O crescente número de conteúdos on-line mostrando idols ingerindo bebidas alcoólicas está causando preocupação nos pais e responsáveis por crianças na Coreia do Sul. Neste domingo (07), o Korea JoongAng Daily compilou algumas das principais críticas sobre o assunto.
Os vídeos de famosos conversando enquanto bebem ganharam bastante popularidade após estrelas como Lee Young Ji e SUGA (BTS) estrelarem programas que misturam o formato de talk show com álcool. Os convidados igualmente famosos também contribuem para atrair ainda mais a atenção do público.
Hoje, nenhum vídeo do Suchwita – cujo nome pode ser traduzido livremente como “hora de beber com SUGA” – possui menos de 2 milhões de visualizações enquanto o canal onde são postados os vídeos de Lee Young Ji já ultrapassou a marca de 2.7 milhões de inscritos.
Porém, pais apontam que a falta de regulamento de conteúdos desse tipo na internet pode encorajar o consumo de álcool por menores de idade. Uma mãe relatou que ficou chocada ao ouvir perguntas do tipo “o gosto de álcool é bom?” e “o que acontece se você ficar bêbado?” feitas por seu filho de 8 anos.
O menino fez essa pergunta após ver o vídeo de uma propaganda de bebida alcoólicas feita por uma idol famosa. A questão de usar idols nesse tipo de anúncio já foi alertada até mesmo por médicos sul-coreanos durante um simpósio realizado em março.
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A mãe declarou: “Se você procurar o nome dessa cantora no YouTube, o vídeo de soolbang dela aparece no topo da página. Crianças são facilmente expostas a [conteúdos envolvendo] álcool através de plataformas como o YouTube“.
O termo “soolbang” é usado para referir-se aos vídeos de criadores de conteúdo consumindo bebidas alcoólicas, geralmente em excesso. Tal lógica é parecida com a dos vídeos de mukbang que mostram pessoas comendo grandes porções de comida.
Vídeos como os protagonizados por Lee Young Ji e SUGA são bastante populares entre os fãs de k-pop por mostrarem uma faceta mais relaxada dos idols, tão sujeitos à regras e imposições de suas empresas e, também, dos próprios fãs. Porém, a falta de regulamento sobre os conteúdos postados no YouTube abre uma brecha para que cheguem ao público infanto-juvenil.
Em junho de 2021, o Ministério da Saúde e do Bem-estar promulgou uma lei banindo propagandas de bebidas alcoólicas em transportes públicos visando proteger os menores de idade. O detalhe é que tal texto nada menciona sobre a divulgação de conteúdos relacionados ao álcool em redes sociais.
Apesar do Ministério monitorar conteúdos que possam encorajar o consumo de álcool por menores de idade na televisão, YouTube e em plataformas de streaming, tais conteúdos não são necessariamente censurados.
Desde 2021, 800 mil vídeos foram submetidos para monitoramento. Destes, 100 possuem tags relacionadas à álcool, como “soolbang” e outros termos equivalentes. Mesmo cerca de 90% dos vídeos incluindo cenas problemáticas com bebidas, nenhum deles teve acesso limitado para evitar que crianças ou adolescentes pudessem assistir o conteúdo.
Um porta-voz declarou: “Conteúdos em mídias como a TV podem, pelo menos, serem sujeitos às regras da Comissão de Comunicação da Coreia. Plataformas de mídia, como o YouTube, são difíceis de regular porque não há restrições legais para tais“.
Ainda de acordo com o porta-voz, o máximo que poderia ser feito seria criar um registro com exemplos de cenas com bebidas transmitidas nas mídias do país. Porém, o Ministério estuda aplicar novos regulamentos para cenas desse tipo para, no futuro, poder pedir para o YouTube incluir restrições de idade para estes conteúdos. Vale ressaltar que já existe algo parecido, pois a plataforma tem um recurso de exigir o login para liberar o acesso de maiores de 18 anos a vídeos com cenas gráficas.
O Professor Lee Hae Kook, acadêmico de Psicologia da Universidade Católica da Coreia, reforça a necessidade de intervenções para regulamentar tais cenas: “A participação de organizações não-governamentais ou grupos civis podem levar a criação de mais relatórios que incitam a opinião popular enquanto o governo monitora tais cenas“.
A medida poderia resolver o problema criticado por muitos dos que acreditam que a falta de restrições nestas plataformas pode ser um dos fatores que fazem com que cada vez mais menores de idade consumam álcool.
A taxa de menores que bebem aumentou 2,3% no ano passado, de acordo com uma pesquisa feita pela Agência Coreana de Controle e Prevenção de Doenças revelada em abril. O número registrado em 2021 foi de 10,7% enquanto o de 2022 foi de 13%.
Por outro lado, outros especialistas apontam que o problema pode estar na visão permissiva que a sociedade tem em relação ao álcool. Seo Hong Gwan, chefe do Centro Nacional Coreano de Câncer, declarou: “O conceito ultrapassado da mídia de que álcool deve acompanhar conversas deve desaparecer“.
Fonte: (1)
Imagens: YouTube e BIGHIT MUSIC
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