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[ENTREVISTA] Dubladores de “O Menino e a Garça” contam sobre a experiência de dublar uma animação do Studio Ghibli

Na última quinta-feira (22/02), chegou às telonas do Brasil a tão aguardada animação O Menino e a Garça, a mais nova obra do lendário Studio Ghibli que levou o prêmio de Melhor Animação no concorrido BAFTA e é um dos queridinhos entre os indicados ao Oscar de 2024.

A produção, que demorou cerca de 6 anos para ser finalizada e foi um grande mistério (não divulgando trailers ou imagens promocionais até sua estreia no Japão), conta a história de Mahito, um menino que está a procura de sua mãe e nessa jornada acaba se relacionando com uma estranha garça-real.

Junto com a estreia do filme, a KoreaIN teve a oportunidade de bater um papo incrível com os dubladores Arthur Salerno (Mahito) e Sérgio Moreno (Garça) sobre a experiência de dublar uma animação de Hayao Miyazaki e os desafios com a língua japonesa.



Moreno: Arthur? Vou deixar primeiro os mais novos [risos].

Salerno: [risos] Vamos lá. A gente teve a pré-estreia no dia 19, que reunimos todos os dubladores e diretor, né? Então a gente conseguiu ver de pertinho o resultado. O filme é ótimo, eu acho que todo mundo que estava ali estava bem ansioso para ver, então a minha experiência foi incrível. Como meu personagem aparecia bastante no filme, [mas] eu não conseguia ter uma dimensão do que se tratava a obra. Então poder ver ali a obra com todo mundo foi muito gratificante, saber que já vai ser distribuído para o público faz o meu coração ficar a mil. Já bate aquela ansiedade de querer saber como está a repercussão, né? Então a ansiedade já vai batendo [risos].

Moreno: Como o Arthur disse, todo o trabalhado que a gente faz, o coração fica cheio de alegria, porque a gente ama o que faz. A gente sempre costuma dizer, porque é sempre prazeroso e poder participar de uma produção do Studio Ghibli é especial porque é um nicho especial, é um produto diferenciado. E no processo de dublagem é tudo mundo rápido, então a gente não tem muito tempo para sentir algumas coisas e quando a gente vê, já estamos fazendo os testes, o briefing, e quando vê já dublamos, é tudo muito rápido. Então assistir o resultado um pouco antes da estreia oficial foi muito importante, porque, como o Arthur disse, enquanto estamos gravando não temos noção do todo do filme, porque gravamos separados. Eu sabia mais ou menos o que acontecia na minha parte e ele [Arthur] na dele, porém, o diretor dá todo o suporte para acompanhar. Além disso, a história é muito densa e detalhada, então de fato tivemos que viver a experiência quando estávamos dublando e quando vemos no cinema fica mais bonita ainda. Até entrou um cisquinho no olho no final do filme, mas sobrevivemos [risos].


Salerno: Isso é até legal falar, porque isso não acontece muito. No meu caso, eu fiz teste lá para janeiro mais ou menos e foi muito rápido o processo, uma semana já havia recebido a resposta que havia passado, mais uma semana depois, gravação. Isso geralmente é muito difícil, o Sérgio, por ser também diretor, pode falar disso melhor. Não é uma rapidez, às vezes demora para esse resultado sair, até processo de gravação, então acho um fato legal de contar que foi logo fiz o teste, passei, e logo fiz o filme. Aí me apaixonei pela obra, entrei no que se tratava e o processo de gravação foi super tranquilo e foi marcante por estar dentro da história, sempre ouvindo os briefings do diretor ou do que se tratava a cena, e é interessante falar que na maioria das vezes a gente assistia a cena uma, duas ou até quatro vezes para entender realmente. O japonês é uma língua difícil, então foi tudo muito gostoso e o processo foi gratificante. Assistir no cinema foi muito emocionante. 

Moreno: O processo de dublagem foi muito rápido e em função de confidencialidade, de materiais não serem vazados antes da estreia, enfim, a gente não tem acesso, quem tem acesso é o diretor. Ai essa já é uma outra parte, que ele já recebe o projeto e a consulta com mais antecedência do que a gente. Então foi em meados de janeiro que a gente recebeu o convite para fazer os testes e ali eles já passam um breve briefing, porque ali já receberam o material, já traduziram e já assistiram. Então o diretor sabe do que se trata até para poder escolher quem vai fazer os testes para as vozes do Menino, que no caso foi o Arthur, e da Garça, que fui eu. Então a gente recebe aquele briefing, faz o teste com todo cuidado e tudo é muito rápido, tá? Como o Arthur disse, foi tudo muito rápido, em uma semana já fomos comunicados, na outra semana já estávamos gravando e o processo de gravação de dublagem hoje é individual; um tempo atrás era todo mundo junto, mas a um bom tempo atrás, isso não existe mais hoje. Por isso, o papel do diretor de dublagem é tão importante, porque ele já sabe como cada um fez e o enredo como um todo. E a gente tenta ao máximo acompanhar o original para que a obra do Miyazaki seja preservada, mas com as características brasileiras. Até daí que vem a termo versão brasileira e achei o resultado bem satisfatório.


Salerno: Dublar um produto, ainda mais japonês, é bem complicado, animes [risos]. Particularmente, é a língua mais difícil de compreender, ainda mais ator. Então foi bem legal esse processo da direção, ainda mais quando descobri que era o Rafa e foi tudo muito meticuloso, tudo na medida, porque você encaixa e dá as nuances certas. Às vezes, você pode tomar um pouco de cuidado para ir no cantado do japonês, porque eles podem ter frases mais longas que para gente são coisas muito pequenas e vice-versa, então você tem que tomar cuidado até com a inflexão do japonês, que não é a mesma que a nossa, até por isso chamamos de versão brasileira, como o Sérgio disse. E essa coisa do improviso, não podia muito isso, porque esse personagem era mais sério, então não tinha muito esse espaço, mas talvez o do Sérgio um pouco mais, por ser um alívio cômico, mas para mim particularmente tinha que seguir uma direção já que era uma criança com um passado trágico também, uma cara mais fechada e até muito seco com pessoas da família dele. Mas umas cenas levizinhas aqui ou ali, a gente aproveitava para colocar nossa carinha brasileira, que é bom ter. 

Moreno: O improviso depende muito da obra, no caso deste trabalho do Miyazaki é muito conceitual e tem uma cultura em cima de todos os trabalhos dele, além disso, a história se passa na segunda guerra mundial. Então tem uma questão de época, tem uma sobriedade, tem todo o sofrimento do garoto e eu acho que o filme se passa numa perspectiva do Garoto, como ele via o mundo e os adultos, então de repente aquele mundo fantástico se abrindo para ele, se era imaginação ou não, enfim…Tudo faz você viajar junto com o filme, por isso improvisar, dependendo do filme e todos esses fatores, fica um pouco difícil. A minha Garça em alguns momentos era um pouco mais engraçadinha, mas isso lá para frente, porque no começo ela era assustadora, talvez muito por conta da visão que o Mahito tinha sobre ela. Então, a gente teve um cuidado todo especial nessa parte de improviso e caquinhos na dublagem.


Moreno: Infelizmente não muito, porque ainda é uma tecnologia muito desconhecida, pelo menos para mim, mas acredito que o pessoal que está mais a frente do Dublagem Viva saiba mais para que serve essa tecnologia e como vai ser usada, porque é exatamente isso que esse movimento quer: A regulamentação desse uso de inteligência artificial. Mas não quero ser negativo, temos que ter fé e continuar convidando as pessoas para assinar a petição para que o público conheça e entenda o quanto a gente tenta se aproximar do filme, respeitar a história e os sentimentos, e eu não sei como uma máquina poderia sequer chegar perto desse resultado. Não estou animado, mas desistir não é uma opção. 

Salerno: Eu concordo com tudo o que o Sérgio disse. O avanço da tecnologia é inevitável, mas acho que é mais questão de regulamentar esse uso da inteligência artificial, porque ela tem que servir para ajudar a pessoa que vai usar, e não tomar o espaço de trabalho. Então, eu também não estou muito animado, mas também não acho que uma máquina vai conseguir reproduzir por exemplo… A cena em que o Mahito chama pela mãe todo emocionado, uma máquina nunca iria conseguir reproduzir essa emoção, as emoções têm nuances que só humanos conseguem.


Moreno: O prazer é todo nosso, depois marquem a gente para sabermos o que acharam. Esperamos que todos gostem tanto quanto nós gostamos de trabalhar.


O Menino e a Garça continuará em cartaz nos cinemas brasileiros até o final de março. Quer saber quais cinemas estão passando esta obra de arte? Confira neste link!

Nossos agradecimentos aos dubladores e à SATO Company.
Imagem: Studio Ghibli, Sato Campany, divulgação
Não retirar sem os devidos créditos.

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  • Catharina Lima

    Brasiliense que entrou no mundo kpop graças aos reizinhos também conhecidos como Super Junior. Ama conhecer novas culturas e aprender novas línguas. Fascinada por webtoons de suspense e k-hip hop.

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