Em 2014, o então Diretor Geral do Ministério da Saúde e do Bem-estar sul-coreano causou polêmica ao dizer que o país deveria implantar um imposto para pessoas solteiras. A fala gerou críticas do público na época, mas no início de julho foi colocada em votação em uma plataforma de pesquisas para saber se a visão de 2023 sobre o tópico permanece a mesma.
O total de respostas recebidas foi 4015 e as idades dos votantes variava entre a faixa dos 20 e dos 50 anos. Os resultados foram divulgados pelo portal Chosun Ilbo.
Ao serem perguntados sobre o imposto para solteiros, 21% do total votantes disseram concordar com a medida. A maior porcentagem de aprovação veio daqueles na faixa dos 50 anos. Entre os da faixa dos 30, 16% disseram ser solteiros e, caso o imposto realmente existisse, seriam obrigados a pagar.
Os números por faixa etária foram:
- Faixa dos 20: 82% contra | 18% a favor
- Faixa dos 30: 84% contra | 16% a favor
- Faixa dos 40: 77% contra | 23% a favor
- Faixa dos 50: 74% contra | 26% a favor
Noh Jung Tae, especialista em economia do Instituto de Economia e Assuntos Sociais, comentou: “A taxa de aprovação é maior que o esperado, mas pode-se interpretado que o público está focando mais em resolver o real problema econômico da baixa taxa de natalidade que o imposto para solteiros“.
A maioria dos especialistas concorda que o problema da baixa natalidade não pode ser resolvido com um imposto para solteiros. Porém, os que se dizem a favor justificam dizendo que veem a medida como uma tentativa de equidade, não uma punição. Um dos argumentos é de que adultos sem filhos devem lidar com o peso de precisar receber ajuda financeira do governo quando atingirem a terceira idade. Por outro lado, Noh explica: “A lógica de que os mais velhos devem ser sustentados pelos seus filhos e não pelo governo ou pelo sistema social é uma abordagem além dos limites“.
A pesquisa também perguntou: Por que a gerações mais novas são tão passivas sobre casamento e maternidade?
As respostas com respectivas porcentagens por faixa etária foram:
- Discriminação contra mulheres e crianças:
16% (faixa dos 20) | 14% (faixa dos 30) | 9% (faixa dos 40) | 4% (faixa dos 50) - Excesso de envolvimento da família na criação dos filhos:
14% (faixa dos 20) | 13% (faixa dos 30) | 10% (faixa dos 40) | 7% (faixa dos 50) - Baixas perspectivas sobre o futuro:
20% (faixa dos 20) | 20% (faixa dos 30) | 25% (faixa dos 40) | 26% (faixa dos 50) - Falta de margem econômica:
31% (faixa dos 20) | 39% (faixa dos 30) | 40% (faixa dos 40) | 49% (faixa dos 50)
Um Professor de Sociologia – que preferiu permanecer anônimo – apontou que o fato da geração mais velha acreditar que apoio econômico é o suficiente para resolver problemas sociais mostra que eles não estão cientes dos problemas de discriminação sofrido pelas mulheres e crianças.
Nas palavras de seu colega e também Professor Seo I Jong, acadêmico de Sociologia da Universidade Nacional de Seul: “O governo de Moon Jae In não focou na baixa taxa de natalidade, mas vagamente se deu conta de que este problema seria resolvido se as mulheres tivessem mais direitos. Precisamos traçar uma política rígida colocando a solução em primeiro lugar“.
Sobre o excesso de envolvimento da família na criação das crianças, Noh apontou: “Homens jovens claramente desejam se tornarem chefes de família independentes de seus pais, mas, na realidade, eles estão sob uma grande pressão porque este desejo é frustrado devido ao excesso de intervenção familiar e o peso de se preparar para o casamento“.
A última pergunta queria saber: Quais outras alternativas (além do imposto para solteiros) poderiam resolver as baixas taxas de natalidade?
As porcentagens de cada resposta por faixa etária foram as seguintes:
- Resolver a discriminação contra as mulheres:
14% (faixa dos 20) | 14% (faixa dos 30) | 9% (faixa dos 40) | 4% (faixa dos 50) - Reduzir os custos com educação e eliminar a polarização econômica:
16% (faixa dos 20) | 12% (faixa dos 30) | 19% (faixa dos 40) | 25% (faixa dos 50) - Reduzir a carga horária e aumentar as políticas de acolhimento de crianças:
23% (faixa dos 20) | 24% (faixa dos 30) | 22% (faixa dos 40) | 19% (faixa dos 50) - Aumentar a quantidade de empregos:
11% (faixa dos 20) | 8% (faixa dos 30) | 13% (faixa dos 40) | 19% (faixa dos 50)
Uma mulher de 36 anos mãe de uma menina de 4 disse ter desistido de ter um outro filho mesmo este sendo o plano original dela e do marido. Ela conta que quando chega em casa do trabalho, às vezes por volta das 18:30 ou mais tarde às 20:00, já está perto do horário da filha dormir. Por isso, ela diz achar irresponsável ter uma outro bebê.
O discurso também é reproduzido por outras mães trabalhadoras. Quando uma criança adoece, por exemplo, algumas mães trabalham meio expediente e correm para o hospital como se fossem criminosas. Pelo menos no quesito redução da carga horária, as opiniões dos votantes de diferentes gerações não apresentou grandes variações, sendo 5% a diferença entre a porcentagem mais alta e a mais baixa.
Mas a pergunta que não quer calar é: Haverá um aumento no número de mães tendo mais um bebê caso a carga horária diminuísse e o país melhorasse a oferta de creches?
Especialistas dizem que estas medidas uma grande ajuda, mas não seriam totalmente efetiva a não ser que o país conserte a desigualdade salarial entre homens e mulheres e a competição pela educação particular não for resolvida. Noh aponta: “Mesmo na cidade de Sejong, que tem muitas creches públicas, a taxa de natalidade não passa de 2%“.
Fonte: (1)
Imagem: Bank of Korea
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