Sua principal fonte de cultura coreana e conteúdo exclusivo sobre KPOP.

Cinema

Conheça mais sobre o filme “Elementos” e sua relação com a comunidade coreana fora da Coreia

Assim como muitos filmes da Disney e Pixar, “Elementos” é uma daquelas animações para toda a família: as crianças se divertem com as cenas engraçadas e os pais choram com a mensagem de fundo. Mas mesmo que a história ressoe com muita gente, ela é ainda mais próxima da comunidade coreana fora da Coreia, composta por imigrantes e seus filhos, como o próprio Peter Sohn, criador e diretor do filme.

Apesar de ser uma animação sobre os quatro elementos, a história foi inspirada pela infância e família do diretor, e ao assistir é possível perceber os elementos da “vida real” nos personagens e nas suas histórias. Descubra como a magia da Disney e Pixar tem relação com um pedaço da experiência dos imigrantes coreanos pelo mundo dentro da animação de “Elementos”.

Atenção: o texto abaixo contém spoilers sobre a história e o final do filme “Elementos”.


A difícil migração para outro país

A temática da família de imigrantes é apresentada logo no começo do filme. Em poucos minutos vemos um casal de fogo se mudando para a Cidade dos Elementos, uma promissora cidade nova que, depois de vários anos, enfim passou a receber pessoas do elemento fogo. Logo no início, o casal passa por barreiras de linguagem e é obrigado a adotar novos nomes no idioma local, Brasa e Fagulha Luz, e ainda é rejeitado por locatários assim que eles veem seu elemento.

Para ter onde morar, eles acabam em uma zona periférica da cidade, precisando construir com as próprias mãos o seu lar e a sua comunidade. Conforme a história avança, vemos que esse canto rejeitado pela cidade moderna acaba se tornando a Vila do Fogo, onde toda a comunidade deste elemento acabou morando e vivendo junta.

Essa parte da história é a principal referência que temos à questão da imigração e muitas pessoas que mudaram de país em algum momento conseguem se sentir na pele dos personagens. A referência mais forte à experiência de imigrantes sul-coreanos, embora não restrita a eles, é a mudança de nome, comum com o famoso “nome ocidental”. A criação de uma comunidade também não é exclusividade do filme e existem várias “Koreatown“, “Chinatown” e similares não só pelos Estados Unidos mas em outros países.

A motivação da mudança de vida também é comum. No caso de Brasa e Fagulha, no meio do filme é revelado que sua cidade natal passou a ter chuvas repentinas, uma condição climática nova que colocava em risco a vida deles e da filha, Faísca Luz, que estava prestes a nascer. Ir para um lugar novo com outro idioma, em um transporte não muito seguro sobre a água e sem aprovação da própria família era um risco necessário para o futuro da família.


Os preconceitos e dificuldades de conviver com o diferente

Chegar em um lugar novo era a menor das dificuldades. Na falta de onde morar, os personagens precisaram construir a própria casa. Sem oportunidade de emprego, começaram um negócio próprio de loja de conveniência dentro da própria casa. Mesmo a Vila do Fogo sendo predominante do elemento, ela não é limitada e, quando elementos da água entram, o dono Brasa entende que querem confusão. O principal público de fato da loja da família Luz eram aqueles que, como eles, eram migrantes, uma situação inspirada diretamente pela infância do diretor Peter Sohn.

Os pais de Peter se mudaram para os Estados Unidos nos anos 1970 mal sabendo falar inglês quando ele era uma criança pequena. Seu pai abriu um mercadinho nas redondezas onde moravam, no Bronx, em Nova Iorque. Seus clientes eram mais diversos do que os de Brasa em culturas e idiomas, mas ainda tinham o ponto em comum de serem, em sua maioria, imigrantes.

As dificuldades de convivência em “Elementos” é ainda maior. Quando Faísca anda pela cidade, ela precisa ter cuidado com onde anda para não esbarrar em ninguém e assim chamar atenção, chegando ao ponto de esconder quem ela é atrás de um capuz. As diferenças de oportunidades também são pontuadas no filme.

Enquanto Faísca e a família Luz vive em uma casa construída pelas mãos, com problemas estruturais na encanação e com o trabalho duro como única solução, a família do outro protagonista do elemento água, o Gota D’Água, mora em uma casa espaçosa em um condomínio vigiado por um segurança e seguir carreiras primeiramente pela satisfação é uma possibilidade bem apoiada. Isso só é possível por causa das oportunidades que a família teve ao longo dos anos e que só acentua a desigualdade entre os moradores mais antigos ou nativos e os imigrantes.


A geração dividida entre duas culturas

“Elementos” também consegue mostrar muito bem como cada geração de imigrantes é afetada, já que a vida daqueles que saem do país por conta própria e a dos seus filhos que nascem no novo lugar são diferentes. Por mais que os filhos entendam todo o sacrifício dos pais, respeitem a cultura e as tradições da sua cultura e queiram fazer a sua parte para ajudá-los, eles também têm seus próprios dilemas. Um deles sendo justamente a dificuldade de se encontrar entre duas culturas.

A protagonista do filme, Faísca, filha de Brasa e Fagulha, cresce sonhando em assumir a loja para o pai poder aposentar. Por causa de todas as dificuldades que os pais tiverem ao longo dos anos, eles aconselham a filha a ficar restrita na Vila do Fogo, com medo dos perigos da cidade, e não aceitam que ela se relacione com alguém que não seja do fogo, ou seja, fora da sua cultura. Só que Faísca, diferentemente deles, cresceu na Cidade dos Elementos e tem a curiosidade de se aventurar pela cidade e seguir seu verdadeiro sonho longe da loja dos pais.

O conflito interno entre seguir os passos dos pais, mantendo a cultura da família viva, e fazer seu próprio caminho naquele lugar novo é um dilema frequente em filhos de imigrantes que têm que encontrar a sua identidade entre duas culturas.

Como um bom filme da Disney Pixar, “Elementos” termina com uma mensagem positiva, de que o encontro entre culturas diversas é positivo, que existem sim aqueles que abraçam a diversidade e que é possível encontrar um lar em qualquer lugar.

Bem ou mal e mesmo com os seus defeitos, a Cidade dos Elementos ainda é um lugar que permitiu que tantas pessoas diferentes se encontrassem. Tem pessoas de diferentes elementos (e culturas) que trabalham juntas, torcem pelos mesmos times de esporte e, porque não, se apaixonam e vencem as barreiras das diferenças para ficarem juntos, não só do fogo da Faísca e da água do Gota, como de outras misturas. E o mesmo também pode ser dito do mundo real.

Por Paula Bastos Araripe
Fonte: (1), (2), (3), (4)
Imagem: Divulgação Walt Disney Studios
Não retirar sem os devidos créditos.

Tags relacionadas:

  • Paula Bastos Araripe

    Jornalista carioca que tem o k-pop como trilha sonora da vida. Multistan incorrigível, defensora de grupos (injustamente) desconhecidos e nostálgica da segunda geração do k-pop. Highlight (Beast) tem certificado vitalício como meu grupo ultimate.

    Sair da versão mobile