[AVISO DE GATILHO: A matéria contem partes que podem causar desconforto em alguns leitores. Pedimos cautela a todos que prosseguirem com a leitura.]
O fim de janeiro foi marcado por uma polêmica no mundo do k-pop, quando 6 trainees de uma agência foram até a justiça para acusar formalmente a CEO da sua empresa e sua cunhada por assédio sexual.
Após algum tempo mantendo o anonimato das vítimas, foi revelado nas redes sociais oficiais que o grupo em questão é o A-Teen. Formado ano passado e com alguns integrantes que participaram da segunda temporada do Produce 101, o grupo estava se preparando para seu debut oficial quando o caso aconteceu.
De acordo com fontes oficiais, os integrantes que sofreram abuso já estão sendo acompanhados por psicólogos. Do lado dos acusados, os advogados da empresa responderam às acusações e defenderam a inocência dos clientes.
Acompanhe a cronologia do caso até o momento.
Formação do grupo
O A-Teen foi anunciado oficialmente em Agosto de 2018. Formado por 10 integrantes, incluindo Kim Chan e Choi Dong Ha que participaram do Produce 101, o grupo teve seu debut marcado para o dia 1º de Setembro. O single de estreia seria a canção I’m Different e, de acordo com a gravadora, as promoções seriam iniciadas no Japão e só depois na Coréia.
A acusação
O processo foi iniciado a partir da denúncia feita por 6 dos 10 integrantes do grupo na Promotoria Pública do Distrito de Seul em 18 de Janeiro. Os autores acusaram a CEO da gravadora (identificada no processo como A) e a esposa de seu irmão mais novo (identificada como B), que também é investidor na empresa, por assédio sexual ocorrido em 28 de Setembro de 2018.
Segundo os testemunhos, o grupo estava no Japão a cerca de um mês para apresentações. Após concluírem as atividades, o grupo se reuniu em um restaurante para um jantar e lá aconteceram os atos. As acusadas os tocaram de forma inapropriada, causando desconforto e humilhação sexual e pessoal nas vítimas. Os delitos foram presenciados pelos outros integrantes, incluindo dois que, na época, ainda eram menores de idade.
O representante dos acusadores, pai de um dos integrantes do grupo, alegou que as acusadas usaram de sua posição de poder sobre os trainees para molesta-los e completou dizendo que “tanto as vítimas quanto os menores envolvidos no caso estavam recebendo acompanhamento psicológico” e que, “por medo de danos às suas imagens, os integrantes havia pedido anulação de seu contrato com a gravadora”.
A notícia foi divulgada primeiramente no site YTN Star, no dia 29 de Janeiro de 2019. Na época, o advogado da outra parte declarou que as acusações eram falsas e que tudo seria provado por meios legais.
As palavras das vítimas
Os trainees envolvidos no caso e as testemunhas requereram direito de resposta em uma entrevista com o YTN Star, para explicarem melhor as acusações. Junto deles, também estava o pai de um dos integrantes, na condição de responsável pelo grupo e representante dos outros pais. Segundo ele, todos estavam envergonhados da situação e queria esconde-la, mas resolveram expor o ocorrido para que não aconteça mais com aqueles que estão seguindo seus sonhos.
Os integrantes do grupo, sem serem identificados, também falaram sobre como estavam lidando com a situação. Abaixo reunimos a tradução dos relatos contidos na entrevista da YTN Star.
Trainee 1 disse: “Durante o jantar, A e B molestaram seis pessoas, incluindo a mim. Foi muito difícil, mas eu estava preocupado que, se falasse sobre a situação, isso me derrubaria e eu não conseguiria debutar, então deixei apodrecer. Tenho feito tratamento para síndrome do pânico desde que tinha 17 anos. Eu estava melhorando, mas minhas visitas ao hospital tornaram-se mais frequentes após esse caso. Tenho pensado em desistir completamente do meu sonho de me tornar cantor.”
Trainee 2: “Estou muito estressado. Eu costumava ser positivo e esforçado, mas agora tenho visitado o psicólogo e também estou tomando medicações. Às vezes sinto-me ansioso, minhas mãos tremem e a vergonha toma conta de mim. Estou sensível a tudo e vivendo em dor.”
Trainee 3, também está em acompanhamento com psicólogo e tomando medicação para insônia: “Tudo o que consigo pensar é que quero sair dessa empresa.”
Trainee 4: “Tenho sonhado em ser um ídolo por 10 anos. Após ser molestado, pensei que deveria desistir. Isso é o que vi e vivi na indústria do entretenimento e me deixa cético.”
Trainee 5, uma das testemunhas menores de idade, também está com dificuldade de superar o caso: “Esse era meu sonho desde que era um aluno no ensino fundamental e acho que deve ser a realidade da indústria do entretenimento. Estou passando por um momento doloroso.”
Problemas passados
Os problemas dos trainees com a empresa vêm de longa data. Na mesma entrevista, muitos citaram casos de abuso de autoridade, quebra de acordos e tratamento desumano. Sobre o assunto, os trainees comentaram:
Trainee 6: “Para mim, o período em que estive no Japão foi muito difícil por conta da agenda. Todos os equipamentos eletrônicos, incluindo celulares, eram proibidos mas, enquanto estava lá, houve um terremoto e um tufão. Não pude entrar em contato com minha família e meus amigos e todos estavam preocupados. Eles também exigiram uma revisão unilateral do contrato, dizendo que estava a favor dos trainees. Disseram que, se eu não concordasse, eu não poderia debutar.”
Trainee 5: “Disseram que iríamos pro Japão para fazer apresentações como treino, mas não acho que a intenção principal era lucro. Enquanto não estávamos performando, éramos trancados em nossos dormitórios e nossos celulares foram confiscados. Era difícil, mas confiei na promessa deles de que teríamos descanso após o concerto no Japão. Eles não mantiveram a promessa e abruptamente pediram para que o contrato fosse revisado. Perdemos toda a confiança na empresa.”
Trainee 7 revelou que eles recebiam tarefas sem terem sido avisados com antecedência e que haviam muitas falhas de comunicação: “Senti como se fizesse parte de um grupo que só funcionava dentro do local de show para lucro sem fazer um debut oficial.”
Trainee 8: “Assinei um contrato exclusivo na condição que eu não iria para o show no Japão, mas isso não foi cumprido. Mesmo doente, fui forçado a me apresentar e não fui tratado como humano.”
Trainee 9: “Sou um trainee estrangeiro e, uma vez, tive exantema (rash cutâneo) no corpo. Porém, como não tinha seguro de saúde e o tratamento seria caro, eles hesitaram em me mandar para o hospital. Eu não estava em boas condições no Japão mas, no fim, não consegui ir para o hospital.”
Trainee 10, que tem problema congênito nos rins que requerem check-ups anualmente, disse: “Durante meu exame físico, fui declarado inapto para as promoções. Eles insistiram para que fizesse um check-up só após as promoções no Japão, mas não mantiveram a promessa.”
Trainee 2: “Quando voltei para a Coréia, pedi para a presidente em 7 de Outubro de 2018 para manter a promessa que eu não iria para o Japão. Mas não foi aceita e fui ordenado a deixar o dormitório. Eles até mudaram a senha da nossa sala de treino onde nossos pertences estavam.”
A resposta da acusada
No dia 1º de Fevereiro, a CEO A acusada concedeu uma entrevista para a mesma mídia, YTN Star, que expôs o caso. A mulher de 53 anos estava acompanhada por outros dois funcionários da empresa que, assim como ela, não tiveram suas identidades reveladas.
A CEO negou mais uma vez as acusações. Segundo ela, os trainees teriam inventado a história sobre o assédio para forçar a empresa a cancelarem seus contratos por não estarem satisfeitos com mudanças feitas nas cláusulas. Todas as discussões com relação ao assunto teriam sido feitas com um investidor, enquanto a CEO estava focada nos assuntos financeiros. Após retornarem para a Coréia no dia 5 de Outubro, 9 trainees, com exceção do membro estrangeiro, pediram que ela fosse ao dormitório no dia seguinte para pedirem que as atividades no Japão fossem suspensas. O pedido não foi aceito, já que o acordo inicial era do grupo promover no país por 3 meses e retornar à Coréia em 1º Setembro. Por problemas de visto, a volta foi alterada para Outubro. Com o show reagendado para Novembro, a ausência de um ou mais integrante seria considerada quebra de contrato.
O manager B disse à repórter que o motivo pelo qual o pedido teria sido feito, foi o fato dos integrantes não se sentirem confortáveis fazendo eventos com os fãs, tais como o hi-touch.
Sobre as acusações de más condições de trabalho e confisco de equipamentos eletrônicos e bens pessoais, A disse que o processo é chamado “confinamento” e é uma prática comum nas empresas para evitar contatos desnecessários com o mundo exterior e proteger os membros. Toda a parte de comunicação é feita apenas pela empresa responsável pelo grupo e relatórios sobre a condição física dos membros eram enviados diariamente para a sede principal. Já a mudança da senha de acesso à sala de treino foi justificada por B como uma medida para proteger o equipamento adquirido para a apresentação, que seria muito caro.
A CEO também se diz triste com toda a situação. Segundo ela, “é lamentável para um artista entender o entusiasmo para o debut e tentar manter isso em mente”. Ela completa dizendo que “não acha que isso tenha sido uma falha de limitação por a empresa ser nova no mercado, que todas as empresas precisam enfrentar riscos financeiros, de mão de obra e de esforço para criar um grupo, e que tudo isso caiu por terra quando os membros, que também são funcionários, inventam um confronto com a empresa para intencionalmente espalhar falsos boatos para forçar uma quebra de contrato”.
Os próximos passos
Um julgamento está marcado para o dia 25 de Fevereiro de 2019, para que seja feito o cancelamento dos contratos dos trainees. Além disso, a polícia está investigando a denúncia sobre o assédio. Mais atualizações sobre o caso devem ser divulgadas em breve.
Os membros usaram as redes sociais do grupo para pedir que a justiça seja feita. Tanto o perfil oficial do grupo quanto os pessoais de cada membro no Instagram estão sem atualizações e inclusive tendo fotos apagadas enquanto o julgamento não acontece. As outras redes sociais do grupo estão atualmente inativas.
Os fãs, por outro lado, estão levantando tags nas redes sociais, sobre tudo twitter, para demonstrar apoio ao grupo, como: #WeSupportYouATEEN, #JusticeForATEEN e #WithATEEN.
Manteremos vocês atualizados sobre o decorrer do caso. Acompanhe o site e as redes sociais da KoreaIN.
Por Greyce Oliveira
Fontes: YTN Star, Soompi.
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