Quando os diretores Maggie Kang e Chris Appelhans começaram a trabalhar com a Sony Pictures Animation em Guerreiras do K-pop, talvez nem imaginassem que estavam criando um dos maiores fenômenos da Netflix. Mas bastou o lançamento para o filme conquistar o mundo e o coração de fãs de todas as idades.
“Foi incrível assistir à trajetória”, relembra Chris Appelhans. “O boca a boca e a qualidade do filme fizeram o público crescer semana após semana. E ver a paixão e a especificidade dos fãs on-line… Eles foram a melhor promoção que poderíamos ter. Só temos a agradecer”.
Para Maggie Kang, o sucesso tem gosto de missão cumprida: “Era como criar um filho e colocá-lo no mundo. No começo você pensa: ‘Espero que gostem de você. Espero que seja bem recebido’. E agora estamos apenas assistindo, de longe, esse filho brilhar“.
Do streaming ao palco: o primeiro show ao vivo
O trio que dá voz às protagonistas do grupo fictício HUNTR/X, formado por EJAE (Rumi), Audrey Nuna (Mira) e Rei Ami (Zoey), está prestes a viver outro marco: a primeira performance ao vivo no “The Tonight Show”, programa de Jimmy Fallon, na próxima terça-feira (7).
“Estamos tentando inventar novos adjetivos para definir esta experiência”, brinca Rei Ami. “Nós três nos conectamos e nos sentimos como uma unidade.”
EJAE destaca a intensidade dos ensaios: “Golden é uma música difícil. Mas cantar ao lado dessas mulheres faz tudo valer a pena. São artistas incríveis”. Maggie revela que esta canção, que se tornou um dos maiores hits do filme, passou por diversas versões até chegar ao resultado que conhecemos: “Fizemos muitas versões diferentes. Eu vivia perguntando à EJAE: ‘Você consegue cantar mais alto?’. E ela sempre ia além”.
Rei Ami ainda compartilhou um sentimento único: “Tivemos a benção de ver a EJAE cantando essa música ao vivo pela primeira vez no mundo. Nós também aprendemos muito com tudo o que ela faz”.

Quando a arte salva
Mais do que números, o que toca o coração das artistas são as histórias de impacto pessoal. EJAE conta, emocionada, sobre uma mensagem recebida: “Uma fã perdeu um dos pais e o namorado nos contou que colocou o filme para ela assistir. Ela se prendeu à cena incrível do avião, após assistir tudo, começou a chorar. Ele me disse que o filme realmente a salvou e que não a via sorrir há muito tempo. Ela voltou a sorrir. A música ajudou. Ela canta as músicas todos os dias”.
A produção surpreendente e emocionante
EJAE revela que em conversa com seu coescritor, Mark, levou até ele a ideia da melodia, que surgiu muito rápido e que sentiu ser épica: “O gancho principal conseguimos logo. Ficamos tipo ‘Acabou, está pronto’“. Para eles, a música soava muito bem: “Será que acabamos de escrever um hit?“, disseram juntos durante uma videochamada.
A diretora Maggie Kang contou que ao ouvir a música pela primeira vez, durante uma viagem de carro, chorou logo nos primeiros acordes: “Porque eu sabia exatamente… Sabia que era aquilo. Foi mágico desde o começo. ‘Meus Deus, conseguimos’. Aí comecei a chorar mais, porque estava ficando cada vez melhor“.

Representatividade que fala com todos
Para Maggie, era essencial retratar o universo do K-pop de forma autêntica, representando o fandom corretamente: “O que há de mais especial no K-pop é a relação entre idols e fãs, tão diferente de qualquer outra coisa. Para homenagear isso, incorporamos esse aspecto à mitologia”. A diretora afirma categoricamente: “Eu vi o K-pop se tornar K-pop desde a primeira geração. Ninguém pode me dizer que não sou fã de K-pop, porque estive lá antes de todos”. Ela ainda fala sobre a abordagem escolhida para o público: “Não queríamos explicar tudo, mas jogá-los dentro daquele universo para que aprendessem curtindo o filme e as personagens“.
Audrey Nuna, que se apaixonou por K-pop ainda criança, diz se ver refletida na narrativa: “A primeira música que ouvi quando me chamaram para o projeto foi ‘How It’s Done’. Havia algo nela que me lembrou de quando eu me apaixonei pelo K-pop. Eu desmaiei num show do Big Bang aos 12 anos, sabia? E ‘How It’s Done’ tinha essa energia ousada, feminina e empoderadora dos anos 2010“.
Audrey também fala da sensação compartilhada de representatividade, em como o filme está em uma linguagem da cultura coreana, mas que sua narrativa atinge pessoas de diversas culturas por conta da abordagem humana e sensível: “Aquela sensação de ‘De quais partes de mim eu me orgulho? Quais parte eu não me orgulho?’”. Para a cantora, “este é o filme que nossas versões de sete anos queriam e precisavam. E ele não ressoa só com crianças. Há literalmente avós indo sozinhos aos eventos de autógrafo. Os personagens são complexos e humanos“.
Ela lembra de um momento particularmente emocionante: “Chorei ao ver o kimbap animado logo nos primeiros dez minutos do filme. Algo que eu achava que os outros iam achar nojento, agora está celebrado num filme mundialmente famoso, icônico e clássico”. Audrey ainda completa, relatando momentos do seu passado: “Eu escondia meu kimbap na segunda série. Lembro de levar uma lancheira da Barbie, mas dentro tinha kimbap“.
Um fenômeno humano
Mais do que um sucesso comercial, Guerreiras do K-pop se tornou um portal de conexão. “Você encontra um desconhecido que assistiu ao filme e sente uma ligação imediata”, reflete Audrey. “É um milagre que só a arte proporciona: ver alguém completamente diferente de você e entender que somos todos humanos nessa jornada maluca juntos.”
Por Naira Nunes
Agradecimentos: Netflix
Imagens: Netflix
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