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Ensino e Educação

Morte de professora expõe conflitos entre educadores e pais na Coreia do Sul

[AVISO DE GATILHO] O texto a seguir contém termos sensíveis que podem servir de gatilho. Recomendamos cautela ao prosseguir a leitura.

No dia 18 de julho, uma professora do Ensino Fundamental tirou sua própria vida em uma sala de aula da escola em que trabalhava no bairro de Seocho. A identidade da professora não foi divulgada para efeitos de preservação, mas a mídia reportou que ela tinha apenas 23 anos e havia passado no teste de certificação de professores no início do ano.

A morte desencadeou uma série de acontecimentos nos dias que se seguiram e expôs conflitos envolvendo os pais e até mesmo casos de agressão cometidos por alunos contra os professores. No último dia 25, a família da professora falecida divulgou publicamente o seu diário no qual relatava dificuldades enfrentadas pela profissão e por um aluno indisciplinado.

Alguns dos trechos do diário traziam relatos como:

“Após ir ao trabalho na segunda, fui bombardeada com um imenso volume de tarefas e caos causados por um aluno. Eu só queria abandonar tudo (naquele ponto).”

“Eu estava sem ar. Minhas mãos tremiam e quase chorei enquanto comia.”

Rumores sobre o caso diziam que a professora estava sendo vítima de abusos verbais cometidos pelo pai de um aluno que sofreu bullying na escola no início do ano. A professora foi acusada de não ter qualificações e não fazer nada para evitar o bullying. A escola, porém, negou ter havido qualquer caso de violência escolar entre seus alunos e informou que a professora em nenhum momento precisou prestar contas sobre casos dessa natureza. Uma investigação foi aberta e maiores informações não foram divulgadas desde então.

A Federação Coreana das Associações de Professores, a Federação das Organizações de Professores do Governo Metropolitano de Seul e o Sindicato dos Professores e Trabalhadores da Educação da Coreia pediram ao governo que propusesse medidas para proteger os professores em casos de denúncias de abuso e comentários maliciosos. O Presidente Yoon Suk Yeol também prometeu que até agosto o Ministro da Educação Lee Ju Ho implantaria medidas para proteger os direitos dos profissionais e fortalecer a autonomia em sala.


Uma realidade comum e até então oculta

No dia 21 de julho, um caso de agressão a uma professora ocorrido ainda em junho veio à tona. A professora pediu a um de seus alunos que não agisse de forma agressiva com seus colegas de turma. Em resposta, o aluno agarrou seus cabelos e arrastou para o chão. A professora foi hospitalizada após o ocorrido, mas ela já vinha sofrendo agressões verbais e físicas desde abril. O aluno foi suspenso.

Em um protesto feito por professores na semana passada, jornalistas ouviram outros relatos chocantes. Um deles foi o de Koh, que trabalha em uma escola em Busan. Ela contou sobre um aluno da sexta série que tinha registros de matar aula e agredir professores. Apesar de ter pedido para que o menino fosse para outra turma, a escola nada vez e Koh não conseguiu proteger a si e nem os seus alunos.

Além disso, Koh também conta que sofria com as exigências dos pais dos alunos que pediam que ela prestasse atenção extra em seus filhos, deixasse comentários positivos no histórico escolar e se certificasse que as crianças se alimentassem bem.

Outra professora, identificada apenas pelo sobrenome Lee, contou que um pai uma vez foi até a sala dos professores da escola onde trabalha para ameaçar os educadores com uma arma de choque e também fazia ameaças por mensagens de texto mandando fotos de facas. Ela pediu: “Estamos fazendo uma pressão para restaurar os nossos direitos básicos de educar os alunos“.

Uma terceira professora que trabalha em uma escola pública em Seul e preferiu permanecer no anonimato revelou que as escolas também deveriam ter políticas para evitar divulgar as informações pessoais dos professores para os pais. Ela contou: “Um pai divorciado me ligava regularmente, até mesmo nos fins de semana, e me assediava sexualmente dizendo que queria que eu fosse a mãe de seu filho ou sua namorada. Mas o que me deixou zangada foi a atitude da escola, pois os superiores quiseram encobrir o fato de eu ter denunciado o problema só porque era uma jovem professora com pouca experiência. A escola também disse que as informações pessoais são compartilhadas para o bem-estar das crianças“.


As cobranças ao governo

Com os protestos e relatos tomando conta das ruas e da mídia, o governo se viu obrigado a tomar uma posição. Na quarta (26), deputados se reuniram com o Ministro da Educação Lee Jun Ho para discutirem propostas para proteger os professores.

O Deputado Yun Jae Ok conversou com os repórteres após o encontro e disse: “Em nossas escolas públicas, o bullying contra professores é mais prevalente do que é comentado“. Segundo o deputado, professores reclamavam sobre terem que lidar com reclamações de pais agressivos, o que os desencorajava a denunciar situações de violência em sala, mesmo aquelas nas quais eles próprios eram o alvo.

O Deputado Lee Tae Kyu declarou: “Violência física ou verbal contra professores praticada por alunos ou pais também é violência escolar. As escolas não podem ser lugares seguros para os estudantes se não forem seguras para os professores“.

Uma pesquisa feita com 2.390 professores de Ensino Fundamental mostrou que chocantes 99,2% deles informaram que já sentiram seus direitos desrespeitados no trabalho. O tipo mais frequente citado foram as reclamações “injustificáveis” feita por pais de alunos.

As propostas já criadas após a reunião de quarta foi a criação de um sistema para gerenciar as reclamações dos pais e o desenvolvimento de procedimentos para investigar casos de bullying praticados contra professores.

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Fonte: (1), (2), (3), (4), (5)
Imagem: Yonhap
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Greyce Oliveira

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