Atualmente, na Coreia do Sul, uma em cada cinco pessoas tem um animal de estimação, dando destaque para o vínculo entre humanos e mascotes. Nesse contexto surgiram novas formas de lidar com a perda desses companheiros, incluindo funerais especiais que refletem respeito e afeto. Os funerais de pets no país se tornaram mais do que apenas um serviço, são um indicador cultural da mudança na estrutura familiar e social.
Um estudo publicado na revista The Lancet revela que, até 2050, boa parte dos países terá taxas de fertilidade insuficientes, fator que está relacionado ao aumento da adoção de animais de estimação. Isto ocorre em países com taxas de natalidade em queda, como a Coreia do Sul, onde a população de cães e gatos domésticos já ultrapassa a de crianças, refletindo uma mudança no conceito de família.
Impulsionada pelo conceito de “Pet-Fam” e pela crescente solidão das pessoas, a indústria de serviços funerários para pets se tornou um mercado em expansão, pois os animais de estimação passaram a ser considerados membros plenos da família.
Como funcionam os serviços funerários para animais de estimação?

De cremação tradicional a memoriais alimentados por inteligência artificial (IA), os estabelecimentos sul-coreanos que oferecem funerais de pets apresentam diferentes formatos e níveis de serviço, unindo tecnologia, conforto emocional e sustentabilidade.
Existem diversas modalidades dentro do serviço funerário. A Cremação Tradicional é a mais comum e as taxas do serviço variam de acordo com o peso do animal, incluindo preparação do corpo, uso de sala cerimonial, além de opções premium com materiais mais sofisticados.
Algumas agências também apostam em inovações tecnológicas e ecológicas como:
- Memoriais Digitais e IA: Salas de tributo digital onde fotos e vídeos são exibidos. Plataformas on-line que utilizam Inteligência Artificial para gerar respostas a cartas escritas pelos tutores, simulando a “voz” do pet;
- Serviços Móveis: Veículos especialmente equipados que realizam a cremação no local, de forma inodora e sem fumaça, resolvendo o problema da distância dos crematórios;
- Itens de Memória: Transformação das cinzas do pet em joias ou objetos de arte;
- Opções Ecológicas: Uso de embalagens biodegradáveis, como as feitas de Hanji (papel tradicional coreano), para armazenamento de cinzas ou enterro natural;
- Ambientes Privativos: Instalações projetadas com salas à prova de som e interiores calmos para garantir que as famílias possam lamentar em total privacidade.
Iniciativas do Governo de Seul
Em Seul, o governo, em parceria com a Korea Animal Funeral Association, criou um programa de assistência para cremação de pets. O serviço é destinado a cidadãos social e economicamente vulneráveis, incluindo idosos que vivem sozinhos sem renda regular.
Pela legislação sul-coreana, corpos de animais são classificados como resíduos e devem ser descartados em sacos de lixo específicos, destinados a incineradores locais. Mas esta regra não considera o impacto emocional sobre os tutores.
E essa situação trazia à tona outro problema: a ausência de crematórios para pets na cidade, já que os existentes estão localizados em áreas de Gyeonggi, como Incheon ou Gimpo. Reforçando ainda mais o dilema enfrentado pelos tutores, especialmente para idosos sem veículo próprio.

O programa funciona de maneira simples: após o contato com o Korea Pet Funeral Culture Center, um assistente funerário vai até a residência do tutor, recolhe o pet falecido, mantém-o refrigerado e o transporta a um dos seis crematórios parceiros do governo em Gyeonggi.
Para tornar o serviço mais acessível, os subsídios do programa cobrem parte dos custos com a cremação, incluindo o transporte do animal até o crematório, além dos parceiros oferecerem um desconto de 70 mil wons por animal cremado.
Desta forma, o serviço tem como objetivo principal promover o respeito e a conscientização sobre a morte dos animais de estimação, propagando a cremação como uma opção digna, em vez do descarte comum.
Crescimento do mercado e da prática
Segundo a Grand View Research, o mercado de serviços funerários para pets na Coreia do Sul gerou uma receita de US$22 milhões em 2024 e deve atingir US$46,3 milhões até 2030, com uma taxa de crescimento anual composta (CAGR) de 13,3% entre 2025 e 2030.
| Ano | Receita (US$ milhões) |
|---|---|
| 2024 | 22,0 |
| 2025 | 24,9 |
| Projeção | |
| 2026 | 28,2 |
| 2027 | 32,0 |
| 2028 | 36,3 |
| 2029 | 41,1 |
| 2030 | 46,5 |
Créditos: Grand View Research (2025).
Em 2024, o setor de animais de estimação registrou a maior demanda e crescimento dentro do mercado. Entre eles, os cães foram responsáveis pela maior parte da receita, enquanto os gatos apresentaram a expansão mais rápida no período projetado. O mercado sul-coreano segue em crescimento constante e já representa 1,1% da receita global do segmento.
De acordo com um estudo do KB Financial Research Institute, a prática dos funerais para animais tem se expandido e hoje abrange uma ampla variedade de espécies. O levantamento mostrou que 64,6% dos sul-coreanos que perderam um animal de estimação realizaram um funeral, seja em uma casa funerária ou com um veterinário, enquanto os que optaram pela cremação também aumentaram de 29,5% para 49,5%.
A popularização dessas cerimônias tem estimulado o surgimento de novos serviços, que oferecem aos tutores maneiras personalizadas de lamentar e recordar seus companheiros, como pacotes com reserva de local, caixões, urnas e acompanhamento de diretores funerários profissionais.
Procedimentos inadequados

É importante destacar que apesar das iniciativas para garantir um tratamento digno no fim da vida dos animais de estimação, ainda existem diversos procedimentos inadequados, realizados fora dos padrões legais ou ambientais. Um caso recente ganhou destaque no jornal sul-coreano The Korea Herald: uma casa funerária de pets em Ulsan é suspeita de ter realizado eutanásias não autorizadas por anos e pelo menos 90 animais teriam sido mortos entre 2020 e 2023.
Embora exista a Lei de Proteção Animal, que exige que a eutanásia seja realizada apenas sob supervisão veterinária ou por razões justificáveis, como risco à vida humana, a falta de fiscalização ainda é um problema. Segundo relatos no The Korea Herald, alguns pets eram levados sob o pretexto de uma visita ao hospital e recebiam injeções letais em locais isolados, sem anestesia adequada. A lei prevê que maus-tratos a animais podem resultar em até três anos de prisão ou multa de 30 milhões de wons (US$21.453).
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