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Conheça a história e as estruturas da Suo, a Língua de Sinais Coreana

Assim como o Brasil tem a Libras, a Coreia também possui sua Língua de Sinais. A chamada Hanguk Suo ou simplesmente Suo ou ainda KSL (sigla em inglês para Korean Sign Language). Hoje vamos conhecer um pouco mais sobre essa língua e o longo caminho percorrido até seu reconhecimento.


O acesso às língua de sinais é um direito de qualquer cidadão que dependa dela para se comunicar e é dever do país organizar, estruturar e colaborar para que a língua seja difundida e apresentada de forma ampla para todos os seus cidadãos. A história da Língua de Sinais Coreana é longa, mas faz pouco tempo que se tornou língua oficial na Coreia – no país, em 3 de fevereiro é comemorado o Dia Nacional da Língua de Sinais.


Legislação

A língua de sinais coreana, comumente chamada de 수화 (Suhwa), foi designada pelo Ministério da Saúde e Bem-Estar e pelo Instituto de Língua Coreana como segunda língua oficial da Coreia em 2015.

A designação veio depois que a Assembleia Nacional em Seul, em dezembro de 2015, aprovou a Lei Básica da Língua de Sinais Coreana. Foram propostos vários projetos de lei, como a “Política padrão da linguagem gestual coreana”, a “Lei da linguagem gestual”, a “Lei da linguagem gestual coreana” e a “Política padrão da linguagem gestual e cultura surda”, que foram então fundidos como a Lei Fundamental da Língua de Sinais Coreana. Esta lei tem quatro pontos principais (1. Apoio, 2. Geração de conhecimento, 3. Realização de pesquisas e 4. Oferta de oportunidades iguais a todos os cidadãos com deficiência auditiva ou não) e engloba 20 artigos.

Quando a Lei da Língua de Sinais Coreana foi promulgada houve um conflito de opinião sobre qual nome deveria ser o oficial, pois 수화 (Suhwa) é percebida como uma ferramenta de comunicação e não como um ponto de vista da linguagem, enquanto 수어 (Suo) é escrito com o sufixo 어, que demanda a ideia de idioma. Ou seja, a palavra Suhwa traz a ideia de gesto manual do idioma coreano, enquanto Suó traz a ideia de um idioma único e diferente. Por fim, como descrito na lei, foi decidido que o nome oficial para se tratar da língua de sinais coreana é 수어 (Suo)

A legislação abre caminho para um melhor acesso e melhor comunicação na educação, emprego, ambientes médicos e jurídicos, bem como nas práticas religiosas e culturais. As propostas dentro da legislação consistem em políticas nacional e regional e na promulgação para a educação da Língua de Sinais Coreana, que promove e distribui a informação para criar um ambiente melhor para usuários da Língua de Sinais Coreana.

A lei também determina que os governos nacional e locais são obrigados a fornecer serviços de tradução em língua de sinais coreana para surdos que deles necessitem, e exige interpretações assinadas no tribunal e durante eventos públicos e programas de serviços sociais. O governo sul-coreano também oferece cursos gratuitos da língua para pais com filhos surdos.


História

A Língua de Sinais Coreana (수어) faz parte da mesma família da Língua de Sinais Japonesa (JSL), isto se deve ao fato de a Coreia possuir uma longa história como país colonizado pelo Japão.

O Japão ocupou Taiwan de 1895 a 1945 e a Coreia de 1910 a 1945, durante este longo período, professores japoneses estabeleceram escolas para surdos em Taiwan e na Coreia. O resultado foi uma influência significativa da JSL no 수어 (Suo) e no TSL, com os usuários das três línguas tendo hoje entre  60% e 70% de compreensão entre elas. Ou seja, é como se fosse a relação e semelhança entre o Português e o Espanhol, ou ainda, o português na variante do Brasil e o português de Portugal. Isto contrasta fortemente com as línguas faladas nos três países, que são bem distantes umas das outras.

Mesmo com escolas japonesas voltadas para o ensino dos surdos, grande parte dos surdos não tinha acesso à língua de sinais. Em 1889 teve início um movimento para auxiliar os cidadãos surdos na Coreia, o que resultou na abertura de um centro educacional no país para pessoas com deficiência. No entanto, a pesquisa e a formação de grupos de estudo semiformais só começaram no início dos anos 2000, e foi apenas em 2008 que surgiu a primeira proposta de lei para proteger os direitos dos surdos.

As duas principais conquistas da lei foram o reconhecimento legal da 수어 (Suó) como uma das duas línguas oficiais do país e o direito de todos os cidadãos terem oportunidades educacionais, recreativas, culturais e religiosas, sejam eles surdos ou não.

Consequentemente, o governo procurou implementar a lei através do fornecimento de orçamento, treinamento, tradução e interpretação, quando necessário.

Após muita luta para garantir os direitos dos surdos no país, a Coreia teve grandes avanços e hoje conta com universidades que ensinam disciplinas inteiramente na 수어 (Suó) e são dedicadas ao treinamento de professores da língua como a Universidade Nacional de Bem-Estar da Coreia. É oferecido um mestrado em língua de sinais e programas separados que ensinam a aquisição e o aprimoramento da 수어 (Suó) desde o início da vida.

Apesar do crescimento, há muito trabalho e melhorias para serem feitas na língua, com isso, o governo sul-coreano criou uma forma de gerenciar e catalogar a língua através do Instituto Nacional da Língua Coreana (NIKL), que é uma agência governamental encarregada de fornecer comentários confiáveis ​​sobre a língua coreana em geral. O NIKL, junto com o Ministério da Cultura, Esportes e Turismo, trabalhou para padronizar a 수어 (Suó) a partir de 2000, publicando o primeiro dicionário oficial da língua em 2005, bem como um livro de frases comuns em 2012.

O dicionário on-line é constantemente atualizado e melhorado e pode ser acessado pelo site governamental slidict.korean.


Estrutura

A Suo é uma língua independente e possui estruturas gramaticais diferentes do coreano. Este conceito de língua própria precisa estar nítido para quem deseja se aventurar a aprender a Língua de Sinais Coreana. Ela não é apenas uma representação manual do idioma coreano, sendo assim, a língua de sinais tem diferentes significados.

Assim como ocorre na Libras, os sinais têm quatro parâmetros:

  1. Formato da mão
  2. Direção da palma
  3. Ponto de articulação
  4. Orientação ou direção do movimento

Nesse último aspecto, por exemplo, o mesmo sinal terá significados diferentes dependendo do tipo de expressão que fizer. Podemos ver o exemplo abaixo para os sinais de manhã e noite. Enquanto o primeiro é feito do centro do rosto para a esquerda, o segundo é do centro do rosto para a direita.



Além destes, a estrutura da Língua de Sinais Coreana também é formada por marcadores não-manuais feitos com o rosto ou com o corpo. Na Libras, este é o aspecto que tem a ver com expressão facial ou corporal. Alguns exemplos destes são levantar e franzir as sobrancelhas, franzir a testa, balançar a cabeça, acenar com a cabeça e inclinar e mover o tronco.

As frases em Suo são expressas na mesma ordem da língua coreana (sujeito, objeto e por último, o verbo). Porém, diferentemente do coreano, a Suo não possui partículas, nem conjugações verbais.

Na língua coreana existem graus de formalidade e uma única palavra pode ser falada e conjugada de várias formas diferentes, dependendo de quem fala e com quem se fala. Essas conjugações dependentes de formalidade não ocorrem na Língua de Sinais Coreana.

Além disto, em Suo, um mesmo sinal é usado tanto para o substantivo quando para o verbo derivado dele, por exemplo, o sinal para “감사 – gratidão” e “감사하다 – agradecer” é o mesmo.

O alfabeto manual imita as formas das letras em Hangul e geralmente é usado para soletrar palavras em situações específicas, como dizer seu nome quando ainda não tem um sinal e soletrar palavras desconhecidas. Além disso, alguns substantivos próprios, neologismos ou expressões que ainda não têm um sinal oficial costumam ser expressados desta maneira.




As consoantes duplas são obtidas fazendo-se o sinal da consoante simples correspondente e então repetindo o sinal com um leve deslocamento da mão para a direita.



Representatividade na música

A Língua de Sinais Coreana tem ganhado muita força e está muito mais presente na sociedade coreana, já mostramos aqui alguns idols de k-pop que sabem a língua de sinais e em muitos MVs do k-pop ela está presente como forma de representar a comunidade surda. 

Leia mais: 6 Coreografias de KPOP que incluem Línguas de Sinais

A representatividade é um dos principais fatores ao se falar em deficiências, sejam elas quais forem. É importante que todo ser humano se sinta representado em sua sociedade e a mídia é a maior influenciadora neste aspecto.

Com esse poder de influência, muitos k-dramas têm colocado cenas com a língua de sinais e colaborado para mostrar a importância da comunicação.

Ana Raissa da Luz
Fontes: (1), (2), (3), (4), (5), (6), (7), (8), (9), (10)
Imagens: National Institute of Korean Language, reprodução
Não retirar sem os devidos créditos.

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  • Ana Raíssa Luz

    23 anos, mineira, graduada música, estudos em neurolinguística e army. Vivo uma eterna paixão pela Coréia.

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