Nas últimas décadas, as mulheres sul-coreanas estão conquistando mais espaço no mercado de trabalho, inclusive na indústria cinematográfica. Apesar da grande expansão mundial do cinema sul-coreano com filmes como Parasita, ainda há a necessidade de exaltar e apoiar produções femininas, que continuam recebendo pouca divulgação e investimento.
Pensando nisso, a KoreaIN convida você a conhecer sete diretoras que fizeram e fazem história no cinema sul-coreano, confira.
Park Nam Ok
Park Nam Ok (1923-2017) é considerada a primeira mulher sul-coreana a dirigir um filme no país. Seu filme foi lançado em 1955 e é chamado The Widow (cujo título original coreano pode ser traduzido livremente como A Viúva ou As Lágrimas da Viúva). Este conta a história de Lee Shin Ja (Lee Min Ja), uma jovem que sofre preconceito por ser viúva enquanto tenta cuidar da filha e encontrar um novo amor. Shin-ja se vê entre seu dever como mulher e o desejo por uma vida menos solitária. A obra cinematográfica busca providenciar uma perspectiva diferente sobre a experiência feminina no pós-guerra da Coreia.
Park estudou na faculdade Ehwa University para mulheres e trabalhou como repórter para um jornal em Daegu até conseguir um emprego como editora e roteirista na Joseon Film Company. Lá, ela encontrou figuras importantes com quem trabalhou em seu filme, como o roteirista Lee Bo Ra, que também se tornou seu marido. A diretora, junto com sua irmã mais velha, fundou a Sister Productions, uma produtora que visava arrecadar dinheiro para continuar a produção de seu filme. Além da discriminação por ser mulher, Park passou por várias outras dificuldades, como não ter dinheiro para contratar uma babá e ter que carregar a filha nas costas enquanto trabalhava, além de ter que cozinhar para sua equipe de filmagem quando seus fundos acabaram. Como pioneira, Park sofreu para poder abrir caminho a outras diretoras.
Chang Yoo Jeong
Jang Yoo Jeong é uma diretora sul coreana de 46 anos. Ela é conhecida por fazer filmes que vendem mais de um milhão de ingressos nas bilheterias do país, como seus três primeiros filmes: Finding Mr. Destiny (2010), The Bros (2017) e A Candidata Honesta (2020). Este último, inclusive, foi um remake do filme brasileiro O Candidato Honesto (2014), estrelado por Leandro Hassum. A história trata da vida de Joo Sang Sook (Ra Mi Ran), uma política que, depois de receber uma repreenda da avó no leito de morte, não consegue mais mentir. A versão coreana teve uma protagonista feminina para o papel da candidata e foi capaz de alcançar mais de um milhão e meio de ingressos, garantindo a sua continuação, A Candidata Honesta 2, lançada em 2022. Apesar de ter começado sua carreira como diretora com 34 anos e de ter apenas lançado estes quatro filmes, Jang tem se mostrado promissora na área de filmes de comédia.
Yoon Sung-A
Yoon Sung-A é uma diretora de dupla nacionalidade, sul-coreana e francesa, que atualmente mora na capital da Bélgica, Bruxelas. Ela começou a sua carreira no cinema nos anos 2000, mas apenas em 2008 lançou seu primeiro filme de curta-duração, chamado Et Dans Mon Coeur J’emporterai (“E no meu coração eu vou levar”, em tradução livre para o português). Este concorreu no Festival Cannes e foi exibido internacionalmente. Sua principal obra ligada ao seu país natal é o documentário Full Of Missing Links (2012), criado a partir da busca da diretora na Coreia do Sul por seu pai que não via desde os oito anos de idade. A diretora não possui muitas obras na Coreia do Sul e concentra sua produção no país onde vive, grande financiador dos seus filmes. No entanto, como cidadã coreana fora do país, Yoon se mostra uma diretora contemporânea importante, um reflexo da Coreia em um mundo globalizado.
Byun Young Joo
Byun Young Joo é uma diretora sul-coreana responsável por nova obras cinematográficas, se destacando no gênero documentário. Seu primeiro documentário atuando como diretora foi lançado em 1993 e se chama Women Being in Asia (“Vivendo Como uma Mulher na Ásia”, em tradução livre para o português), que retrata a prostituição na Ásia, o turismo sexual e como isso se mescla com a vida cotidiana dos sul-coreanos. Os assuntos de seus documentários são sempre ligados aos direitos humanos e aos direitos das mulheres. Byun é conhecida principalmente por sua trilogia de documentários The Murmuring, que tem como tema as mulheres de comforto durante a Segunda Guerra Mundial. Os filmes da triologia foram lançados entre 1995 e 2000, e se tornaram uma nova chama para as discussões acerca do tópico no país.
Mais recentemente, a diretora trouxe filmes do gênero ficção. Dois de seus filmes nesse gênero são o romance Ardor (2002) e o thriller de mistério Helpless (2012). Independente do gênero cinematográfico, suas obras sempre trazem protagonismo feminino e discutem questões de gênero importantes para a sociedade.
Gina Kim
Kim Gina é uma diretora conhecida mundialmente e tem seus trabalhos exibidos em grandes festivais de cinema, como Cannes, Venice e Sundance, e em museus, como MOMA e Smithsonian, nos Estados Unidos, e o Centre Pompidou, na França. Seus principais filmes são Never Forever (2007), Dongducheon (2017) e Tearless (2021). Essas três obras têm imigração nos Estados Unidos e vida de tropas americanas na Coreia como temas em comum, sempre linkando os dois países e suas relações conflituosas.
Assim como outras diretoras citadas, o olhar de Kim recai sobre temas femininos e denúncias como prostituição e mulheres de comforto. Além de diretora, ela também é conhecida por trabalhar na área acadêmica relacionada ao cinema, atuando como professora na Universidade de Harvard. A professora e diretora divide sua vida entre Coreia do Sul e Estados Unidos, sendo outra a cumprir o papel importante de pensar seu país natal no contexto de globalização, o choque com outras culturas e a figura feminina nesse novo mundo.
Yoon Ga Eun
Yoon Ga Eun é uma diretora sul-coreana cujo principal foco de trabalho são jovens e crianças. Ela se formou em história e começou seus estudos em cinema aos 28 anos. Seu primeiro filme foi The Taste of Salvia (2009), e seus filmes mais famosos são Guest (2011) e Sprout (2013). Este filme de 2013 conta sobre uma garotinha deixada sozinha pela primeira vez, suas descobertas e seus processos de aprendizado. Com uma história profunda em significado, Sprout foi indicado a cinco premiações, ganhando três – destas, vale citar o Busan International Festival e o Berlin International Festival.
Yim Soon Rye
Yim Soon Rye teve sua primeira graduação em Língua e Literatura Inglesa antes de começar o mestrado em Cinema e Teatro. Ela decidiu aprofundar-se na área e lançar suas próprias produções. Uma das suas primeiras produções, Promenade in the Rain (1994), retrata a vida solitária de uma caixa de cinema de 30 anos. A obra recebeu o Grand Prize (Grande Prêmio) do Seoul Short Film Festival. Seus filmes geralmente focam em pessoas marginalizadas e outras questões relevantes da sociedade. The Waikiki Brothers (2001), por exemplo, conta sobre uma banda de boate de terceira categoria que viaja de uma pequena cidade a outra para um show. Já Três Amigos (1996) retrata a vida de três homens que se preparam para os testes de entrada em faculdade, como o ENEM no Brasil.
Yim Soon Rye é considerada a sétima diretora mulher da história do cinema coreano e continua sendo uma das mais representativas do país. Ela criou um cinema que mostra o cotidiano das pessoas numa sociedade que as aliena. Com temas e estéticas próprias, Yim fez um percurso único e deixou sua marca com uma filmografia de sua autoria que continua relevante mesmo com o passar dos anos.
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Imagens: Kundura Sinema, reprodução (capa); Kwon Do Hyun (via Sports KyungHyang), JTBC, Elena Zhukova, YouTube, Choi Nam Yong, reprodução
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