas, acho que é uma história interessante de ser contada. Agora, realmente, a dinâmica dela com a Carol por muitas vezes… Mas se você parar para tentar entender e ouvir a história da Regina, talvez você consiga entender porquê.


KoreaIN: Já estou ansiosa para ver o restante, mas entendo que possa ter spoilers. No seu caso, Sharon, existe alguma característica ou situação em que você sente que se conecta com a sua personagem? Como é para você, sendo descendente de coreanos?

Sharon Cho: Ah, com certeza! Eu emprestei muitos sentimentos meus, muitas memórias minhas para construir a Carol. Não só em relação a cultura, mas também com esse lado dela de ter dificuldade de se abrir. Eu já tive essa época também, essa fase. Na verdade, eu acho que a Carol foi uma pessoa que me ajudou. A minha viagem foi se abrindo junto também, em relação a esse olhar para as emoções. E como eu cresci filha de imigrantes, eu sempre tive muito contato com a cultura coreana. Mas assim como a Carol, eu também quis uma distância, uma certa época da minha vida, na adolescência, na fase que a gente quer parecer cult e se encaixar mais. E descobrir o motivo de estar cansada de ser colocada nessa caixinha, e acho que a Carol vai nesse caminho também. Ela não quer ser vista como a garota coreana da escola, ela quer ser vista como Carol, porque ela é muito mais do que isso.


KoreaIN: No caso da Carol, ela detesta K-pop, ela detesta cultura coreana e ela odeia o que ouve. Para você chegou a ser assim?

Sharon Cho: Não, eu nunca detestei a cultura! No caso da Carol, ela já tem muito o lugar da dor e uma parte que machuca ela por dentro. Então ela toma distância por causa disso, porque dói, porque ela tem vergonha ou porque ela tem medo. Por causa desse estereótipo, entendeu? Então, às vezes, se esconder, não falar, é porque o pessoal enche o saco na escola. E não é só sobre isso.


KoreaIN: Júlia, no seu caso, antes da novela, você já tinha tido algum contato com a cultura coreana, com K-pop ou K-drama?

Júlia Rabello: Hummm… Não, só de ouvir falar. E aí pude ter esse privilégio de ter um contato ao vivo. Mas eu estou muito fascinada, quero conhecer cada vez mais e aprender assim, como é que eles desenvolvem todas essas coisas. E é uma cultura que chega para muitas pessoas, porque desde que a gente começou a filmar, eu vejo na internet muita gente me marcando, no mundo inteiro, e não tinha nem ido ao ar. Então, meu respeito a uma cultura que mexe com tanta profundidade nas emoções das pessoas no mundo inteiro.


KoreaIN: Depois desta experiência, você conseguiria perceber alguma característica da atuação coreana que é diferente da atuação brasileira e vice-versa?

Júlia Rabello: Vou ser muito cuidadosa, porque quando se fala da cultura do outro, às vezes a gente faz de um lugar muito superficial e eu sei que tem muitas camadas e muitas possibilidades. Mas eu percebi que tem. Existe uma coisa que eu achei muito interessante, mas tem um cuidado na relação com o outro. E eu gosto muito da… Não é uma “introspecção”, mas existe um espaço interno muito rico que você não tem um contato imediato. Então, isso me interessa muito, porque amo o Brasil, sou brasileira, amo as nossas cores, a nossa informalidade, os nossos sons. Mas acho que a Coreia me parece oferecer uma proposta diferente disso. E isso para mim é “uau, como é que é isso”, sabe? Novo e interessantíssimo? Eu vou agregar em mim e aprender mais.



KoreaIN: O começo da novela retrata bastante a questão do bullying que a Carol sofre na infância e pré-adolescência por conta da etnia. O que você, Sharon, diria para ela, para que pudesse conforta-la e a ajudar a passar por esses momentos difíceis?

Sharon Cho: Bem difícil, né? Porque eu nunca passei pelo que a Carol passou, da escola inteira pegando no pé. Para mim não era assim. Não era uma escola inteira, eram grupos, eram pessoas. Mas eu diria para ela realmente investir em se conhecer melhor, se ela for abraçar esse lado, ela saber o que está abraçando e de que forma ela está abraçando, porque ela também não precisa. Eu já vi amigos meus fazerem isso também e acabam se perdendo do mesmo jeito, você não sabe para que lado você está indo, você acaba se perdendo da mesma forma. Na verdade, eu não diria nada. Eu acho que tudo o que aconteceu era para acontecer e é isso que ela precisa passar mesmo. Não mudaria nada. Eu deixaria ela rejeitando tudo para depois aprender da forma que ela aprendeu. O problema não era ela.


KoreaIN: Eu queria saber de vocês: A novela fala muito sobre sonhos, sobre alcançar os sonhos. Vocês já alcançaram seus sonhos ou ainda falta alguma coisa que vocês estão indo atrás?

Júlia Rabello: Como é gostoso poder responder isto. Realmente pude alcançar grandes sonhos que eu tive quando pequena. Mas o ser humano é uma máquina de sonhar. O sonho é o que move a gente. É um conflito, porque você realizou um sonho e agora ainda tem um outro para realizar. É um trabalho enorme, mas eu acho que fico feliz de poder ter realizado, ter esse privilégio de realizar, mas também agora transformando e buscando coisas novas.

Sharon Cho: Eu sinto que um sonho não acaba depois ser realizado e você tem vários sonhos em áreas diferentes da sua vida. Com a família, você tem um sonho. Em relação a alguém, você pode ter um sonho, em relação a carreira também. E eu falo isso para todo mundo… Mas ainda estou meio perdida. Eu não absorvi direito o que está acontecendo e quando eu absorvo, parece que eu começo a chorar e não vou parar nunca mais. Porque é muito doido o que está acontecendo na minha vida. Mas eu tenho muitos sonhos pela frente, que eu quero muito realizar, que eu vou. E essa é a beleza, essa é a graça da gente estar vivendo, de você ter alguma coisa para lutar, sabe? Correr atrás.

Júlia Rabello: Quando começou esse processo, quando eu cheguei e a gente estava começando e eu conheci a Sharon e ela me contou um pouco a história de como ela entrou no trabalho… Eu olhei de longe, assim… Eu já sabia de tudo que ela ia atravessar, da quantidade de trabalho, do desafio que era, e vi ela dando aquele depoimento. Eu falei, isso que está acontecendo na vida dela é completamente uma história, um conto de fadas contemporâneo, porque é muita coisa, muita descoberta… É muito potente. Então acho que é um presente da vida para ela, poder ter vivido e ter essa história como a história dela.


O que esperar do futuro

A produtora Coração da Selva e Silvia Fu garantiram que podemos esperar mais produções para o futuro. Que a experiência atual possa permitir seguir abordando a cultura coreana e trazer essa mistura. “Eu falo por experiência, não só pela experiência. Foi uma surpresa muito positiva, muito agradável. Acho que o nível de profissionalismo, nível de envolvimento, de paixão de todo mundo é visível. Uma equipe muito feliz, muito realizada. Então eu vi que só pela experiência a gente só fazia essa série, fazia temporadas de conteúdo“, confessou Silvia Fu, muito animada com o resultado alcançado.

Essa questão do nosso dia a dia, que potencialmente poderia ser muito complexo. E era, mas magicamente foi um encontro dos mais prazerosos. Nosso dia a dia era uma delícia. Todo mundo integrado, um espaço muito rico para criar“, disse Geórgia Costa.

A primeira temporada de Além do Guarda-Roupa conta com 10 capítulos, lançados semanalmente, sempre às quintas-feiras, através do streaming HBO Max.

Imagens: HBO Max
Não retirar sem os devidos créditos.

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  • Naira Nunes

    Publicitária, redatora e diretora de arte, sou CEO e fundadora da KoreaIN, a primeira revista brasileira sobre música e cultura asiática.

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