Se um país tem sua própria moeda, significa que a nação tem seu próprio dinheiro. Na Coréia do Sul, a unidade monetária oficial é o Won (₩), representado pela letra W com dois traços horizontais. “Won” é um termo cognato para o yuan chinês e o iene japonês, todos derivados do carácter chinês 圓, que se refere à característica arredondada de um objeto, nesse caso, a moeda.
Antigamente, 1 won equivalia a 10 jeon (“dinheiro”, o que seria equivalente ao nosso centavo brasileiro), mas essa moeda deixou de ser utilizada nas transações cotidianas comuns. Portanto, para fins práticos, a denominação mais baixa da moeda sul-coreana em uso é 1 won. A contagem nas cédulas, assim como a utilizada para pesos e ienes, é feita em mil, resultado de uma forte inflação ocorrida em 1970.
Tanto a Coréia do Norte quanto a Coréia do Sul se referem às suas moedas como won, representado com o mesmo símbolo (₩), portanto, é importante indicar claramente a qual won você se refere ao discutir a moeda. Uma maneira fácil de diferenciá-las é por meio da designação de mercado do câmbio estrangeiro, relacionada ao acrônimo do país: na Coréia do Sul é KRW e na Coréia do Norte é KPW.
Breve histórico da criação do Won
Para explicar a origem do won, é necessário retomar o fim da Segunda Guerra Mundial. Até 1945, a Coréia esteve sob o controle do Japão, logo, a moeda era vinculada ao iene japonês. Com o fim da guerra e a rendição oriental, os Estados Unidos da América exerceu influência sobre a parte sul da Coréia e a União Soviética sobre a parte norte. Nessa época, o won sul-coreano foi atrelado ao dólar americano.
Após a Guerra das Coréias (1950), uma sucessão de severas desvalorizações do won provocou sua desassociação ao dólar e a criação do Banco da Coréia para autorizar e supervisionar a cunhagem de moedas e a emissão das notas. Em 1953, o won foi substituído pelo hwan, mas retornou pouco tempo depois, em 1962, até se tornar oficialmente a única moeda com curso legal na Coréia do Sul em 22 de março de 1975.
Desde 1990, a Coréia intensificou seu combate à falsificações, adicionando vários recursos de segurança, como tinta de mudança de cor e microimpressão. Novas mudanças foram feitas em 2006, levando o governo a introduzir outros 22 recursos adicionais, como imagens holográficas em 3D e marca d’água.
As moedas de won
Atualmente, existem seis tipos de moedas e quatro tipos de cédulas. Em junho de 2009, o Banco da Coréia anunciou a emissão de notas de 100,000 won, mas a introdução foi cancelada no último momento, sem motivos claros. É costume das nações que possuem um sistema monetário próprio homenagear seu país com elementos importantes para sua cultura, a moeda won optou por símbolos em vez de pessoas.
₩500 – Garça com a cabeça vermelha, significa “sorte” na tradição coreana.
₩100 – Almirante Yi Sun-Shin (이순신)
₩50 – Ramo de arroz, uma das bases da alimentação coreana.
₩10 – Templo de Bulguksa (Gyeongju), um dos Patrimônios Históricos da Coréia e detentor de inúmeras relíquias budistas.
₩5 – Navio Tartaruga, grande arma naval com concha espinhosa e cabeça de dragão que cuspia fumaça, criação do Almirante Yi Sun-Shin.
₩1 – Rosa de Saron, um dos símbolos nacionais da Coréia.
As cédulas de won
As cédulas, por outro lado, exibem personalidades importantes para a história da Coréia e que, até hoje, são motivo de muito orgulho e honra para o país, refletindo os valores da nação e o que é esperado de seus cidadãos.
₩1000 – Yi Hwang (이황)
Também conhecido como Toegye (퇴계), Yi Hwang (1501-1570) foi um dos maiores intelectuais da Coréia. Desde muito cedo, chamava atenção dos adultos por sua grande inteligência: aos 12 anos, aprendeu os Analectos de Confúcio e, até os 18, já havia escrito um de seus principais poemas. Com essa trajetória de sucesso, Toegye dedicou-se à filosofia, sendo reconhecido especialmente por seus ensinamentos neo-confucionistas.
Yi Hwang também foi famoso por sua atuação política, ocupando inúmeros e distintos cargos no governo. Seu trabalho de maior prestígio foi junto ao Escritório de Palestras Reais, que conseguiu ao mesmo tempo em que trabalhava no Escritório de Conselheiros Especiais. Um ano após sua morte, o Rei conferiu a ele o título póstumo Mun Sun (Palavra Pura) e, cinco anos depois, a Tosan Academy, na província de Kyngsang, foi criada em sua homenagem.
₩5000 – Yi I (이이)
Outro dos homens mais inteligentes da Coréia foi Yi I (1536-1584), discípulo de Toege. Assim como seu mestre, assinava seus trabalhos com um nome literário, em seu caso, escolheu Yulgok (율곡), também teve múltiplos trabalhos enquanto poeta, filósofo e professor do neo-confucionismo. Suas contribuições na política foram extensas, mas seu feito mais impressionante foi “prever” que os japoneses iriam invadir a Coréia (Guerra Imjin) e sugerir que o país aumentasse seu exército.
Yi I foi considerado prodígio desde que nasceu: começou a ter aos 3 anos e, aos 7, já havia terminado todas as suas aulas de confucionismo. Com 13 anos, Yulgok passou no exame literário do Serviço Civil e, aos 16, decidiu se dedicar aos estudos budistas e mudou-se para as montanhas. Ser filho de Shin Saimdang é parte de todas essas conquistas impressionantes.
₩10,000 – Rei Sejong, o Grande (세종대왕)
Sejong (1397-1450) foi um dos dois únicos reis coreanos a receber o título de “o Grande”. Líder progressista, brilhante estrategista militar e acadêmico virtuoso, esse sábio rei é uma pessoa da qual os coreanos têm muito orgulho. Durante o período Choson, Sejong introduziu uma série de melhorias organizacionais e tecnológicas que vemos os resultados até hoje.
Sua maior conquista é a criação do alfabeto nacional, o hangul. Em 1446, com muito esforço, Sejong desenvolveu um sistema de escrita que representasse com precisão os sons da língua coreana e a estrutura das frases, permitindo uma comunicação mais eficaz e substituindo o sistema anterior, que utilizava caracteres chineses. A alfabetização e o investimento em livros de qualidade depois disso foram promovidas em larga escala.
₩50,000 – Shin Saimdang (신사임당)
Primeira e única mulher a estampar uma nota sul-coreana, Shin Saimdang (1504-1551) representa a adição mais recente e o que a Coréia espera das mulheres. Shin recebeu uma boa educação dos pais e assumiu seus deveres enquanto filha, cuidando dos pais idosos, ao mesmo tempo em que criava sozinha seus sete filhos – Yi I, seu primogênito, é um dos prodígios do país. Porém, só isso não foi suficiente: ela foi calígrafa, poeta, escritora e artista em uma época em que as mulheres só poderiam sonhar com isso.
O sucesso em cumprir seus deveres como mulher, mãe, esposa e filha, e ser uma artista de êxito simultaneamente, trouxe a ela um grande respeito na Coréia do século XXI. Balancear todas essas responsabilidades, por outro lado, requer um grande investimento de tempo e energia, que contribuíram para que ela falecesse cedo. Ainda assim, seu legado intelectual e moral, imensurável, se estendeu por 3 gerações e sobreviveu por mais de 500 anos.
A escolha de Shin Saimdang, também conhecida como Eojin Eomeoni (Mulher Sábia) como o rosto da nota mais cara e mais recente reflete o ideal de conciliar o que é esperado de uma mulher: alguém que seja bem-sucedida profissionalmente, mas que é, acima de tudo, uma boa mãe. A Coréia também a homenageou com o Prêmio Saimdang, entregue anualmente a mulheres que consigam a mesma proeza que ela.
Fontes: (1); (2); (3); (4); (5); (6); (7).
Imagens: Reprodução
Não retirar sem os devidos créditos.