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Justiça

Cinco anos de Burning Sun: BBC lança documentário com os bastidores da investigação

[AVISO DE GATILHO] O texto a seguir contém termos sensíveis que podem servir de gatilho. Recomendamos cautela ao prosseguir a leitura.

Neste domingo (19), a rede britânica BBC lançou um documentário com os bastidores da investigação da Burning Sun. O escândalo que envolveu diversos nomes do k-pop completa cinco anos e todos os seus principais acusados já foram libertados de suas penas.

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A emissora conversou com Park Hyo Sil e Kang Kyung Yoon, as duas jornalistas que revelaram o caso e contaram uma nova versão até então desconhecida da linha do tempo do escândalo. Em setembro de 2016, Park já estava se preparando para aproveitar o fim de semana quando recebeu uma ligação do seu editor: “Ele me disse que havia um grande caso sendo investigado que envolvia vídeos íntimos gravados secretamente e uma celebridade conhecida: Jung Joon Young”.

A fonte da informação trabalha na polícia e era confiável. Até então, a única vítima conhecida era a namorada de Jung Joon Young (também conhecido como JJY) que o acusou de filmá-la durante momentos íntimos sem sua autorização. O crime tem nome e é conhecido como “molka”. Alguns casos chegaram a ganhar mídia nos últimos anos. Destes, o mais conhecido sem dúvida foi o chamado “Nth Room”.

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Com medo de perder o furo de reportagem, Park cancelou todos os seus planos e foi à redação para escrever a pauta. O caso foi postado às 22:50 da sexta-feira pelo horário local. O que se seguiu nas horas seguintes foi impressionante.

Park Hyo Sil, a primeira jornalista a noticiar a investigação envolvendo JJY em 2016.
Créditos: BBC

Fãs de JJY imediatamente se voltaram contra a mídia e acusaram a namorada do então astro de mentir. Tendo sido a primeira a revelar a história, Park imediatamente foi arrastada para o olho do furacão. Nos meses que se seguiram, ela recebeu comentários maliciosos e até mesmo ameaças de morte: “A mídia era a vilã e eu aguentei o fardo disso“.

O impacto da perseguição foi tamanho que Park chegou a perder o bebê que esperava: “Eu estava grávida e em choque. Eu estava tão abatida mentalmente que até mesmo sair de casa era difícil. Após isso, sofri dois abortos e agora não tenho filhos“.

Enquanto Park enfrentava seus demônios, entra em cena Kang Kyung Yoon. A repórter da SBS já tinha feito investigações envolvendo outros famosos e estava prestes a continuar o que Park havia começado.

Em seu primeiro depoimento à polícia em 2016, Jung recusou-se a ceder seu telefone para ser periciado. O cantor resolveu entregar o aparelho à uma empresa forense privada. O que ele não sabia, é que o conteúdo do telefone foi copiado e acabou sendo vazado por um informante anônimo que conseguiu acesso aos dados. Tal conteúdo eventualmente acabou chegando à Kang.

Kang Kyung Yoon, repórter da SBS que teve acesso ao material copiado do telefone de JJY.
Créditos: BBC

Entre a cópia do conteúdo do celular de Jung e o vazamento, três longos anos se passaram. E agora a história chega a 2019, quando o que começou com uma denúncia de molka acabaria se tornando algo muito maior.

Kang conta que começou a investigar os registros esperando encontrar vestígios da denúncia feita por Park em 2016 sobre os vídeos íntimos gravados. Porém, o que acabou encontrando foi algo muito pior. Jung fazia parte de diversos grupos de bate-papo onde compartilhava fotos e vídeos explícitos com colegas.

Além de Jung, outros famosos também estavam no dito grupo. Dentre eles, Choi Jong Hoon (então membro do FTISLAND) e Seungri (na época parte do BIGBANG). Com o tempo, as investigações do caso envolvendo molka atingiu outros patamares e revelou crimes ainda piores praticados por alguns de seus acusados.

Jung e Choi foram acusados de estupro coletivo por uma vítima que só descobriu o crime após entrar em contato com as autoridades que investigavam o caso. No chat, haviam relatos dos acusados narrando o que ocorreu no dia além de registros do ato violento. Já Seungri viu seu Burning Sun virar alvo de uma investigação que acabaram descobrindo esquemas de prostituição e crimes financeiros. O nome do clube acabou dando nome ao caso.

Apesar da demora, a nova exposição do caso fez com que muitas mulheres criassem coragem de denunciar crimes envolvendo os famosos e até mesmo se colocassem à disposição para ajudar nas investigações. Um destes nomes foi o de Goo Hara, cantora integrante do KARA, que entrou em contato com Kang para ajudar no caso.

A cantora tirou a própria vida em novembro de 2019 e também havia sido vítima de pornografia de vingança. Em 2022, a justiça sul-coreana resolveu responsabilizar Choi Jong Bum, ex-namorado de Goo, pela morte da cantora e condena-lo a pagar uma indenização de de 78 milhões de wones (mais de R$ 290 mil) aos seus familiares.

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Assim como Park, Kang também esperava sua filha na época que o escândalo estourou na mídia: “Eu estava grávida na época, certo. Então me chamaram de ‘femi-puta’, ‘grávida femi-puta’, ‘femi-puta de esquerda’. Era a primeira vez em cinco anos de casamento que eu consegui engravidar, então eu estava com muito medo de que algo pudesse acontecer com o bebê. Meu coração estava extremamente solitário e cansado“.

Apesar dos ataques ainda ressoarem cinco anos após o caso, Kang espera que seus esforços sirvam como um alerta de como o sexo e poder na indústria do k-pop podem corromper: “Jogamos uma pedrinha em um lago enorme… Ele já se acalmou, mas espero que ainda esteja lá nas memórias das pessoas para que, se algo assim ocorrer de novo, possamos agir muito mais rápido“.

Os principais nomes envolvidos no caso da Burning Sun já foram libertados após cumprirem suas penas.

Um policial que havia sido acusado de proteger os membros do chat foi inocentado e sequer chegou a cumprir pena pelo caso.

O documentário da BBC pode ser assistido na íntegra pelo YouTube. Confira:

Fonte: (1)
Imagens: Reuters, Insight, Korea JoongAng Daily, reprodução via Instagram e BBC
Não retirar sem os devidos créditos.

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