O número de pessoas que moram sozinhas aumentou consideravelmente na Coreia do Sul. O jornal The Korea Times fez uma pesquisa com 4041 lares e apontou que a porcentagem de domicílios com apenas uma pessoa em Seul é de 33,3%.
Seguem os lares com 2 pessoas, que somam 25,8%; com 3 pessoas, com 20,6%; e, por último, os de 4 pessoas, com 19,2%. A pesquisa também focou na faixa etária dos moradores solo. Destes, 41% são jovens, 22,6% são idosos e 16,2% são pessoas de meia-idade.
A pesquisa também perguntou quais as maiores dificuldades em morar sozinho. Foram citadas: lidar com doenças ou emergências (32,5%), solidão (23,3%) e insegurança financeira (20,3%). Cerca de 85% dos entrevistados se consideravam saudáveis, enquanto 18,7% disseram que sofriam de depressão.
Os dados do ano passado mostram que – em uma população de 51,8 milhões – mais de 9,06 milhões de pessoas moram sozinhas. Os números mostram um aumento de 6,77% quando comparado ao ano de 2019. Esta é a primeira vez que o número chegou à casa dos 9 milhões.
O fenômeno pode ser explicado pelas mudanças econômicas que o país vem sofrendo. Segundo uma reportagem feita pela BBC, os efeitos dessas transições afetam não somente a economia de um país, como também trazem importantes implicações populacionais. Três fatores foram apontados como principais causas. São eles:
1) Queda no número de casamentos
Conhecida como a “geração sampo” (termo que significa desistir relacionamentos, casamentos e filhos), os sul-coreanos não estão somente escolhendo ter menos filhos, mas também não se casar. Um número crescente de mulheres jovens está escolhendo não se casar, em favor de suas carreiras e vidas independentes, ainda que em uma sociedade sexista.
As estatísticas apontam uma mudança drástica na cultura: as taxas de casamento entre os sul-coreanos com idade fértil despencaram nas últimas quatro e cinco décadas. No censo de 2015, menos de ¼ das mulheres sul-coreanas, com idade entre 25 e 29 anos, disseram que eram casadas, o que aponta uma queda abrupta de 90% se compararmos com o ano de 1970.
Para as mulheres coreanas, o casamento não é uma opção atraente. De acordo com um artigo do The Economist, que discute a rejeição das mulheres ao casamento, os papéis familiares e de gênero e as divisões desiguais de trabalho doméstico são apontados como culpados.
Visto que, depois que as mulheres decidem se casar, é esperado que elas priorizem a casa, o casamento e os filhos. As mulheres assumem uma parcela muito maior das tarefas domésticas e dos cuidados com os filhos e são as principais responsáveis pelo sucesso educacional dos mesmos.
Além disso, as mulheres casadas que decidem continuar com seus empregos são responsáveis por mais de 80% do trabalho doméstico, enquanto seus maridos são responsáveis por menos de 20%, como aponta estudos do jornal The Conversation.
Outro motivo importante para os jovens coreanos desistirem de namorar, se casar e ter filhos é a crescente incerteza econômica e as dificuldades financeiras. Muitos jovens coreanos trabalham em empregos precários com baixos salários, há poucas oportunidades de emprego e segurança de renda. Aliado a isso, a carga horária de trabalho dos coreanos é uma das mais altas do mundo. Isso fez com que o governo sul-coreano aprovasse uma lei que diminui as horas de trabalho por semana, levando em consideração a vida pessoal após o trabalho.
2) Queda na taxa de natalidade
Este tópico está muito correlacionado ao primeiro, visto que se menos pessoas decidem se casar, menor será a taxa de natalidade.
Porém, não é somente isso: as famílias que decidem ter filhos estão tendo um número muito menor de crianças. A média na Coreia do Sul é de apenas 1,1 filhos por família, sendo esta a menor taxa de natalidade do mundo. A taxa de natalidade global fica em 2,5 filhos.
Dados divulgados pela Yonhap mostraram que o país registrou 275.815 nascimentos em 2020, em comparação com 307.764 mortes. Se as tendências atuais persistirem, o governo prevê que a população da Coreia do Sul cairá para 39 milhões em 2067, quando mais de 46% da população terá mais de 64 anos.
Incentivos financeiros, que incluíam um pagamento único de 1 milhão de won (aproximadamente R$4500,00) para mulheres grávidas e abono mensal em dinheiro para crianças menores de 12 meses, foram algumas das medidas cogitadas para reverter o quadro. A cidade de Gyeongsang do Sul, inclusive, anunciou que colocaria esta ideia em prática em janeiro deste ano.
E, ainda, incentivo ao casamento com estrangeiros foi uma das medidas que vem sendo apoiada pelo governo. Porém, dados mostram um número alarmante de violência contra as esposas estrangeiras.
3) Aumento da população mais velha
Em último estágio está o aumento da idade populacional. Os cuidados com a saúde, geralmente, levam a uma longevidade estendida. E é exatamente o que está acontecendo na Coreia, onde a expectativa de vida aumentou rapidamente na segunda metade do século 20, em meio à industrialização.
Hoje, a Coreia tem uma das maiores expectativas de vida do mundo, ficando em décimo segundo lugar em 2015 -2020, junto a Islândia. A expectativa no nascimento (ou seja, quando um bebê nasce é esperado que ele viva até a idade de) é de 82 anos, sendo 79 anos para os homens e 85 anos para as mulheres.
A expectativa de nascimento esperada até o final deste século é de 92 anos, sendo 89 para os homens e 95 para as mulheres. Um estudo separado, publicado no Lancet, mostrou que as mulheres na Coreia do Sul são projetadas para serem as primeiras no mundo a ter uma expectativa de vida média acima de 90 anos – com os pesquisadores prevendo uma chance de 57% de isso acontecer até 2030.
Uma população com maior expectativa de vida significa que há mais pessoas mais velhas ao redor. Já mulheres com menos filhos significa que não há jovens o suficiente para substituí-las quando morrem. Eventualmente, esse paradoxo significa que a população da Coreia do Sul começará a diminuir. A ONU prevê que a população da Coreia do Sul atingirá o pico por volta de 2024 e, em seguida, começará a cair. Em 2100, a ONU prevê que a população da Coreia do Sul será de apenas 29 milhões – a mesma de 1966.
Todavia, é preciso lembrar que estas são apenas previsões baseadas no cenário médio da ONU. Existem muitos fatores em jogo, incluindo se os padrões de fertilidade ou migração mudarem. Isto significa que o futuro da população da Coreia do Sul pode tanto mudar como previsto como parecer muito diferente.
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Imagens: Getty Images e Valentina d’Efilippo (reprodução)
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