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Coreia do Sul é criticada por situações de marginalização de minorias

Apesar de ser conhecida como um país com uma avançada democracia, a Coreia do Sul também teve seu lado preconceituoso escancarado em diversas situações nas últimas semanas. A comunidade LGBTQIA+, estrangeiros, mulheres e minorias foram os que mais sentiram a discriminação.



O preconceito com estrangeiros

Testagem em estrangeiros foi marcada por má logística e filas.
(REUTERS/Kim Hong-Ji – reprodução)

Em março, governos de diversas províncias tornaram o teste de COVID-19 obrigatório a todos os trabalhadores estrangeiros, alegando ser uma medida preventiva a fim de conter a contaminação de outras pessoas que trabalham com os não-nativos. A medida, contudo, mostrou-se apenas discriminatória, uma vez que, independentemente da data de entrada no país, tempo de estadia ou contato com o vírus, todos os estrangeiros deveriam ser testados, ou receberiam uma multa de 2 milhões de won (quase 10 mil reais). Todavia, após críticas e protestos o governo retirou a medida.


Violência Doméstica

Outro tópico que chama a atenção é a violência doméstica, principalmente contra as mulheres estrangeiras. De acordo com a reportagem da CNN de agosto de 2020, dados de 2017 mostraram que 42% das noivas estrangeiras relataram terem sido vítimas de violência doméstica, informações estas que foram fornecidas pela Comissão Nacional dos Diretos Humanos da Coreia do Sul. A prática dos casamentos arranjados com mulheres estrangeiras é incentivada e até subsidiada pelo governo coreano.

O gráfico abaixo mostra os tipos de abusos mais comumente sofridos pelas noivas estrangeiras:


Fonte: Comissão Nacional de Direitos Humanos da Coreia do Sul, 2017.

A maioria dessas noivas estrangeiras originam-se do Vietnã. Inclusive, um caso que ganhou bastante repercussão foi o da vietnamita Trinh, que foi violentamente morta pelo seu marido sul-coreano após revelar querer a separação e se mudar para a casa de um parente em outra cidade. O caso aconteceu em 16 de novembro de 2019, e o marido recebeu a sentença de 15 anos de prisão.

Casos como esses trazem à tona o fato de a Coreia do Sul estar entre os últimos colocados em uma classificação elaborada pelo Fórum Econômico Mundial que mede o nível de desigualdade de gênero dos países.

Evidencia-se que essa desigualdade seja ainda maior com as mulheres estrangeiras, segundo o chefe do Centro de Direitos Humanos para Mulheres Migrantes da Coreia, visto que, além do fato de sofrerem discriminações em vários níveis, há ainda questões institucionais.



Crimes contra a população
LGBTQIA+


Foto tirada no Seoul Queer Culture Festival em Seoul, Coreia do Sul, em 14 de julho de 2018.
© 2018 AP Photo/Lee Jin-man © 2018 AP Photo/Lee Jin-man. Reprodução

A morte de três mulheres trans sul-coreanas em dois meses aumentou o nível de alerta da comunidade LGBTQIA+. A primeira delas foi a escritora Lee Eun-yong, que faleceu em 8 de fevereiro. Em 24 de fevereiro, a ex-política, líder da comunidade gay de Jeju Kim Gi-hong foi encontrada morta. Já em 3 de março, a ex-soldada Byun Hui-soo, que foi forçada a deixar as forças armadas após realizar a cirurgia de mudança de sexo enquanto ainda estava no exército, também foi encontrada morta em sua casa.

A mídia coreana também relatou o caso de um paciente com COVID-19 que frequentou baladas e clubes voltados ao público LGBTQIA+. Tudo isso salienta que o preconceito com a comunidade aumentou, tanto quanto o descaso com as minorias sexuais.

De acordo com reportagem da BBC, em uma pesquisa realizada com adolescentes da comunidade LGBTQIA+, apontou que 45% dos consultados já tentaram cometer suicídio. Além disso, a proporção de adolescentes que foram expostos à violência também é alta. Uma pesquisa da Comissão Nacional de Direitos Humanos da Coreia, descobriu que 92% das pessoas LGBTQIA+ estavam preocupadas em se tornarem alvos de crimes de ódio.

Ainda que a Coreia do Sul não tenha uma lei contra a comunidade LGBTQI+, também não possui uma lei que os proteja da discriminação, trazendo à tona como as minorias ainda estão sem proteção civil em seu próprio país. O professor Hong Sung-Soo, acadêmico de direito da Sookmyung Women’s University, disse à The Korea Time:

“Se este ódio e discriminação generalizado contra as minorias sexuais continuar, isso pode se tornar um conflito social sério. A lei anti-discriminatória é uma medida de prevenção básica para garantir a segurança e uma sociedade pacifica para todos. Esta minoria nunca foi reconhecida oficialmente como um grupo visível para aqueles que fazem leis. O censo nunca os incluiu em suas pesquisas. E as autoridades policiais não coletam estáticas separadas sobre os crimes contra a comunidade LGBTQ+”


Porém, desde o ano passado, a parlamentar Jang Hye-Young tem proposto leis anti-discriminação, prevendo multa para todos os tipos de discriminação baseada em gênero, deficiência, idade, idioma, país de origem, orientação sexual, condição física, cenário acadêmico ou ainda por qualquer outra razão. 



Retrocesso no relacionamento com a Coreia do Norte

Como se não bastasse o direito das minorias vivendo na Coreia do Sul ser tolhido pelo preconceito, o governo do presidente Moon Jae-In tem sido criticado por negar, pelo terceiro ano consecutivo, ser o co-patrocinador de uma resolução do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas (UNCHR) que condena a violação dos direitos humanos na Coreia do Norte. 


Balões enviados da Coreia do Sul para os norte-coreanos. Reprodução.

Além disso, a “lei anti-folheto”, proposta pelo partido do presidente sul-coreano, criminaliza o compartilhamento de materiais, folhetos e panfletos para a Coreia do Norte, e foi extremamente criticada por sacrificar o direito à liberdade de expressão e direitos humanos aos norte-coreanos, ao passo que, o governo declara que a lei é necessária para prevenir tensões e conflitos entre os residentes na região da fronteira. 

Todos esses problemas têm tornado o governo da Coreia do Sul alvo de críticas no cenário mundial, principalmente pelos conflitos recentes com a Coreia do Norte.

Letícia Casali e Naomi Shiroma
Fontes: (1), (2), (3), (4), (5), (6)
Fontes imagens: The Jakarta Post (REUTERS/Kim Hong-Ji); Human Rights Watch (Lee Jin-man); Sky News – Reprodução.
Não retirar sem os devidos créditos.

 

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  • Naomi Shiroma

    Paulistana apaixonada por idiomas, livros e música.

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