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Justiça

Coreia do Sul vê aumento do número de adolescentes envolvidos com drogas

Dados reunidos pela Promotoria Suprema da República da Coreia (cujos membros são equivalente aos procuradores-gerais do Brasil) e noticiados pelo portal Korea JoongAng Daily revelam um aumento do número de usuários de drogas no país. Os números de 2021 apontam que 34,2% dos casos envolvendo o uso de drogas julgados no país foram de adolescentes e jovens na faixa etária de 20 a 29 anos.

Os gráficos reúnem dados de 2011, 2016 e 2021 divididos por faixa etária. Neles, é possível observar que o maior aumento foi entre os adolescentes e jovens até 29 anos. Houve uma estabilidade na faixa dos 30 e uma notável queda na dos 40 anos. Como tais dados foram apenas os registrados, é difícil estimar exatamente o tamanho do problema.

Gráfico mostrando a faixa etária dos infratores em casos envolvendo drogas.
Fonte: Korea JoongAng Daily

A Promotoria Suprema aponta que mais de 100 milhões de compras de entorpecentes vindos de outros países são feitas na Coreia do Sul a cada ano. A Lei de Controle de Narcóticos de 2000 considera como crime a importação, produção, troca, compra, transporte, processamento e uso de drogas. A maioria dos narcóticos são considerados ilegais no país algumas poucas têm seu uso liberado apenas para fins medicinais.

Com a rigorosa lei e baixa taxa de crimes relacionados à drogas, a Coreia do Sul é considerada um país livre de tais problemas. Porém, estatisticamente, a realidade é outra.

O Dr. Cheon Young Hoon, psiquiatra e diretor do Hospital Incheon Chamsarang, fez as contas: “Com base nos padrões da ONU, se o número de infratores envolvidos em crimes com narcóticos ultrapassar 20 em uma população de 100000, isso significa que o problema com drogas está fora de controle e o país não é livre de drogas. Considerando a população sul-coreana de 50 milhões, o número de infratores por 100000 é maior que 30“.

Os 450 adolescentes envolvidos em infrações relacionadas à drogas registrados em 2021 representam um recorde e um aumento de 1000% em relação aos 41 registrados em 2011. Apesar do intervalo de 10 anos que separam as duas taxas, o ritmo do crescimento indica que o número pode exceder os 10000 anuais. Tais taxas são computadas justo no momento em que o país vê um aumento do número de infrações cometidas por adolescentes e estuda diminuir a idade penal.

O Professor Park Seong Soo, acadêmico de Justiça criminal na Universidade Semyung, alerta: “Estimativas apontam que o número de infratores é 28,57 vezes maior do que o número dos que são presos. Então, o número de adolescentes infratores é cerca de 12.857, apesar de apenas 450 terem sido pegos“.

Um especialista que atua em uma agência de investigação e preferiu não se identificar também revelou que, em muitos desses casos, os pais tendem a manter os filhos infratores longe das autoridades. O número de denúncias também é baixo, quase próximo de zero. Tais tendências dificultam ainda mais o cálculo das autoridades para estimar o real tamanho do problema.

Os gráficos do relatório da Promotoria Suprema mostram que, em 2021, a maioria dos infratores se concentraram na faixa dos 20 aos 29 anos, ocupando 31,4% dos casos totais e causando a queda da média de idade dos infratores. Além disso, especialistas acreditam que os membros de tal faixa etária possam ter tido o primeiro contato com as drogas na adolescência.


O que dizem os próprios adolescentes

Uma adolescente de 17 anos contou que desenvolveu um vício em metanfetamina após um homem mais velho a oferecer uma injeção com o seguinte argumento: “Você quer experimentar? Dá uma sensação boa e também te ajuda a perder peso. Uma vez não faz mal“.

A garota, que foi apresentada ao homem por um colega um pouco mais velho que ela, contou após ser presa que se arrepende de ter cedido: “Se eu soubesse que tinha metanfetamina naquela seringa, eu nunca teria aceitado“.

O mesmo não se pode dizer de outra garota de 19 anos que também foi presa e contou: “Fiz dinheiro facilmente. Eu comprava drogas de um cara mais velho por um preço barato e revendia para meus colegas por um preço muito maior. Não era complicado. Experimentei metanfetamina, cetamina, drogas sintéticas e ecstasy. Antes da COVID-19, eu pegava a identidade de uma amiga emprestada, ia para clubes e usava drogas. Durante a COVID-19, meus amigos e eu alugávamos quartos de hotéis para usar drogas. Moro em Gangnam, sou estudante e meus pais são pessoas comuns“.

Assim como a garota de 19 anos, outros adolescentes também seguiram a mesma tendência. Os tipos de drogas usados pela faixa etária variaram bastante durante os anos e incluem de maconha e metanfetamina até MDMA e ecstasy. Outra substância em alta é o fentanil, droga sintética 100 vezes mais potente que a morfina e bastante usada por famosos em 2019. Desde 2021, a polícia já prendeu cerca de 50 adolescentes em idade escolar usando, vendendo ou comprando fentanil.

Somente em junho, cerca de 100 adolescentes foram apreendidos usando ilegalmente um medicamento conhecido como dietamine que, embora seja prescrito como inibidor de apetite, é uma substância derivada de anfetaminas e produz alucinações além de causar dependência.


A tecnologia como aliada do tráfico

Além das prescrições ilegais, adolescentes também estão se aproveitando da tecnologia na tentativa de cobrir os rastros de suas infrações. Em novembro de 2021, um grupo de Telegram de compra e venda de drogas foi descoberto e todos os seus 180 membros foram enquadrados como parte de uma organização criminosa. Dentre estes, vários eram menores de idade.

Para evitarem ser pegos, compradores também evitam usar métodos de pagamento facilmente rastreáveis e dão preferência por criptomoedas. O Promotor Lee Jae In escreveu em uma pesquisa divulgada em março: “De todos os crimes envolvendo drogas, apenas 30% usam o método tradicional de pagamentos em espécie ou por transferência bancárias. Cerca de 70% usam aplicativos de mensagens, como o Telegram, para transferir pagamentos em criptomoedas sem revelar suas informações pessoais“.


Os problemas que atrapalham o combate

As autoridades sul-coreanas culpam algumas brechas na lei o aumento no número de usuários de drogas no país. A maior delas são as falhas do chamado “CIQ” (Controle de imigração, Inspeção de alfândega e Quarentena), processo feito nas encomendas que chegam ao país.

Por seguir uma política de CIQ relativamente leve, muitas drogas acabam adentrando ao país via importação. Com isso, muitas drogas medicinais como a dietamine ocupam uma grande porção do estoque de drogas no país.

Agente mostrando drogas apreendidas no Aeroporto de Incheon em 2019.
Fonte: Yonhap.

A alfândega sul-coreana se defende dizendo que não recebe orçamento o suficiente para contratar mais pessoal e conseguir vistoriar melhor as encomendas que entram no país. Mesmo assim, mais de uma tonelada de drogas foram apreendidas pelo órgão em 2021.

Outro agravante está na falta de opções para o tratamento dos dependentes químicos. Não há centros de reabilitação equipados e funcionais porque, para muitos, o país ainda é livre de drogas.

O Promotor Hong Wan Hee, chefe do Departamento de Narcóticos da Promotoria Suprema, declarou: “Uma vez que as drogas começam a se espalhar, é difícil reverter. A falta de tratamento e reabilitação está simplesmente encorajando recaídas. Se medidas abrangentes não forem tomadas rapidamente, o dia em que a Coreia se transformará em uma ‘nação desenvolvida e com drogas’ chegará. Você poderá ver o governo distribuindo seringas para os viciados“.


A educação como saída

A polícia sul-coreana pediu recentemente ao Ministério da Educação que organizasse palestras nas escolas para alertar os adolescentes sobre o risco do uso de drogas. Um porta-voz da polícia declarou: “Educação preventiva deve enfatizar os efeitos colaterais das drogas e o fato de que todos os crimes associados à elas podem ser punidos por lei, mesmo que os contraventores sejam menores de idade. Os jovens precisam ser educados sobre o quão danosas as drogas são“.

Fonte: (1)
Imagens: Cristian C (via Flicker), Korea JoongAng Daily e Yonhap
Não retirar sem os devidos créditos.

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Greyce Oliveira

Cearense de Fortaleza, é metade uma humana normal professora de Inglês e metade ELF(a) precisando (talvez) de tratamento para parar de falar no Super Junior toda hora.

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