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História

Por que as pessoas do leste asiático são chamadas de “amarelas”?

Branco, preto, amarelo, vermelho. Poderiam ser apenas cores, mas são termos que por séculos passaram a significar, por bem ou por mal, pessoas de origens e ascendências diferentes com base na cor da pele. Esta maneira de separar populações inteiras é complexa e polêmica. Estes termos foram usados muitas vezes como forma de diminuir aqueles diferentes de um grupo. Em outras ocasiões, as próprias pessoas que as representam como forma de ressignificar e se empoderar.


Mas como esses termos surgiram para começo de conversa? Em particular, como as pessoas do leste asiático passaram a ser chamadas de “amarelas” se isso não reflete corretamente na cor da pele dessas pessoas? Venha descobrir a origem por trás do termo e o peso do significado que ele carregou ao longo dos séculos.

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Como surgiu o termo “pessoas amarelas”?

O termo não surgiu de maneira orgânica ou instantânea. Por muitos anos, e até séculos de interações e trocas, as pessoas do leste asiático eram chamadas pelos europeus de brancos. Na verdade, a própria marca de “raça” por cor de pele só virou padrão no mundo no século 19. Por isso, havia poucas distinções físicas nos textos por um bom tempo.

As mudanças só começaram a aparecer nas descrições e nos nomes quando ficou claro que os países da Ásia, em especial China e Japão, que estavam no centro das negociações, não adotariam as tradições, os costumes e as religiões europeias. Com isso, tanto o povo asiático queria se impor na sua identidade quanto os europeus passaram a procurar diferenças entre eles, já que estavam se mostrando “menos brancos” ou seja, menos parecidos em costumes e “civilidade”.

Um dos primeiros relatos escritos da denominação de pessoas amarelas veio do médico e botânico sueco Carl Linnaeus em 1735. Ele dividiu o “homo sapiens” em quatro tipos continentais e cores respectivas. Para os asiáticos, ele deu o nome de “homo asiaticus” e a cor inicial serias “fuscus”, ou “escuro” quando traduzido para o português, mas depois ele mudou de ideia para a cor “luridus”, que seria o equivalente a um “amarelo pálido”. E mesmo nesse momento a cor não foi dada apenas pelo tom de pele que ele via.

O mesmo botânico usou “luridus” para nomear várias plantas, especialmente cogumelos tóxicos com tons amarelados. Mesmo hoje cores têm significados (como aqueles das simpatias de Ano Novo, em um exemplo mais leve) e na época amarelo não era dinheiro, e sim algo misterioso, simultaneamente sereno e impuro ou até perigoso. E era essa mensagem que foi atrelada às pessoas do leste asiático quando o termo ganhou popularidade no século 18 e 19.


Os preconceitos atrelados ao termo

Desde o princípio, o termo “pessoas amarelas” não foi criado como simples classificação e muito menos tinha a ver com a pele. Já havia uma distinção e um preconceito embutidos por parte dos brancos europeus antes mesmo do nome ser criado. Ainda no século 18, o anatomista alemão Johann Friedrich Blumenbach criou sua própria separação dos humanos em cinco raças, juntando todos os asiáticos sob o nome de mongóis e referindo a eles como raças intermediárias ou inferiores com cor de pele “no caminho entre grãos de trigo e marmelos cozidos ou da casca de limão seca”.

Quando o rótulo se tornou comum, ele veio junto com a descriminação e a violência em vários níveis. Os europeus em geral temiam o poder da Ásia e acreditavam que o Oriente era um risco para a civilização ocidental. No século 19, um sociólogo russo, Jacques Novikow, usou o termo “Perigo Amarelo” ou “Terror Amarelo” para citar essa suposta ameaça iminente.

Alguns anos depois, o imperador alemão Wilhelm II sonhou que o Buda estava montado em um dragão atacando a Europa e ele ordenou que um artista desenhasse este sonho mostrando também representações de povos europeus se unindo contra a ameaça. Ele levou a história para os colegas de outras nações em uma tentativa de convencê-los a se unirem e invadirem a China. Mesmo sem muito efeito, a arte ainda foi publicada em um jornal que circulava tanto na Europa quanto nos Estados Unidos e o desenho ficou conhecido como “Perigo Amarelo”.

Nos anos seguintes, as descrições dos povos asiáticos como pessoas amarelas ficaram ainda mais caricatas e preconceituosas nas pinturas, na literatura e até mesmo no cinema, onde atores brancos se vestiam de estereótipos de asiáticos. O “Perigo Amarelo” também foi associado à imigração de asiáticos para a Europa e as Américas, onde eram vistos negativamente e recebiam menos por trabalhos que não eram aceitos pelos moradores locais.


Como ficam as “pessoas amarelas” hoje?

Não dá para fingir que a situação mudou. Pode não ser a mesma coisa, mas até hoje o preconceito dos rótulos permanece, mesmo que com novo visual. A pandemia da COVID-19 em 2020 foi um momento grave que fez ressurgir a imagem de “tóxicos e impuros” criada no século 18, com ataques aos asiáticos em razão da pandemia. Mesmo que nesses casos seja raro usarem a expressão “pessoas amarelas” com esse sentido negativo, a mensagem ainda é a mesma.

E onde entra o rótulo de “pessoas amarelas” hoje? Assim como muitos termos de origem preconceituosa, existem os dois lados. Um que vê o problema de continuar usando a expressão e prefere uma mudança. Outro que prefere se apoderar e dar um novo significado positivo para mudar a imagem já existente.

Nos Estados Unidos do século 20, por exemplo, surgiu o termo “americanos asiáticos” para os filhos dos imigrantes que se juntaram em suas várias origens para enfrentar o preconceito no que foi chamado de “Movimento do Poder Amarelo”. Mais recentemente, no filme Podres de Ricos, de 2018, a música “Yellow” (amarelo) do Coldplay é cantada em Mandarim. A escolha do diretor Jon Chu foi proposital, já que, segundo ele, “se vamos ser chamados de amarelos, vamos tornar esse nome bonito”.

Vale lembrar que a divisão de raça por cor é usada em questionários oficiais apenas por classificação. No campo de cor ou raça do IBGE, por exemplo, mais de 850 mil brasileiros se declararam da cor amarela em 2022. Na definição do censo, pessoas amarelas são aquelas que se declaram de origem asiática, japoneses, coreanos e chineses. Outras opções eram branco, preto, pardo e indígena.

Mesmo nesse tipo de classificação mais imparcial a questão é mais profunda, já que é difícil encontrar quem, ainda mais hoje, consiga ser representado apenas por uma única cor, etnia, ascendência ou categoria. Afinal, seres humanos são muito mais complexos do que uma caixinha ou rótulo pode tentar definir.

Por Paula Bastos Araripe
Fonte: (1), (2), (3), (4), (5). (6)
Imagem: Freepik
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  • Paula Bastos Araripe

    Jornalista carioca que tem o k-pop como trilha sonora da vida. Multistan incorrigível, defensora de grupos (injustamente) desconhecidos e nostálgica da segunda geração do k-pop. Highlight (Beast) tem certificado vitalício como meu grupo ultimate.

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