O dia 18 de maio é uma data muito importante para o povo coreano que está repleta de memórias profundas e aterrorizantes. Este foi o dia em que aconteceu o Massacre de Gwangju, que completa 41 anos em 2021. Em maio de 1980, a Coreia do Sul enfrentava um processo de luta pela democratização do país e uma série de manifestações com duração de aproximadamente uma semana ocorreram na cidade de Gwangju. Estes movimentos são considerados um marco da luta pela democracia no país.
O contexto histórico
Após a Guerra da Coreia, os EUA começaram a apoiar qualquer governo que trouxesse a ideia pró-EUA na luta contra o comunismo. Eles viam a Coreia do Sul como parte importante na sua defesa estratégica contra o comunismo e, mesmo com um histórico de repressão, o presidente Park Chung Hee foi apoiado pelos EUA e assumiu o poder da Coreia por meio de um golpe militar, instituindo uma ditadura que durou entre 1961 a 1979.
Em outubro de 1979 o presidente Park foi assassinado e a Coreia do Sul passou por um breve período de liberalização política, que acabou em outro golpe militar em dezembro de 1979, do qual Chun Doo Hwan assumiu como ditador. Para legitimar seu golpe, ele usou o discurso de “segurança nacional” dizendo que era necessário tal ato para que o país não fosse dominado pela Coreia do Norte.
Nesta época, muitos outros países no ocidente e na Ásia estavam em processo de luta pela democratização e a Coreia não ficou fora disso. Diante de um governo extremamente autoritário, os estudantes tomaram frente na luta pela democracia do país e, em 18 de maio de 1980, na cidade de Gwangju, houve um massacre do qual o presidente ordenou que seus soldados atacassem as manifestações.
O presidente expandiu sua declaração anterior da lei marcial, que impedia manifestações e fechou universidades e escritórios de jornais. Como a polícia da cidade não conseguiu controlar a multidão, o presidente Chun enviou tropas adicionais do exército para Gwangju armadas com equipamento antimotim e munição real. Os soldados usaram gás lacrimogêneo, cassetetes e balas de borracha para conter o levante, mas, quando os trabalhadores e pais viram seus filhos sendo brutalmente agredidos, saíram às ruas para protegê-los. Os militares abriram fogo contra a multidão e centenas de pessoas morreram ou ficaram gravemente feridas.
No dia 20 de maio, cerca de 10.000 pessoas protestaram novamente em Gwangju e desta vez, usaram armas e lutaram contra o exército até que, finalmente, em 21 de maio, as Forças Especiais se retiraram e a cidade foi deixada para os cidadãos. Foi um cenário de guerra e caos total. Após o massacre, a cidade abordou um sistema de sustento isolado do governo e se tornou “independente”.
No dia 25 de maio, 50.000 pessoas se reuniram para um comício e pediram a abolição da lei marcial, os cidadãos tinham certeza de que o massacre ocorrido convenceria os Estados Unidos a vir com auxílio, mas, em vez disto, os norte-americanos apoiaram o governo a levar tropas para retomar a cidade de Gwangju. O exército invadiu a cidade, conteve a manifestação prendendo cerca de 1.740 manifestantes.
O governo de Chun Doo-hwan divulgou um relatório afirmando que 144 civis, 22 soldados e quatro policiais foram mortos na Revolta de Gwangju, mas os números do censo revelam que quase 2.000 cidadãos de Gwangju desapareceram durante este período. Um pequeno número de estudantes vítimas, principalmente aqueles que morreram em 24 de maio, estão enterrados no cemitério Mangwol-dong, perto da cidade. No entanto, testemunhas oculares contaram que viram centenas de corpos despejados em várias valas comuns nos arredores da cidade.
Após o terrível massacre, a administração do Chun perdeu grande parte de sua legitimidade aos olhos do povo coreano. Este massacre fez com que mais cidades tomassem partido nas manifestações pró-democracia e o governo foi perdendo cada vez mais sua popularidade e poder. Chun permaneceu como presidente até 1988, quando permitiu eleições democráticas sob intensa pressão política.
Chun foi condenado à morte em 1996 por corrupção e por seu papel no Massacre de Gwangju. Apenas em 1998, o presidente Kim Dae-jung assumiu o cargo e decretou o fim da ditadura.
Filmes sobre o massacre
Hoje em dia, o 18 de maio é lembrado como um marco para a democracia. Diversas produções que retrataram a história do massacre e das pessoas envolvidas nele. Conheça quatro longas que abordam o tema:
26 years (2012)
O filme dirigido por Keun-hyun Cho retrata uma história fictícia do qual, 26 anos depois deste massacre, cinco pessoas que se consideram algumas das maiores vítimas do massacre, tramam um projeto ultrassecreto para se vingar assassinando o ex-presidente responsável por tudo. A trama foi baseada num manhwa escrito por Kang Full e lançado em 2006.
May 18 (2007)
O longa retrata os dias e momentos exatos do massacre, sobre o olhar de um cidadão da cidade que vê colegas e amigos sendo mortos. A direção é de Kim Ji Hoon.
A Petal (1996)
Jang Sun-woo conta a história de uma garota que viveu a Revolta de Gwangju aos 15 anos de idade e efeitos disso em sua vida nos anos posteriores. O filme fez com que a população exigisse saber a verdade sobre as causas do conflito, obrigando o governo a revelar documentos sigilosos sobre o massacre.
A Taxi Driver (2017)
O último longa da nossa lista é centrado em um motorista de táxi de Seul que leva um repórter alemão que precisa cobrir os acontecimentos da cidade de Gwangju até o local dos fatos. Porém, ele se arrepende de sua decisão após acabar se envolvendo no movimento político. Com direção de Hun Jang, filme foi escolhido para ser o representante sul-coreano no Oscar 2018 na categoria de Melhor Filme Estrangeiro, mas acabou ficando de fora da disputa.
Ana Raíssa da Luz
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Imagens: Hani KR via WBEZ Chicago (reprodução), Asia Society (reprodução).
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