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Cultura História

Saiba mais sobre os Três Reinos da Coreia

O que as aulas de história nos contam a sobre a Ásia? Pouco, ou quase nada. Geralmente há apenas uma pincelada sobre a história, e crescemos sem saber ao certo sobre a civilização do Leste Asiático, principalmente sobre a Península Coreana. Afinal, a Coreia do Sul vai muito além do K-pop e dos K-dramas, e felizmente atualmente temos acesso a artigos e estudos feitos por historiadores que nos contam sobre lendas, tradições e cultura da história do país, marcada por reinos, conflitos e muita luta.

Foi em um conflito de interesses que os Três Reinos da Coreia surgiram. A divisão da Coreia nesses Três Reinos marca fortemente o início das culturas e tradições coreanas, principalmente por sua arquitetura, vestimentas, instrumentos musicais e objetos de todo o tipo, que se tornaram típicos e super importantes para a identidade deste país no Leste Asiático.

Durante o período dos Três Reinos, os reinos Goguryeo (고구려, de 37 a.C. a 668 d.C.), Baekje (백제, de 18 a.C. a 660 d.C.) e Silla (신라, de 57 a.C. a 935 d.C.), juntamente com os estados confederados Kaya, estabeleceram monarquias hereditárias e fronteiras definidas. Embora seus primórdios (no final do século 1 a.C.) sejam envoltos em uma névoa de incerteza e mito (algumas lendas dizem que os primeiros governantes de Goguryeo, Silla e do estado Kaya nasceram misteriosamente de ovos, sim, ovos!), essas nações somente se tornaram entidades reconhecíveis em 200 d.C. Logo após a influência direta da China.

Mapa dos Três Reinos da Coreia (Goguryeo, Baekjae e Silla), junto com os estados de Kaya | Créditos: World History Encyclopedia

Características gerais dos reinos

Os Três Reinos, apesar de rivais, possuíam diversas características comuns. A separação se deu por conta das constantes guerras em busca de expansão, e cada grupo possuía uma ideologia diferente quando se tratava de bens e poder. Devido aos conflitos, cada um dos Reinos evoluiu conforme sua ideologia, seguindo ordens de monarcas ao longo dos anos. Em lendas conta-se que os reis eram escolhidos por deuses da natureza, sendo anunciados através de animais silvestres, e a partir dessa “escolha” cada reino se desenvolveu, criando uma linhagem hereditária de monarquia.

Outra característica comum foi o aparecimento de poderosas aristocracias compostas por chefes tribais que se mudaram para a capital. Os aristocratas foram divididos em várias classes sociais, cada qual com privilégios, estes adquiridos a medida que avançavam social e politicamente.

O sistema de Silla, no qual as famílias dos governantes costumavam monopolizar o poder político, era típico. Silla tinha um órgão deliberativo estadual, o Conselho de Nobres (hwabaek), que tomava decisões importantes. Os membros do conselho eram homens da classe que pertenciam à alta aristocracia.

Pintura de um nobre de Silla | Créditos: Nobility Titles

Todos os reinos alcançaram uma centralização de poder. Cada um foi dividido em unidades administrativas: Pu em Goguryeo, Pang em Baekjae e Chu em Silla. Para essas unidades provinciais, o governo central enviou funcionários que garantiram que o povo, como súditos reais, fornecesse impostos e trabalho para os soberanos. Os Três Reinos desenvolveram culturas altamente sofisticadas, destacando a arte e a literatura da época. A religião que prevaleceu foi o budismo, com influência da teoria confucionista.

Grande queimador de incenso de bronze dourado de Baekje (século 6); este precioso objeto ajuda a compreender as habilidades de produção, cultura, artística, religião e filosofia de Baekje | Créditos: Britannica

Os Três Reinos

Silla: o império de ouro

Conhecido por sempre querer esbanjar riqueza, Silla contou com o apoio do exército chinês para se tornar um reino e se separar de Goguryeo e Baekje. Anos após a conquista, Silla expulsou o exército chinês e deu sequência em seu crescimento e enriquecimento. Silla cresceu sob uma monarquia absoluta, que eliminava toda a influência dos nobres do estado, contando com o apoio da Chancelaria (chipsabu), um grupo de pessoas escolhidas pelo rei que ajudavam a administrar o reino. Apesar de não terem tanta voz ativa, os aristocratas recebiam salários e terras durante a vida, porém, quando o responsável morria, os bens voltavam para os monarcas — tudo isso feito para retirar o controle da nobreza sob as terras e riquezas do reino. 

A monarquia era a absoluta fonte de poder, refletindo até mesmo no nome do reino, pois Silla significa que as conquistas virtuosas do rei sejam renovadas a cada dia e estendidas por todo o mundo. O que ajudou a manter esse controle foi impor a ideologia Budista, que salientava a filosofia de que ao seguir o budismo, a felicidade seria encontrada pelo caminho. A monarquia impunha então a maneira de seguir essa religião e controlava a população. Enormes templos budistas foram erguidos durante esse reinado, e ainda podem ser encontrados preservados nos dias de hoje. 

Coroa de ouro, 500 d.C. (período Silla), do Monte Norte da Tumba 98, a Grande Tumba em Hwangnamdong, Gyeongju, no Museu Nacional de Gyeongju (altura: 27,5 cm) | Créditos: Museu Nacional Gyeongju
O santuário da gruta Seokguram perto de Gyeongju | Créditos: Eimoberg

Inúmeros conflitos colocaram fim ao reluzente reinado da monarquia, pois os aristocratas clamavam por justiça e exigiam direitos de administração e poder. A fragilidade do povo fez de Silla um alvo fácil para os chineses, que já estavam de olho no reino, e fizeram acordos com os militares das fronteiras para se tornarem ainda mais ricos. O rei sucumbiu aos nobres, dividindo o poder e abusando ainda mais dos pobres camponeses que se desesperavam para pagar impostos. O povo cansou de tamanho conflito e muitos desistiram de trabalhar para o reino, passando a viver pelas ruas e abandonando os empregos. O Reino de Silla sofreu grandes mudanças, mas conseguiu sobreviver para, em alguns anos, conquistar todos os reinos.


Goguryeo: o maior reino de todos

A Dinastia Goguryeo foi o maior dos reinos e governou a parte norte da Coreia. Conta-se que Goguryeo foi fundado em 37 a.C., na bacia do rio Tongge, por Chu-mong, líder de uma das tribos Puyŏ nativas da área, mas os historiadores modernos acreditam que é mais provável que o estado tribal tenha sido formado no século 2 a.C. Entre lendas e estudos, não é possível afirmar com toda certeza como se deu a fundação de Goguryeo.

Durante o reinado do Rei T’aejo (53-146), um sistema hereditário real foi estabelecido. Com a promulgação pelo rei Sosurim (reinou de 371 a 384) de várias leis e decretos com o objetivo de centralizar a autoridade real, Goguryeo cresceu como um estado aristocrático hereditário. A burocracia central tinha 12 graus, com um tae-daero (primeiro-ministro) no topo, eleito por seus colegas funcionários a cada três anos. Os oficiais governaram por meio de uma série de guarnições militares presentes em pontos estratégicos em todo o estado.

Pintura de aristocrata de Goguryeo presente em tumbas; era comum o uso destes adornos para homenagear o falecido | Créditos: Ancient History Encyclopedia

Como resultado da influência chinesa, o budismo foi introduzido em 372 d.C. como um suporte ideológico para toda a burocracia do reino de Goguryeo, bem como a educação confucionista, que começou a ser enfatizada como um meio de manter a ordem social. O taoísmo também se espalhou nos últimos anos. As numerosas pinturas de tumbas sobreviventes dão uma boa imagem da vida, ideologia e caráter do povo Goguryeo.

O primeiro código de leis foi criado neste reino (tinha oito orações, mas apenas três são conhecidas) e também houve grandes avanços nas técnicas de produção, artesanato e pensamento artístico — principalmente dedicado a representações religiosas e funerárias. Esta época também é caracterizada por um maior conhecimento em astronomia. Hoje é possível visitar as antigas tumbas do reino Goguryeo, como Kangso-daemyo (a Grande Tumba) e seus murais impressionantes.

Mural de um tigre branco mítico em uma tumba | Créditos: Amura World

Com o estabelecimento das dinastias Sui (581-618) e Tang (618-907) unificadoras na China, Goguryeo começou a sofrer pressões da China. O reino foi derrotado em 668 pelas forças aliadas do reino de Silla e da dinastia Tang, e toda a península ficou sob a dinastia unificada Silla (668–935). Vários locais no extremo sul da província de Jilin, China, contendo as primeiras ruínas e tumbas de Goguryeo foram designados coletivamente como Patrimônio Mundial da UNESCO em 2004.


Baekje: força política e arte notável

Baekje controlava a parte sudoeste da Península Coreana e, ao longo de sua história, em vários momentos aliou-se a Silla e Goguryeo. Em seu auge do poder, Baekje controlava a maior parte do lado oeste da Península, incluindo o que hoje é Pyongyang (Coreia do Norte).

O reino de Baekje se distinguiu por seu profundo sentido artístico budista, transmitido por monges, arquitetos, artesãos, escritores ou músicos, que experimentaram um grande despertar, junto com os avanços da medicina, astronomia e geografia. Os monumentos budistas, conhecidos como pagodes, localizados no Templo Miruk-sa, em Iksan, e no Templo Chongnim-sa, em Puyo, são de grande valor cultural. Algumas das estátuas budistas mais notáveis incluem a figura dourada do Bodhisattva Maitreya e a tríade do Buda em Seosan. A música deste reino já era mais elaborada e composta por sete instrumentos de sopro e cordas, a dança Mucheon (dança para o céu) também foi realizada, assim como representações de Talchum, uma dança teatral mascarada.

Bodhisattva Maitreya de Seosan | Créditos: TRIPPOSE
Representação da dança mascarada “Talchum” | Créditos: Korean Cultural Center New York

Por aproximadamente 100 anos, começando no final do século 4, Baekje entrou em confronto com Goguryeo. O rei Gwangaeto de Goguryeo avançou com a expansão para o sul, e seu sucessor, o rei Jangsu, transferiu a capital do reino para Pyeongyang, colocando Baekje sob ameaça direta. Enquanto isso, em Baekje, o 21º governante, o Rei Gaero (455-475), estava focado em concentrar o poder dentro da família real e implementar a construção em grande escala como um meio de obter o poder absoluto. 

Quanto às relações externas, o rei Gaero tentou forjar uma relação diplomática com o norte de Wei da China como uma barreira contra Goguryeo, mas suas políticas resultaram em fragmentação doméstica e ataques de Goguryeo. A capital de Baekje, Hanseong, caiu em 475 para as tropas de Goguryeo lideradas pelo rei Jangsu, e o rei Gaero foi capturado e morto. Além do rei, outros membros da família real foram executados e oito mil pessoas foram feitas reféns.


O fim dos três reinos

Os reinos foram finalmente unidos (novamente!) sob a única bandeira: a do reino Silia, após todos cessarem fogo e entregarem o reino para as forças Sillas e a Dinastica Tang, da China. Os Três Reinos passaram a se chamar Reino Silla Unificado, e este reino durou cerca de 267 anos.

Curiosidade extra: o Hanbok usado durante os Três Reinos

As origens do Hanbok podem ser encontradas durante o período dos Três Reinos, pois, dentre as diversas vestimentas, algumas se tornaram clássicas entre Baekje, Goguryeo e Silla

A própria palavra “hanbok” na verdade significa “roupas coreanas”. A roupa consiste em 2 peças principais. Na parte superior do corpo, homens e mulheres usam uma vestimenta chamada “jeogori”. O jeogori feminino é preso por um barbante chamado “goreum”. Na parte inferior, as mulheres usam uma saia longa chamada “chima” e os homens usam calças largas chamadas “baji”. O look é complementado por sapatos de seda chamados “kkotsin”.

Diferentes estilos de Hanbok | Créditos: National Clothing

Leia também: O que é Hanbok? Conheça tudo sobre a roupa tradicional coreana

Em Baekje usava-se calças mais largas em comparação com as calças usadas em Goguryeo. Além disso, o jeogori era mais longo e mais largo. As pinturas murais que datam do Reino de Goguryeo mostram que não havia diferença distinta no hanbok de homens e mulheres. Tanto as mulheres quanto os homens usavam jeogori de mangas brancas, longas o suficiente para cobrir seus quadris sobre calças ou saias. Já durante o Reino Silla, o hanbok foi influenciado pela moda chinesa. As pessoas usavam jaquetas compridas presas na cintura, por cima de saias compridas.

Por Isabela Marques

Fonte: (1), (2), (3), (4), (5), (6), (7), (8), (9), (10), (11), (12), (13)

Imagens: Epimetheus, World History Encyclopedia, Nobility Titles, Britannica, Museu Nacional Gyeongju, Eimoberg, Ancient History Encyclopedia, Amura World, TRIPPOSE, Korean Cultural Center New York, National Clothing

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  • Isabela Marques

    Jornalista do interior de SP. Basicamente metade da minha vida foi dedicada ao lado geek asiático. Quando não estou sendo uma boa fangirl, aproveito para ler bons livros e webtoons de mistério.

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