[AVISO DE GATILHO] O texto a seguir contém termos sensíveis que podem servir de gatilho. Recomendamos cautela ao prosseguir a leitura.
Ao longo de sua história, a indústria de entretenimento sul-coreana se tornou conhecida pela pressão que coloca naqueles que tentam se aventurar por ela.
A busca pela performance perfeita — seja nas telas ou nos palcos — e pelo reconhecimento do público e da mídia acaba por se tornar uma experiência pouco agradável para muitos. Hiatos para cuidar da saúde mental são frequentes e nem sempre são o suficiente para manter nomes promissores entre nós.
Infelizmente, o entretenimento sul-coreano tem mais do que um exemplo de como a pressão psicológica pode levar a finais tristes. Um deles é o da cantora e atriz U;Nee.
Nascida Lee Hye Reyon em maio de 1981, U;Nee começou sua carreira em 1996 como atriz e ainda sob seu nome de nascença. Seu primeiro drama foi “Grown-ups Just Don’t Understand”, produzido pela KBS. U;Nee também pode ser vista no longa-metragem “Seventeen” e nos dramas “Theme Game” e “Tears of the Dragon”.
A carreira musical de U;Nee começou em 2003, quando ela decidiu seguir o sonho de se tornar uma grande cantora. Naquele ano, a então atriz assumiu o nome artístico U;Nee e lançou seu primeiro álbum, U;Nee Code.
As vendas de U;Nee Code não foram arrasadoras, mas seu trabalho foi bem aceito pela mídia e sua imagem — de uma mulher sexy e jovem — conquistou a atenção dos fãs. Com a boa recepção dos fãs, a agência e os empresários de U;Nee decidiram explorar gradativamente a imagem sexy da cantora em seus próximos trabalhos.
A “nova U;Nee”, com seu estilo pop transmutado em algo mais semelhante ao R&B, pôde ser vista em 2005, com o lançamento do EP Passion & Pure e seu single, “Call Call Call”. U;Nee se submeteu a diversas cirurgias plásticas faciais e corporais para se adaptar à sua nova imagem.
“Call Call Call” foi uma das músicas mais tocadas durante seu período de promoção, sendo parte do Top 10 dos principais charts da época. Entretanto, o volume de vendas do EP foi semelhante ao de U;Nee Code não agradando totalmente seus agentes e gravadora.
A imagem sexy de U;Nee foi mais uma vez a opção escolhida pelos agentes e empresários para impulsionar sua carreira. Apesar de querida pelo público, a sexualização de U;Nee foi duramente criticada. Conhecida por ser reservada e tímida, a cantora passou a dar sinais de quanto aquela transição não estava lhe fazendo bem.
U;Nee e a depressão tinham um relacionamento de longa data. A cantora perdeu o pai ainda criança e foi criada pela avó. Pouco se sabe sobre sua mãe, mas há relatos de U;Nee ter passado por seu primeiro quadro depressivo com apenas sete anos de idade.
Às vésperas do lançamento de seu terceiro álbum, rumores diziam que a cantora estava passando por mais um quadro depressivo — o mais grave de todos. Comentários maldosos sobre sua aparência e seu talento teriam sido os principais agravantes do quadro de U;Nee. A cantora deixou de ter fãs da sua música para ter fãs apenas de sua aparência.
Em 21 de janeiro de 2007, U;Nee foi encontrada morta na casa em que vivia com sua família. A cantora se enforcou enquanto o restante de sua família tinha ido à uma cerimônia religiosa. Os motivos que a levaram a tirar a própria vida são desconhecidos, mas uma mensagem dela postada em seu site oficial deu aos fãs uma ideia de como a cantora se sentia: “Eu sinto que tudo é um vazio. Mais uma vez, estou caminhando por uma estrada onde o destino é desconhecido”.
A morte de U;Nee surpreendeu a todos. A cantora gravaria o MV de seu comeback no dia seguinte ao seu suicídio e dias antes do lançamento de seu novo trabalho. Diversos nomes da indústria da época estiveram presentes no funeral de U;Nee.
Com os rumores sobre os motivos da morte da cantora circulando de forma desenfreada, sua mãe deu uma entrevista onde negou todos, mas confirmou que sua filha sofria de depressão e vinha passando por tratamento.
O aguardado terceiro álbum de U;Nee foi lançado de forma póstuma poucos dias depois de seu funeral.
Casos como o de U;Nee, Jonghyun (SHINee), Sulli (f(x)) e até mesmo do ator Lee Sun Kyun mostram a relevância da discussão sobre saúde mental e a importância de sua manutenção na vida das pessoas — não só dentro da indústria do entretenimento, mas em toda a sociedade.
A extinção de casos como os citados, tanto na indústria quanto fora dela, talvez seja algo impossível de se alcançar, mas o que se espera — e se deseja — é que eles sejam cada vez mais raros e que a saúde mental pare de ser tratada como um tabu.
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