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O que é Cagongjok?

Imagine entrar em um café e se deparar com todas as mesas ocupadas por pessoas estudando ou trabalhando. Em vez do barulho típico de conversas, o que predomina é o som de teclas digitando e um silêncio que mais lembra uma biblioteca do que uma cafeteria. Essa cena seria, no mínimo, curiosa se acontecesse no Brasil, mas saiba que isso é algo totalmente comum na Coreia do Sul.

Este fenômeno sociocultural se chama Cagongjok (카공족) — uma mistura das palavras “café” (cape), “estudo” (gongbu) e “tribo” (jok) que, em tradução livre, seria algo como “tribo que estuda em cafés”. E essa tribo é enorme: uma pesquisa com mais de 2 mil jovens sul-coreanos em busca de emprego revelou que 70% deles estudavam em cafés pelo menos uma vez por semana.

O que leva tantos jovens a trocar bibliotecas ou o conforto de casa por uma cafeteria? O crescimento dos Cagongjok tem relação direta com a explosão das redes de cafeterias na Coreia do Sul. Houve um aumento de 48% nos últimos cinco anos, chegando a quase 100 mil estabelecimentos. A partir daí, muitos jovens descobriram que o café poderia se tornar um ambiente interessante para estudar ou trabalhar remotamente, por conta da conveniência de ter lanches e bebidas à disposição.

Estudar em cafés também é especialmente útil para quem mora nos compactos apartamentos studio ou busca uma separação entre o espaço de vida e o de trabalho. Não é incomum encontrar pessoas que chegam ao café de manhã e só vão embora à noite, quando o estabelecimento fecha. Alguns jovens até mesmo deixam seus pertences nos cafés na hora do almoço, e vão a outro lugar para fazer a refeição antes de voltarem ao trabalho.

Por isso, não é surpreendente dizer que a prática de Cagongjok divide opiniões entre os donos de cafeterias. Algumas grandes franquias abraçaram esta tribo e oferecem tomadas para equipamentos, mesas individuais e um tempo de permanência maior para estudar ou trabalhar no café.

No entanto, a situação é considerada insustentável para alguns pequenos empresários. Os prejuízos são claros: um único cliente pode ocupar uma mesa para quatro pessoas por um dia inteiro e terminar comprando apenas um café durante a sua sessão de estudos. Há relatos extremos de clientes que montam verdadeiros escritórios, levando monitores, impressoras e réguas de energia para carregar todos os seus aparelhos na cafeteria.

Como resposta, alguns estabelecimentos adotaram medidas drásticas. Alguns cafés passaram a colocar placas de “No Study Zone” (Zona Livre de Estudos) para deixar claro que os Cagongjok não são bem-vindos, enquanto outros passaram a impor um limite de permanência de duas horas para quem está usando o espaço para trabalhar ou estudar — regra que não se aplica aos clientes que estão ali apenas para socializar.

Para além da disputa entre clientes e comerciantes, o fenômeno Cagongjok revela algo mais profundo sobre a sociedade. A professora Choi Ra-young, da Universidade de Ansan, que estuda educação há mais de duas décadas, enxerga a questão como uma consequência da hipercompetitividade comum na Coreia do Sul. “Esta é uma cultura jovem criada pela sociedade que construímos“, explica ela à BBC. “A maioria dos Cagongjok são provavelmente estudantes ou pessoas em busca de um emprego. Eles estão sob pressão — seja pela vida acadêmica, pela insegurança no trabalho ou por moradias sem janelas e sem espaço para estudar“. Na visão dela, esses jovens são, de certa forma, vítimas de um sistema que não oferece espaços públicos adequados para que possam aprender e se desenvolver. “Eles podem ser vistos como um incômodo“, conclui a professora, “mas também são um produto da estrutura social“.

Fonte: (1), (2), (3)

Imagem: Judit Peter via Pexels

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