O Sistema Central de Gestão de Adoções (ACMS), administrado pelo Ministério da Saúde e Bem-Estar, está em operação há mais de 15 anos e é o banco de dados oficial de adoção da Coreia do Sul, no entanto, está repleto de erros de entrada de dados e falhas estruturais que não foram corrigidas.
Criado em 2010 pela extinta agência de Serviços de Adoção da Coreia, que desde então se tornou o Centro Nacional para os Direitos da Criança (NCRC), o sistema gastou mais de 2 bilhões de wons ao longo de uma década na digitalização de registros de adoção e repetidamente manipulou nomes e endereços incorretamente, e até mesmo excluiu informações importantes durante atualizações.
Documentos internos obtidos pela deputada Kim Nam-hee, do Partido Democrata da Coreia, detalham falhas críticas. Quando um arquivo é atualizado, as informações de outro arquivo podem desaparecer. Além disso, endereços antigos não podem ser inseridos corretamente devido a limitações de formatação.
Em alguns casos, quando os dados de uma criança são inseridos, os dados dos irmãos são sobrescritos. A equipe relata que as informações inseridas em um dia desaparecem no dia seguinte após uma atualização do sistema.
Uma assistente social que atua em serviços de adoção compartilhou uma experiência preocupante: “Em um caso em que uma mãe havia colocado duas crianças para adoção, inserir os dados da segunda criança fez com que o nome da mãe biológica desaparecesse do registro da primeira criança. Após uma atualização do sistema, até mesmo as informações pré-inseridas sobre a criança desapareceram completamente“.
Um funcionário de uma instituição que ajuda adotados a localizar seus pais biológicos expressou preocupações semelhantes: “Queremos ajudar os adotados a se reunirem com suas famílias biológicas, mas isso é simplesmente impossível com este sistema“.
Muitos registros de adoção datam de décadas e frequentemente incluem formatos de endereço desatualizados. O serviço de busca de famílias biológicas administrado pelo NCRC utiliza esses endereços para enviar cartas de consulta aos pais biológicos. Quando os endereços são inseridos apenas de forma aproximada, a probabilidade de contato bem-sucedido diminui significativamente.
Ainda mais preocupante é o fato de o governo estar se preparando para transferir milhares de registros de agências privadas de adoção, como a Holt, para o sistema estatal no próximo mês, apesar das falhas persistentes. Sem uma reforma urgente, alertam especialistas, mais registros podem ser comprometidos.
No ano passado, 3.374 adotados no exterior solicitaram acesso aos seus registros de nascimento na Coreia do Sul e menos de 1% (259 pessoas) conseguiram se reunir com seus familiares.
Questionado sobre o assunto, o Ministério da Saúde e Bem-Estar Social alegou que 185 dos 204 registros inseridos incorretamente foram corrigidos.
Entretanto, uma revisão independente de 10 casos feita pelo Hankook Ilbo revelou que metade não havia sido corrigida e em um caso os dados foram completamente apagados.
Kyung-eun Lee, especialista em direito internacional da Universidade Nacional de Seul, condenou a situação: “Tratar registros pessoais vitais dessa forma é discriminatório. Se o sistema era falho desde o início, há o dever de corrigi-lo“.
Para os cerca de 200.000 adotados no exterior como ela, a falha é mais do que uma falha técnica — é uma barreira para recuperar suas identidades.
Um exemplo da barreira criada pela falha no ACMS é o caso de Anna Kim Riley (nascida Jang Won-sook), uma adotada coreana-americana de 40 anos que nasceu em Daejeon e foi adotada nos Estados Unidos. Em 2023 ela acreditava ter finalmente encontrado sua mãe biológica por meio do ACMS, mas um teste de DNA provou que elas não eram biologicamente relacionadas: “Acho que o governo coreano nunca esperou que voltássemos”, disse ela. “E mesmo agora, parece que eles nos tratam — crianças que antes eram pobres, deficientes ou indesejadas — como descartáveis”.
Leia também: Governo sul-coreano é responsabilizado por fraude e violação de direitos humanos em adoções no exterior
Fonte: (1)
Imagem: Hankook Ilbo
Não retirar sem os devidos créditos.
