A frase “os amarelos são todos iguais” pode ser uma velha conhecida dos ocidentais, mas é um tema que denota xenofobia e ignorância de quem está falando. Cientificamente, os pesquisadores tentam encontrar uma resposta para entender por que ocidentais não-amarelos têm essa dificuldade em reconhecer rostos do leste-asiáticos.
Desde a infância, o cérebro começa um processo de estreitamento perceptivo, isto significa, basicamente, que uma criança começa a unir informações perceptivas dentro de “caixas organizadoras” no cérebro, chamadas de gestalt. Desta forma, informações que não parecem muito úteis em primeiro momento são unidas dentro de uma única grande informação.
Um estudo feito por Gizelle Anzures, pós Doutora em psicologia pela Universidade de Toronto, demonstra que a partir dos 8 meses este processo cerebral já se inicia. No campo visual, uma criança começa a diferenciar rostos da mesma etnia e rostos não vistos com frequência são unidos em uma única informação. Ou seja, no ambiente ocidental, no qual rostos de asiáticos amarelos (chineses, japoneses, coreanos e outros) geralmente são vistos com menor frequência, o cérebro recebe uma menor quantidade de informações desses fenótipos e acaba por não ver a necessidade de diferenciar tais rostos, unindo-os como se fossem “uma coisa só”. A mesma poderia ser aplicada inversamente, por exemplo, quando asiáticos têm dificuldade em reconhecer certos fenótipos europeus ou latinos. Sendo assim, os estudos possuem validade em contextos e com sujeitos diferentes.
Mas fique tranquilo, esse tipo de organização não é para sempre! A partir do momento em que você começa a receber uma grande quantidade de informações visuais, seu cérebro reorganiza essas “caixas”. É por isto que, depois de um tempo vendo vários conteúdos sobre o mundo asiático e suas diversas culturas, você consegue diferenciar com facilidade os membros de seu grupo favorito e seus atores preferidos de k-drama. Isto é devido a um conceito chamado de neuroplasticidade cerebral.
Por que é importante incentivar o reconhecimento de rostos asiáticos?
Após o tiroteio nos EUA, a hashtag “StopAsianHate” foi levantada e muito usada nos últimos meses. É importante entender que parte da xenofobia gerada em torno das pessoas com fenótipo de características amarela, vem justamente desta falta de reconhecimento dos rostos do leste-asiáticos. E isto pode se tornar um tipo de base, que podem gerar crimes de ódio.
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A pesquisadora Elizabeth Phelps, pós Doutora pela Princeton University e professora de Neurociência Humana na Universidade de Harvard, fez um estudo psicológico para entender os motivos de existirem diversas reações negativas ao se deparar com pessoas de raças diferentes. Segundo ela, a falta de representação desta etnia nas mídias ocidentais faz com que muitos continuem a ver asiáticos como “parecidos” e isto gera efeitos psicológicos negativos quando as pessoas se deparam com algo que não veem com frequência. Para combater o preconceito, é importante compreender que cada ser humano é único, entender que existem diferenças, por mais que você não consiga as reconhecer de imediato.
Se você se deparar com algo diferente, lembre-se que você pode estudar, conhecer e permitir que seu cérebro divida novamente as “caixinhas”.
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Imagens: Coisas do Japão, Yu Wang (reprodução)
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